segunda-feira, junho 29, 2015

«O Governo vive sob um efeito de doping»


• António Correia de Campos, O doping:
    «O Governo vive sob um efeito de doping. Cada décima da economia é vista como o disparar do crescimento. A redução da despesa em subsídio de desemprego, apresentada como um sinal de crescimento, é afinal devida ao termo do período de garantia de desempregados com direito a subsídio, bem como à redução progressiva da remuneração média à qual os subsídios estão indexados.

    O investimento aumenta pela compra de viaturas importadas, mas não se diz que são essencialmente automóveis, em vez de viaturas pesadas. Outra história é a do investimento em companhias off shore de uma seguradora recentemente privatizada e cujas reservas matemáticas estão agora a servir de garantia ou colateral para investimentos desconhecidos, em vez de servirem para garantir o risco dos seguros tomados por segurados nacionais.

    A compra de casas usadas aumenta visivelmente, mas não se esclarece que, em contrapartida, baixa o aforro nos bancos devido a juros tão baixos que incentivam outras colocações e aumentam o consumo, mas não de bens essenciais. A cobrança do IVA aumentou quase 8%, aguentando a despesa pública registada, mas ninguém fala das novas dívidas da Saúde (medicamentos e dispositivos médicos) que devem rondar 1,5 milhares de milhões, com tendência a subirem vertiginosamente nos meses antes e depois das eleições.

    Daqui a duas semanas, o Governo vai anunciar que IVA e IRS juntos subiram acima de 3,7%, permitindo devolver parte da sobretaxa de IRS. Como não será possível fazer entrar o dinheiro nas contas bancárias dos eleitores ainda em 2015, o Governo vai disponibilizar um simulador para que cada um veja quanto pode vir a receber. Não se paga, mas anuncia-se.

    Os membros do Governo parecem ter recebido formação recente em marketing. Qualquer ocasião serve para proclamarem a excelência da sua, deles, gestão. Mas pouco terão aprendido. Na Saúde, meses depois de o primeiro dos ministros anunciar saldo positivo, vem agora o ministro da pasta queixar-se de falta de meios, sugerindo um imposto específico. Logo obrigado a engolir o queixume.

    Depois da experiência traumática da colocação de professores no ano transato, na Educação adia-se por uma semana o início das aulas para que os previsíveis atrasos não coincidam com a fase mais aguda da campanha eleitoral. Os pais que aguentem os filhos em casa, com os avós, nos empregos ou na rua!

    Portas exibe auto-elogios e hossanas à economia, sob a forma habitual de hipérboles sincopadas. A troika, que era um respeitoso mal necessário, passou a odiosa conspiração de que nos libertámos gloriosamente. Por paradoxo, a troika aplicada aos outros, à Grécia, é um indispensável ajustamento que os relapsos gregos devem suportar em todas as reviravoltas opinativas do FMI.

    O recurso à função pública, independente e imparcial, para ajudar a escrutinar o programa do PS, (tarefa que deveria caber à Rua de São Caetano e ao Largo do Caldas) depois de escancarado o escândalo ocorrido na Justiça e na Economia, é apresentado como simples “erro” dos gabinetes.

    O salão nobre das Finanças é mobilizado para a assinatura de um contrato de promessa de compra e venda da TAP, pendente de várias apreciações e filtros.

    Ainda antes do fim do Verão será a grande cerimónia da venda do Novo Banco, possivelmente a chineses, ao mesmo tempo que se acumulam as falências no Grupo GES, de empresas consideradas viáveis se o grupo tivesse sido aguentado em vez de desmantelado. Libertos, aliviados, como se tal alívio fosse purificação, em vez de empobrecimento.

    Quando se trata de colocar um fiel servidor do primeiro-ministro, ressuscita-se a defunta representação permanente junto da UNESCO, deitando às ortigas as economias prementes que ditaram há três anos a sua fusão com a embaixada bilateral em Paris. Há que pagar fidelidades, mas pelo jeito que as coisas levam, os próprios duvidam da sua continuidade no poder. (…)»

1 comentário :

Anónimo disse...

Um desgoverno de cães e putas.