sexta-feira, junho 14, 2013

Uma parte dele está ainda, num sentido muito físico, entre nós


    O passado mora ao lado. Há dias, estive a almoçar num restaurante a três metros do pianista Sequeira Costa.

    Ouvi dizer que o Salieri foi professor do Beethoven, do Schubert e ainda, sendo ele já muito velho, de um menino chamado Franz Lizst. Por sua vez, o Lizst foi professor do Viana da Motta, que foi professor do Sequeira e Costa.

    Quer dizer: apenas uma pessoa separava aquele homem que estava ali ao meu lado de Lizst; apenas duas de Beethoven e de Schubert; apenas três de Mozart.

    Impressionamo-nos quando alguém nosso conhecido conviveu ou convive digamos, com o Papa ou com Mick Jagger. Raramente transferimos este raciocínio de raiz espacial para a dimensão temporal que, no entanto, é bem mais digna de maravilha.

    Tal como, contemplando os céus, somos contemporâneos de estrelas extintas há milhões de anos, olhando certos homens podemos pressentir nos seus gestos, olhares e pensamentos a sombra de outros homens há muito desaparecidos que daríamos tudo para ter conhecido. E, afinal, uma parte deles está ainda, num sentido muito físico, entre nós.’

8 comentários :

Anónimo disse...

tanto ordinário vivo!
porque é que só morre quem é bom e faz falta, porquê?

Maria Teresa disse...

Texto lindíssimo!

JTL disse...

Lia-o sempre. Aprendi com ele. Faz-nos falta.

Ana Matos Pires disse...

A Inês leu tão bem este texto. Um beijo

Anónimo disse...

Vão hibernar outra vez?

Pipoca disse...

@Anónimo05:35: Canalhas como tu teriam que nascer 50.000 vezes para chegar aos calcanhares do sublime JPC.

PC disse...

Perdeu-se um grande homem e um grande pensador. Que tristeza.

Anónimo disse...

"Five Antonio Salieris won't produce Mozart's Requiem. Ever. Not if they work for 100 years.
"

http://www.joelonsoftware.com/articles/HighNotes.html