segunda-feira, julho 14, 2014

«Estar prisioneiro de um dogma económico
que bloqueia todas as verdadeiras soluções»

• João Galamba, A dogmática do Eurogrupo:
    «(…) a Áustria e a Alemanha, os dois países com as taxas de desemprego mais baixas da zona euro (cerca de 5% face a uma média de 12%), precisam de reformas urgentes; mas a Grécia, que tem uma taxa de desemprego de 27%, o Chipre, que tem 15%, e a Eslováquia, que tem 14%, não têm de fazer nada. Basta isto para se perceber que, mais do que uma solução para um problema, a agenda do Eurogrupo é puramente doutrinária.

    A possibilidade da austeridade ser um obstáculo à criação de emprego e ao crescimento económico nem sequer é admitida. No actual consenso europeu, o volume de austeridade é irrelevante para as discussões em torno do crescimento e do emprego, pois estes são entendidos como dependendo exclusivamente da concretização das famosas reformas estruturais. É isso que explica que o Eurogrupo recomende que a redução da carga fiscal sobre o emprego seja compensada com cortes na despesa ou aumento de outros impostos. Não se trata de reduzir a austeridade. O objectivo é, dentro do quadro austeritário actual, tentar criar emprego e crescimento económico baixando custos.

    Como o volume de austeridade se mantém, a procura manter-se-á estagnada. A tese do Eurogrupo é a de que a oferta, liberta de alguns custos fiscais, gere, por si só, dinamismo económico. E isto aconteceria por duas vias: os trabalhadores tinham incentivos a trabalhar mais, as empresas tinham incentivos a contratar e a investir mais. Que os estudos (empíricos) mostrem que os trabalhadores não trabalham mais porque não há emprego e que os empresários não contratam mais porque não tem expectativas de vendas que o justifique são pormenores que têm de ser ignorados.

    Obcecado com uma ideia de competitividade que elege como prioridade absoluta a redução dos custos, o Eurogrupo parece incapaz de perceber que não podemos resolver nenhum dos problemas macroeconómicos da zona euro por essa via. O desemprego e a estagnação económica são problemas graves. Mais grave, contudo, é estar prisioneiro de um dogma económico que bloqueia todas as verdadeiras soluções.»

2 comentários :

Rosa disse...



Portugal sempre do lado errado...o seu governo, entenda-se...

Anónimo disse...

O ar descarado desta traidora mete impressão. No entanto, a experiência histórica ensina que gado deste jaez é o primeiro a fugir borrado de medo. O tempo dirá.