A decisão sobre Chipre marcou o dia em que a Europa regressou ao século XIX.
De facto, já pouco ou nada distingue a actual situação na União Europeia daquela que Bismarck, a propósito da crise austro-prussiana, caracterizou do seguinte modo: “Austria was no more in the wrong in opposing our claims than we were in making them¹.”
A Europa está, novamente, a ser confrontada com a escolha fatal entre a necessidade de acomodar as ‘obsessões alemãs’ ou a indignidade de se sujeitar à ‘agressão alemã’. O que está em curso é a imposição de um novo Zollverein cujas consequências serão tão ou mais funestas que as anteriores.
Não espanta, por isso, que aquele que é, talvez, o último representante no Conselho Europeu do espírito fundador da União Europeia, tenha afirmado que os velhos demónios da Europa andam de novo à solta. E o que sabemos, é que uma vez à solta, não será fácil encerrá-los de novo, tal a predominância do espírito conformista e apaziguador da actual elite governativa europeia.
Com a soberba, que só a ignorância histórica ou a cegueira ideológica permitem, o directório europeu repete, passados mais de dois mil anos, o comportamento da delegação ateniense na pequena ilha de Melos: nós os grandes e poderosos não temos outra opção senão impedir a vossa ‘neutralidade’, mas vós, que sois pequenos e fracos, tendes a liberdade de escolher entre a submissão e a destruição.
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¹ A.J.P. Taylor, The Origins of the Second World War, p.4
2 comentários :
Bom artigo! Só espero, para bem de todos nós, que não seja premonitório!
A obsessão descontextualizada e irracional com a História europeia recente é o primeiro passo para não se compreender de todo o que está a acontecer.
Ao contrário da Política, na História nem tudo o que parece é.
O mal da Europa não é a Alemanha em si, mas o pensamento único ultra-liberal e monetarista, que tem longa tradição britânica e forte descendência norte-americana.
E a apatia francesa no meio disto tudo também não contribui para melhorar seja o que for.
Durão Barroso, acho que hoje já podes, finalmente, limpar as mãos à parede.
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