- ‘O passado mora ao lado. Há dias, estive a almoçar num restaurante a três metros do pianista Sequeira Costa.
Ouvi dizer que o Salieri foi professor do Beethoven, do Schubert e ainda, sendo ele já muito velho, de um menino chamado Franz Lizst. Por sua vez, o Lizst foi professor do Viana da Motta, que foi professor do Sequeira e Costa.
Quer dizer: apenas uma pessoa separava aquele homem que estava ali ao meu lado de Lizst; apenas duas de Beethoven e de Schubert; apenas três de Mozart.
Impressionamo-nos quando alguém nosso conhecido conviveu ou convive digamos, com o Papa ou com Mick Jagger. Raramente transferimos este raciocínio de raiz espacial para a dimensão temporal que, no entanto, é bem mais digna de maravilha.
Tal como, contemplando os céus, somos contemporâneos de estrelas extintas há milhões de anos, olhando certos homens podemos pressentir nos seus gestos, olhares e pensamentos a sombra de outros homens há muito desaparecidos que daríamos tudo para ter conhecido. E, afinal, uma parte deles está ainda, num sentido muito físico, entre nós.’
- João Pinto e Castro, em 25 de Junho de 2003
8 comentários :
tanto ordinário vivo!
porque é que só morre quem é bom e faz falta, porquê?
Texto lindíssimo!
Lia-o sempre. Aprendi com ele. Faz-nos falta.
A Inês leu tão bem este texto. Um beijo
Vão hibernar outra vez?
@Anónimo05:35: Canalhas como tu teriam que nascer 50.000 vezes para chegar aos calcanhares do sublime JPC.
Perdeu-se um grande homem e um grande pensador. Que tristeza.
"Five Antonio Salieris won't produce Mozart's Requiem. Ever. Not if they work for 100 years.
"
http://www.joelonsoftware.com/articles/HighNotes.html
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