domingo, novembro 16, 2014

O estranho caso do homem que se dedicava a sacar fundos europeus
e acabou como (alegado) primeiro-ministro


É claro que o pantomineiro-mor já fazia das suas antes de ser (alegado) primeiro-ministro. É óbvio que a competência que demonstrou antes de se alçar a São Bento ajuda a traçar um retrato mais rigoroso da personagem. Contudo, se nos cingirmos a olhar isoladamente para cada uma das peripécias em que se envolveu, podemos ver muitas árvores e não ver a floresta.

Vem isto a propósito de uma peça na edição de sexta-feira do Público¹. Pode-se discutir a incompetência do estarola. Pode-se discutir se foi remunerado pelos serviços que prestou à ONG fantasma (matéria sobre a qual o alegado primeiro-ministro se esquivou delicadamente a esclarecer). Pode-se discutir em que termos se processou a sua colaboração com a ONG fantasma, sendo deputado em regime de exclusividade. Pode-se discutir tudo isto e muito mais.

Em todo o caso, cada uma destas discussões só faz sentido se, a priori, se discutir a questão nuclear: pode um tipo, cuja única actividade durante anos foi arranjar artimanhas para sacar fundos europeus, ser primeiro-ministro?

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¹ Infere-se da peça do Público que a passagem de Passos Coelho pela ONG fantasma foi um rotundo fracasso. Tendo a ONG fantasma «em carteira cinco projectos com um valor superior a 12 milhões de euros», conclui o Público:
    ««As acções programadas pelo CPPC [Centro Português para a Cooperação] saldaram-se por quase nada. Das cinco para as quais procurava financiamento no início de 1998, apenas uma, para formar costureiras em Oeiras, foi por diante».

Comparando com o que a Tecnoforma fazia antes, o investimento em Passos Coelho apresentou, de facto, um retorno modesto: «A Tecnoforma obteve, entre 1993 e 1996, antes de criar o CPPC, subsídios no valor de 62.980 contos (314 mil euros), quase três vezes mais do que os 137.500 angariados pelo CPPC para Oeiras».

É certo que, em sua defesa, Passos Coelho poderá argumentar que, depois, foi muito mais competente. Quando ingressou na Tecnoforma, obteve milhões de euros a dar formação a funcionários municipais para aeródromos desertos. Mas poderá contra-argumentar-se que aí a estrela que brilhou não foi Passos Coelho, mas um tal Miguel Relvas, que, enquanto governante, fazia a distribuição dos fundos europeus.

3 comentários :

Anónimo disse...

Pode!
Se houver ma maioria de cretinos que votem nele.
E houve, agora espera-se que já não haja.

praianorte disse...

Quem diria:
Plagiando Jerónimo de Sousa :- os Vistos Gold são uma forma de branqueamento de capitais. Ate aqui tudo certo, só se esqueceu de referir que quem beneficiou está a contas com a justiça e são originários de um País comunista (??)..., pensava eu...que nesses regimes não existissem capitalistas... com malas cheias de notas de dólares. Não disse que para haver capitalistas chineses tem que existir muitos milhões de chineses explorados. Há grande camarada....

Anónimo disse...

Muito sinceramente - já me custa escrever/falar de inúteis - não acrescento nada ao Panorama - essa é que é essa.

No dia do "arrebenta", o PR foi para o Norte falar de sapatos pela 5ª vez que me lembro - é sintomático ver como o País se encontra - do rapazola nem sombras - a não ser que foi para o "jardim da celeste".

Eu sei, que hoje, não se fala de outra coisa através do euronews - sinto vergonha

Zé da Adega