sexta-feira, outubro 10, 2014

Golden share


1. Ainda na oposição, Passos Coelho & Miguel Relvas insurgiram-se contra a circunstância de o Governo de José Sócrates se ter oposto à venda da Vivo à espanhola Telefónica, utilizando para o efeito a golden share detida pelo Estado. Então, Ricardo Salgado atirou-se ao Governo, disparando que, se a Telefónica quisesse, comprava a própria Portugal Telecom (PT). Belmiro de Azevedo não fez a coisa por menos: «É muito difícil haver outra oportunidade como esta para vender.» Cerca de um mês depois, a Telefónica pagava mais 400 milhões de euros do que a proposta inicial.

2. Foi uma das primeiras medidas de Passos Coelho logo que se alçou a São Bento: oferecer aos accionistas privados da PT a golden share. Não tendo havido qualquer contrapartida para o Estado, esta dádiva significou dar de mão beijada milhões de euros aos accionistas da PT. A oposição não se indignou, os media não se surpreenderam, o Ministério Público não se moveu. Os «donos disto tudo» rejubilaram. A dádiva foi atribuída ao fanatismo ideológico dos estarolas. Ninguém quis desassossegar o país.

3. Ontem na TVI 24, Manuela Ferreira Leite fez notar que a situação actual da PT poderia ter sido evitada se o Estado ainda detivesse a golden share, sabendo-se que as principais decisões estratégicas não poderiam ser tomadas sem o consentimento do Estado. Hoje, a PT vale 1,2 milhões de euros, quando, em 2007, valia 12 mil milhões de euros. Vale dez vezes menos do que em 2007 — ou menos de metade do que valia no início do ano.

4. Belmiro de Azevedo aproveitou a degradação da situação da PT para mostrar uma vez mais que não conseguiu digerir o resultado da OPA que lançou. Convém recordar que a Sonaecom pretendia «pagar o cão com o pêlo do próprio cão», designadamente através da venda de uma das redes (cobre ou cabo) da PT e da própria Vivo¹.

Agora, só resta satisfazer o pedido ontem feito por Belmiro de Azevedo aos jornalistas: «A história da PT há-de ser devidamente contada, mas não é por mim, é pelos jornalistas.» Provavelmente, a história da golden share daria um best seller.

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¹ Três anos depois da OPA da Sonaecom, a Telefónica pagou pela Vivo 7,5 mil milhões. Longe dos dois mil milhões de euros pelos quais Belmiro de Azevedo disse que iria vender a Vivo.

5 comentários :

Anónimo disse...

É curioso este post, porque acabei de ouvir ( terei entendido mal ????) na entrevista do Sr. Louçã a Ana Lourenço, na SIC, dizer que o primeiro ministro (Passos Coelho entendi..) tinha razão e que a golden share da PT tinha sido acabada pelo governo socialista... Vou tentar ver/ouvir esta comentação do Louçã, mas creio que são mal entendidos a mais da minha parte...o que não é normal acontecer....

Anónimo disse...

Mas o Governo socialista utilizou a golden share para borregar o 1.º assalto da telefónica.

E só permitiu o segundo porque ficou salvaguardado o interesse estratégico no Brasil.

A desinformação de certos órgãos com as conivências do costume são algo de muito comum...infelizmente.

AAlves disse...

A Goldenshare na PT terminou um mês depois de Passos Coelho tomar posse.

José Pires disse...

Passos Coelho tomou posse a 21 de JuNho de 2011. O diploma (Decreto-Lei 90/2011) que decreta a eliminação das golden shares na PT, na EDP e na Galp foi publicado a 25 de JuLho de 2011, tendo sido aprovado a 5 de JuLho de 2011. A medida, segundo o preâmbulo do diploma, fazia parte do acordo com a Troika.

Evaristo Ferreira disse...

Curtos de vista, ensandecidos pelo ódio contra Sócrates, esta gente mostra-se incapaz de compreender a reviravolta da situação que ajudaram a criar. Esta gentalha, não admira, pois sempre cuidaram de destruir a economia para empobrecer o país, mas os outros, que ficaram pelo caminho, também não querem ver as trapalhadas que ajudaram a criar, e conduziram ao atual suicídio das nossas melhores marcas empresariais.