quinta-feira, setembro 08, 2005

O lóbi farmacêutico em plena laboração

Depois de ter retirado às farmácias a exclusividade de venda dos medicamentos que não exigem receita médica e, mais importante do que isso, ter liberalizado os seus preços (salvo os dos medicamentos comparticipados), o Governo voltou a olhar para o sector farmacêutico. Assim, foi publicada a Portaria n.º 618-A/2005, de 27 de Julho, que estipula a redução do preço de determinados medicamentos já a partir de 15 de Setembro.

Que está em causa? Em primeiro lugar, a redução em 6 por cento do preço dos 20 medicamentos mais vendidos no país; e, em segundo lugar, outros medicamentos, que apresentam preços provisórios, passam a estar sujeitos a descontos que podem vir a situar-se em 10 por cento.

Estima-se que estas medidas, abrangendo medicamentos que representam 14 por cento do montante comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde, possam gerar, no próximo ano, uma poupança de cerca de 19,5 milhões de euros para o Estado e de 8,9 milhões de euros para os utentes.

A Associação Nacional de Farmácias (ANF) preparou-se para esta bicada nos seus fabulosos lucros. A ANF concluiu com a Alliance UniChem uma parceria, criando a UniChem Farmacêutica. Nos termos da transacção acordada, a ANF pagou 49 milhões de euros pela sua posição de 49 por cento no negócio — sendo que dois por cento adicionais foram adquiridos pela José de Mello Participações SGPS.

Ora, antecipando a entrada em vigor da referida portaria, a UniChem Farmacêutica decidiu intensificar a produção de medicamentos e propor às farmácias que adquiram, antes de 15 de Setembro, enormes stocks, que, é bom de ver, serão escoados ao preço antigo — mais elevado.

Esta foi a solução encontrada pelo lóbi farmacêutico para adiar, em termos práticos, a entrada em vigor da Portaria n.º 618-A/2005, a qual impõe uma quebra das respectivas margens:

    a) a da indústria terá uma redução de 4,2 por cento;
    b) a da distribuição, até agora de 20 por cento, situar-se-á em 19,16 por cento;
    b) a das farmácias passará de 8 por cento para 7,45 por cento.
Moral da história: o Dr. Cordeiro, sempre preocupado com a saúde dos portugueses, decidiu abarrotar as farmácias de medicamentos, não fosse dar-se uma ruptura de stocks. Bem-haja!

7 comentários :

Anónimo disse...

Nada mais errado no que respeita aos stocks.
O que se devia começar a pensar era quem ganha com tal negocio. De facto a venda de medicamentos em supermercados só favorece estes e a ANF que tem o Know-how que vai fornecer atraves de parcerias.
Perde o publico e perdem as farmácias (as 2700) que veem as suas margens serem reduzidas e o volume de vendas diminuir.
De facto, se o governo quisesse afrontar a ANF começava por pagar directamente às farmácias a tempo e horas e não por intermádio da ANF que cobra uma boa percentagem às associadas.

Anónimo disse...

A questão das farmácias é vista, habitualmente, com base em mitos urbanos, que esquecem o fundamental do sector. É necessário ter em conta que as farmácias possuem uma das mais baixas margens de comercialização da Europa (já agora, os valores das margens das farmácias e dos grossistas estão trocados, no post). Contudo, há também que ter em conta que a actividade de distribuição de medicamentos está balizada por uma regulamentação restritiva, que as impede de publicitar, fixar preços, promover descontos ou fazer qualquer tipo de promoção por iniciativa própria.

Deste modo, tendo quase todos os factores de produção fixos, é natural que haja igualmente uma protecção de mercado, que visa assegurar a manutenção de um volume mínimo capaz de assegurar a contratação de técnicos qualificados.

Existem muitos aspectos a considerar na análise da estrutura do mercado de distribuição de medicamentos em Portugal, que não cabem neste comentário, mas sobre os quais valeria a pena reflectir.

Deixo apenas aqui uma nota em relação à maior distorção que existe no mercado farmacêutico nacional: o facto de a propriedade das farmácias estar legalmente confinada a farmacêuticos, que poderão apenas possuir um único estabelecimento. É para lá de absurdo, mas nisto ninguém pega.

Mais, não é a venda de medicamentos nos supermercados que fará baixar o seu preço, mas antes a liberalização desse preço, até agora fixo.

Peliteiro disse...

No texto e nos comentários há uma série de erros.
É possível fazer uma actualização?

Peliteiro disse...

Então os preços dos mnsrm não descem????

Vladimiro Jorge Silva disse...

Este post tem de facto vários erros: a margem dos armazenistas está trocada com a das farmácias, dizer que aquela é a margem da indústria é um abuso (alguém a conhece?), a "Unichem farmacêutica" não produz medicamentos e, por fim, estas alterações à lei levaram a enormes aumentos dos preços dos MNSRM e dos preços a pagar directamente pelos utentes no caso dos medicamentos sujeitos a receita médica. Ao contrário do que aqui se diz, neste dia o preço de alguns medicamentos subiu mais de 40%!!! Perguntem aos doentes crónicos o que é que eles acham destas medidas de Correia de Campos...

Anónimo disse...

E, do alto da varanda do palácio, disse o S.I.R. Eng.Avental, "...conseguimos..", agradecendo a todos os que o apoiaram em especial ao eng. Bem Mirou, atribuindo-lhe o título de S.I.R. das Fármácias, podedndo assim ser abrir representações em todo o reino e aumentar o seu lugar no ranking do Pasquim "Pobres".
Zorro

Anónimo disse...