quinta-feira, maio 01, 2014

Cavaco, a pedagogia da simulação

• Manuel Loff, Cavaco, a pedagogia da simulação:
    «(…) Cavaco lembrou-nos [na sessão oficial sobre o 40.º aniversário do 25 de Abril] que “no percurso pessoal de cada um, existirão certamente outros dias que são lembrados com especial emoção. Mas nenhum outro evoca a nossa memória coletiva como o dia 25 de abril de 1974.” A sua “especial emoção” terá sido a da democracia, da liberdade e da paz conquistadas, a do “dia inicial inteiro e limpo” de Sophia? Teria esperado Cavaco pela mesma “madrugada” por que esperara Sophia e aqueles que lutaram contra a ditadura? É estranho porque, revistos anos de discursos e a sua Autobiografia política de 2002, Cavaco falou sempre do “pós-25 de Abril” como “desordem política, económica e social e ausência de autoridade do Estado”, de “domínio comunista” (discurso de 20.10.1989). “Ao ouvir na TV as declarações de alguns membros do Governo, do Conselho da Revolução (…), voltava-me para a minha mulher e dizia: 'Esta gente não está boa da cabeça, parece um país de loucos'” (Autobiografia política, vol. 1, pp. 38 e 41). É isto que sempre lhe ouvimos. Coerente com o homem de quem, antes do 25 de Abril, aos seus quase 35 anos, só se lhe conhece a declaração à PIDE, de 1967, de, como era de esperar e era legítimo, “não exercer qualquer atividade política”, mas que se considerava “integrado dentro do atual regime político”.

    Ao fazer uma retrospetiva destas quatro décadas”, Cavaco conclui “que só nos aproximámos dos ideais de abril quando soubemos unir-nos nas opções essenciais.” Por exemplo, “quando conseguimos aprovar uma Constituição que é a matriz fundadora do nosso regime democrático e do Estado social de direito.” A mesma Constituição votada pelo PPD mas da qual Cavaco dizia que sujeitava Portugal a uma “tutela coletivista imposta pelo golpe comunista e socialista do 11 de Março” (discurso de 19.5.1990), que pretenderia, dizia ele, a “perpetuação de uma orientação marxista e socializante para a sociedade portuguesa” e fora aprovada num “processo não respeitou a dignidade de Portugal nem os nossos mais legítimos interesses” (artigo de Cavaco no JN, 25.4.1994)? Aquela cujas regras, de que fala Cavaco, não são cumpridas pelo atual governo, chumbadas que são, uma após outra, várias das reformas troiko-austeritárias, pedaços inteiros de Orçamentos de Estado? É que Cavaco nem por isso cumpre a própria Constituição e demite tal governo; que me lembre, no verão passado deixou até que ele se recauchutasse depois de ter caído com o estrondo da demissão “irrevogável” de Portas... (…)»

5 comentários :

Anónimo disse...

Coucou.

arebelo disse...

O "cromo"fala como se em cada um de nós não houvesse uma memória bem assente do ele foi e declarou ao longo dos tempos.Como raio é que ele explicaria a um jornalista não robotizado as muitas sondagens que o apontam como o pior presidente da história da democracia e muito possivelmente para além dela?

ethnicallyspeaking disse...

Cavaco conseguiu o impensável: desprestigiar o órgão Presidência da República.

Anónimo disse...

Cavaco conseguiu o impensável: desprestigiar a ultima instituição em que os portugueses confiavam - a Presidência República.

OLimpico disse...


Depois do que se conhece de Cavaco, não restam dúvidas, que entre MARCELO CAETANO e CAVACO, há uma diferença fundamental
Marcelo Caetano, teve a "coragem" de se afirmar contra a democracia.
Cavaco ficou no meio da ponte...Odeia quem nos ofereceu a democracia. Mas "passeia" a democracia....Vai ter uma vida penosa, depois de abandonar a "ponte"...