quarta-feira, dezembro 17, 2014

"Se não eu, quem?"

• Rui Tavares, "Se não eu, quem?":
    «(…) Há 500 milhões de cidadãos na União Europeia, e mais ainda no resto do mundo, que têm razões para estar gratos a Antoine Deltour. Com um só ato, pacífico e ordeiro, ele pôs o dedo na maior das contradições da economia atual. Essa contradição exprime-se em três frases. A nossa sociedade está a ficar mais rica. Nós estamos a ficar mais pobres. E há quem ache que isto é normal.

    Todos os dias nos dizem que teremos de nos desabituar de uma sociedade de bem-estar, igualitária e com um nível substancial de provisões e proteções públicas. A razão para isso, dizem, é que já não há dinheiro. Os documentos de Deltour relembram que há, sim, muito dinheiro. Ao contrário das pequenas e médias empresas que fecham as portas por não conseguir fazer face a uma economia em contração, as multinacionais que se escapam aos impostos são as companhias que mais sucesso têm no mundo, mesmo em crise. Algumas delas, recentes e de base tecnológica, ultrapassaram em capitalização as grandes empresas do passado, como as petrolíferas ou as grandes construtoras de automóveis. Comparativamente, são empresas que empregam muito pouca gente, e que portanto contribuem pouco para os sistemas de segurança social. E não têm, é claro, um problema de dinheiro a menos. Fogem aos impostos porque as outras também o fazem, e aí está também a razão para que se resolva tudo de uma vez — pelo menos ao nível europeu, como tem sido proposto aqui.

    Isso só acontecerá, contudo, se os 500 milhões de cidadãos europeus o exigirem aos seus governos. Antoine Deltour foi apenas um indivíduo que disse “se não eu, quem?”. Chegou a altura de todos nos fazermos a mesma pergunta.»

5 comentários :

Anónimo disse...

Acabo de ouvir a intervenção de ACosta no jantar de deputados. Ouvia-a no contexto de uma peça televisiva que começa por afirmar que AC fez a "apologia do bloco-central". E a conclusão só pode ser uma: o jornalismo que se faz em Portugal vendeu-se a uma agenda qualquer e perdeu completamente a noção de ética e de serviço público.

JRodrigues

soudocontra disse...

Aí está. Ainda haverá quem acredite nos esbirros que nos (des)governam, actualmente, às ordens desta monstruosa máquina capitalista, que explora criminosamente QUASE todo o planeta?

Antoine Deltour, francês, 28 anos, na foto, como Edward Snowden ou Bradley Manning, são, para mim, os heróis anti-capitalistas deste século, porque tiveram a coragem de desmascarar os crimes cometidos, às escondidas, por criminosos à frente de instituições, que deveriam servir para melhorar as condições de vida dos povos quando fazem o contrário, põem os povos aos pés dos grandes ricaços/criminosos que deviam estar na prisão, no mínimo!
MCTorres
P.S.: Concordo em absoluto com o anterior comentário do J. Rodrigues!

Anónimo disse...

O JRodrigues esqueceu foi de sublinhar que a RTP 1 também alinhou nessa interpretação. Logo a seguir disse que AC entretanto tinha desmentido, mas nem por isso se inibiu de dar relevo a uma noticia manifestamente falsa.
Ou seja, quem de certeza não está contribuir para melhorar a saúde da nossa Républica é a Comunicação Social. Mesmo a pública.

Anónimo disse...

É só descobrir a quem aproveita o crime e temos logo o criminoso desmascarado...

Mas, os dólares têm muita fooooorçaaaa !

Pedro Carrilho disse...

O quinta da coelha que foi trocando de vivenda abarracada até ter uma de luxo, pede agora mais prosperidade, mas só um pouco de mais...é triste vermos que uma pessoa que se alimenta há décadas do erário público, e que foi um dos arautos do desaproveitamento que se fez dos dinheiros comunitários, contribua agora, de forma indelével, para o empobrecimento dos portugueses através da manutenção deste (des)governo que está ligado à maquina e que quer mais um ano de venda do país ao desbarato aos chineses, angolanos, americanos, franceses, isto sim fará de Portugal um protetorado estrangeiro, e tudo graças a esta corja de políticos que são corruptos e ainda se autointitulam de honestos!!!