terça-feira, abril 16, 2013

Gaspar e os sucessivos fiascos do Excel


• Manuel Caldeira Cabral, O paradoxo de os custos unitários descerem e as exportações abrandarem:
    ‘A convicção de que os problemas de competitividade da economia portuguesa assentavam principalmente nos custos salariais levou o actual Governo a definir uma política de competitividade baseada na redução dos salários.

    Esta política de competitividade seria paralela e coerente com a de austeridade. A redução da procura interna contribuiria para aumentar o desemprego, reduzindo a procura de trabalho. O desequilíbrio no mercado de trabalho resultaria numa redução dos salários e dos custos unitários de trabalho, que contribuiria para reforçar a competitividade permitindo às empresas exportar mais conquistando quota no mercado internacional.

    A política de austeridade só por si garantia a retoma da competitividade.

    A realidade acompanhou a teoria, a redução da procura interna foi acompanhada pelo aumento do desemprego e pela descida dos salários, mostrando bastante ajustamento no mercado laborai. Os custos unitários de trabalho desceram muito, em particular ao longo de 2012 - ver gráfico.

    No entanto, o passo seguinte não se concretizou. A redução dos custos unitários não foi acompanhada pelo aumento da taxa de crescimento das exportações. Pelo contrário, ao mesmo tempo que os custos unitários de trabalho portugueses se reduziam fortemente face aos dos países da UE, a taxa de crescimento das exportações portuguesas foi abrandando.

    Parte do abrandamento do crescimento das exportações pode ser atribuído à crise europeia. No entanto, desde 2005 até ao primeiro semestre de 2012 as exportações portuguesas cresceram a um ritmo superior ao registado nos restantes países da UE15. Actualmente as exportações portuguesas estão a crescer menos do que as dos nossos parceiros comunitários. Esperava-se que a baixa de custos permitisse a Portugal manter um diferencial positivo de crescimento. Verifica-se o contrário.

    Por outro lado, é importante notar que as exportações portuguesas não estão a abrandar apenas para o mercado europeu. Em Fevereiro as exportações de bens caíram tanto para a UE, como para os mercados extracomunitários. Nos últimos seis meses as exportações de bens para os mercados extra-UE cresceram 6% face ao período homólogo. Seis meses antes estavam a crescer mais de 20% e há um ano apresentavam um crescimento de quase 30%. O forte abrandamento nas exportações extracomunitárias não pode ser explicado pela crise europeia.

    O que a realidade está a demonstrar é que a ideia de que a austeridade, ao reduzir os salários, resultaria de imediato em aumento da competitividade e em crescimento das exportações, não está a acontecer.

    É preciso que as finanças tenham a humildade de reconhecer que a realidade não está a seguir o quadro teórico em que assenta a sua política de competitividade e retoma do crescimento. As exportações portuguesas cresceram mais em 2006 e 2007 ou 2010 e 2011, em que os custos unitários de trabalho não tiveram uma evolução muito diferente da dos países da UE, do que em 2012 e 2013, apesar do afundar dos custos unitários de trabalho em Portugal.’

1 comentário :

Anónimo disse...

uma hipóteses poderá ter a vêr com o estrangulamento do crédito na economia portuguesa que afecta não só as empresas que trabalham no mercado interno como as que exportam : falta de crédito a juros razoaveis para suprir falhas de caixa e comprar matérias primas resulta na incapacidade das empresas exportadoras produzirem de facto para exportar, em ultima análise resulta na sua falencia.
Até aqui estas bestas conseguiram destruir o trabalho que vinha sendo feito para trás...