segunda-feira, junho 30, 2014

A estratégia do homem-bomba

• António Correia de Campos, Honradez:
    «Chapelada electrónica. (…) O positivo está a ser a lenta definição dos comentadores e fazedores de opinião: começa a ser claro que a direita convencional está com Seguro, por recear Costa e o terreiro que a sua popularidade pode varrer. Clarinho, clarinho, será sempre melhor.

    A situação é muito clara: uma forte maioria sociológica aspira por Costa, dentro e fora do partido. A máquina, minuciosamente planeada durante anos pelas últimas bancadas de São Bento, matematicamente produz decisões que espelham a proporcionalidade da divisão orgânica. Os estatutos, alterados em comissões nacionais complacentes ou distraídas, blindaram as lideranças. Órgãos jurisdicionais internos escudam-se na imprevisão estatutária. Com a segurança de quem tutela a sua maioria, obediente pelo pavor do que receia perder com a mudança, surge a proposta de eleição para um cargo inexistente, com o engodo da retirada em caso de derrota, tal como fez Cavaco a Seguro, quando lhe acenou com eleições antecipadas. Tempera-se com o sal de uma demagógica redução do números de deputados para a populaça aplaudir e argumenta-se com a suposta similitude com eleições primárias abertas a todos para escolha de líderes socialistas na França e Itália, como se do mesmo contexto se tratasse. Preparado o empadão, serve-se frio ou requentado, com quase quatro meses de espera.

    Tal como aqui afirmámos há semanas, as coisas estão feias no PS e vão ficar ainda pior. À saída da Comissão Nacional de Ermesinde duas valorosas militantes (ou simpatizantes), vestidas com a camisola da selecção, assediaram Costa e apoiantes. O ambiente carnavalesco registado pelas câmaras tem efeito demolidor na política, juntando todos no mesmo saco, abrindo espaço ao populismo justicialista.

    Quando aqui se apontava o eventual risco de chapelada, mal sabíamos como ela agora se apresenta, no século vinte e um. Não já com votos numerosos dentro do chapéu dos cabos eleitorais, mas com o sofisticado processo de recurso a redes corporativas. Agora foram farmacêuticos que conclamaram na rede respectiva o apoio a Seguro. Uma das conclamantes, dirigente nacional do PS. Pior ainda: citada a pronunciar-se a presidente do Partido e um dos secretários nacionais lavaram as mãos como Pilatos, com o argumento de se tratar de uma posição individual. (Agora se percebe o verdadeiro sentido de algumas escolhas para candidatos municipais). Amanhã serão associados de agremiações apolíticas a congregarem à participação grátis numa singular escolha de governo. Pouco faltará para vermos um futuro canal por cabo a recomendar o mesmo. Mais tarde serão homens de mão de partidos agnósticos a Costa a colaborarem, inscrevendo-se graciosamente para eleger um “candidato a primeiro-ministro”. Recusa-se o que possa aumentar as garantias de independência do processo, retirando ao contraditório a possibilidade de arguir a prática de actos malévolos e quem tem a autoridade interna não verbera estes procedimentos.»

9 comentários :

Ricardo Pinto disse...

Tinha acabado de ler este texto no Público e pensei que, seguramente, o Miguel Abrantes iria partilhá-lo. Correi de Campos sem papas a língua. É assim que tem que ser.

Anónimo disse...

Eu também não tenho papas na língua.
Haja o que houver, aconteça o que acontecer, nunca mais voto no JOTA TÓZERO!
Nem mesmo tapando-lhe o rosto, como fez o "democrata" Cunhal.

Lince Vigilante disse...

Ainda ontem, no "Eixo do Mal" repunham em cena o fatal momento de um debate entre Seguro e Assis, quando este propunha ao primeiro a realização de primárias no PS. E Seguro, abespinhado, eriçado, escandalizado, a ripostar ao outro que não, podia lá ser tal aberração: abrir a possibilidade de que viessem votar sujeitos do PCP, do PSD, etc. etc., isso é que nunca, jamais,em tempo algum!... Agora, porém, mudou, já admite, defende e impõe as tais primárias abertas que antes eram um perigo. (Porque será, meus irmãos, porque será?) Este comportamento, antes de ser o de um pré-golpista (recordem-se do mail da outra...), é o de um sujeito sem carácter e o de um genuíno bandalho. Eu, como muitos que conheço, tenho a decisão tomada: após mais de três décadas a votar PS (como nas últimas europeias) jamais voltarei a essa opção enquanto este fulano se mantiver onde está (e não tenho dúvidas de que só poderá manter-se onde está se conseguir concretizar a golpada em preparação).

Anónimo disse...

O comentário claro e directo de um Grande Senhor, com ideias próprias e pensamento estruturado, com provas dadas ao serviço do país e do bem estar dos portugueses.

Anónimo disse...

LAPIDAR: "Com a segurança de quem tutela a sua maioria ... surge a proposta de eleição para um cargo inexistente, com o engodo da retirada em caso de derrota, tal como fez Cavaco a Seguro, quando lhe acenou com eleições antecipadas.
Tempera-se com o sal de uma demagógica redução do números de deputados para a populaça aplaudir e argumenta-se com a suposta similitude com eleições primárias abertas a todos para escolha de líderes socialistas na França e Itália, como se do mesmo contexto se tratasse.
Preparado o empadão, serve-se frio ou requentado, com quase quatro meses de espera". LAPIDAR!

Prenha de Futuro (25 semanas) disse...



Isto não pode ser a realidade do PS, mas um autêntico PESADELO!


Afinal, o PS já não pode ser destruído por dentro, porque o PS JÁ NEM SEQUER EXISTE, pelo menos tal como nós todos o conhecemos até 2011: democrático, republicano, responsável e patriótico!

Mas, para grandes males, GRANDES REMÉDIOS: os seguristas que fiquem lá com a marca registada, que lhes faça muito bom proveito, que os VERDADEIROS SOCIALISTAS hão-de encontrar maneira de ressuscitar o PS dos seus Fundadores!

Por mim, estou finalmente disposto a, pela primeira vez na vida, me filiar nesse futuro Partido Democrático de Esquerda, Republicano e Socialista (qualquer que seja o seu nome).

Deixemos morrer o organismo doente, para que reviva o rebento são.

Anónimo disse...

Maria de Belém a promessa do Inseguro para...Belém e A. Martins o ungido, provável, para presidente da A.R. O problema é q entre o sonho e a realidade vai a distância do impossivel com este Secretario Geral. Alem do mais, apareceu a pedra no caminho que veio estragar o arranjinho todo. Até o Neto dos penicos já delira com o sonho adiado de um dia ocupar uma cadeira no governo. O Assis, só aguarda momento oportuno para se associar ao Costa...Até lá o rapazola, imberbe e divertido, vai sonhando alto, n se contendo em contar em público os dislates ad hominem e insultos contra o seu adversario politico. Leal e sério, Antonio Costa, abstem-se e bem de entrar na mesma onda. A diferença entre os dois, para além do mais (que é tudo) começa aqui.

Anónimo disse...

Não vamos meter todos no mesmo saco! Só se for para armar confusão! As nuances são muito importante e os currículos também. Maria de Belém Roseira, com os seus sorrisos e punhos de renda, é uma Senhora cheia de boas intenções que parece muito mais ingénua do que é.Uma politica de princípios, com alguma substancia, como profissão e obra feita toda a vida.
Já Alberto Martins, considero-o um burocrata de aparelho e um rolha. Apenas viveu à sombra da bananeira partidária. Uma osga.
E Assis? Apesar de demasiado gelatinoso para o meu gosto, é um politico honesto, experiente, culto e com ideias próprias e correctas.Só que tem o problema de ter ficado sentado entre duas cadeiras, tendo optado por apagar a luz própria em nome de ganhar um lugarzinho no PE pela mão de Seguro. Só com alguns números circenses voltará a pista certa. Mas esta mortinho por voltar.

Depois podíamos falar do artista Zorrinho, ai, ai, ainda por cima um alentejano... Mas hoje não tenho mais tempo...

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...

Maria de Belém "parece muito mais ingénua do que é" - concordo.

E mesmo uma "política de princípios, com alguma substância, com profissão e obra feita toda a vida" pode, de um momento para o outro, borrar a pintura toda de forma IRREVOGÁVEL!

Se é que não a andou a borrar muito discretamente nos últimos vinte ou trinta anos...

Quantas e quantas vezes não aconteceu já isso desde que o Mundo é Mundo?