“A reflexão de fim de semana leva-me a reconhecer que a minha vida tem sido uma sucessão de equívocos. Equivoquei-me em relação a várias pessoas em quem confiei e em relação a alguns dogmas, porque acreditei piamente em certezas absolutas que se revelaram um logro e que estouraram nas minhas mãos como bombas de carnaval. Em todos os casos saí magoado.
A última mágoa é talvez a mais prosaica. Quando estudei direito, nunca coloquei a hipótese de ser magistrado, ainda que o meu pai tivesse gostado que eu fosse. Mas eu achei que não estava talhado. Os meus colegas que apontavam para a magistratura eram pessoas bem comportadas, e eu era um boémio na boa tradição coimbrã. Eles iam às aulas e estudavam, eu ia pouco e estudava pouco (estudei muito depois de acabar o curso). Eles viam livros de direito apenas e eu andava já pelos jornais. Eles fugiam da política a sete pés e eu andava na agitação política. Eles namoravam muito certinho e eu praticava crimes de invasão de lugar vedado ao público (quando entrava nos lares pelas janelas). Em suma: eu sentia que não estava em estado de pureza bastante e que era um miúdo demasiado rebelde para ser o magistrado impoluto, ponderado e inatingível que preenchia o meu imaginário.
Olho para trás. E para a frente. Olho para o país descrente. Olhos todos os dias para os meus clientes descrentes, pessoas que já não olham para os magistrados como uma casta em que se pode confiar cegamente. Tento persuadi-los do engano, não porque sim, mas por convicção. Uma convicção que, dia-a-dia, se vai diluindo. Não porque tenha razão de queixa nos problemas concretos (as excepções são poucas), mas porque, indo por aí abaixo, no blog, vou lendo o que magistrados pensam de magistrados e pela forma como se assume que há promiscuidade entre o poder político e os magistrados. Não sou eu que digo. São os próprios. Pelo menos alguns. E a minha sensação de uma vida de equívocos regorgita.
Afinal, eu era suficientemente puro para ser magistrado (não estou arrependido de não ter ido por aí). Afinal, eu sou é demasiado crédulo. E um ingénuo...
(Tudo isto faz-me recordar a minha última conversa com Avelino Ferreira Torres, esse grande vulto da democracia. No outono de 2001, adversários políticos, ele disse-me uma coisa que me aterrou sobre magistrados. Não consegui esconder a revolta. Mas, afinal, ele devia saber do que falava...)”
segunda-feira, fevereiro 27, 2006
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Coutinho Ribeiro, no Incursões, fala dos seus tempos de Coimbra, explicando por que acabou por não optar pela magistratura. Transcreve-se Uma vida de equívocos:
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12 comentários :
Mais um post a atestar a obstinação.
Psicoterapia, precisa-se, urgentemente!
O Dr. Miguel Abrantes tem-nos dado muito que comentar na sua caça às bruxas contra certais ordens profissionais, em particular os juízes. Uma ausência porém tem-me incomodado desde há muito: a Ordem dos Advogados - esse organismo impoluto de profissionais probos, isentos e imparciais, que ganham uma miséria em relação ao ordenado médio português, e que nenhuma responsabilidade têm na maremoto de processos e recursos que compõem os Tribunais? A mesma Ordem cujo antigo Bastonário defendeu publicamente que o Estado deveria consultar apenas a sociedade dele quando necessitasse de consultadoria jurídica; que aceita num silência cúmplice que o escritório de um certo antigo Presidente da República quase a sair de funções tenha lucrado imenso com os seus mandatos; que aceita impassivelmente que a mudança de cor política numa certa grande autarquia do Norte coincida com uma mudança para avenças milionárias concertadas com uma sociedade Lisboeta, cujos sócios estão históricamente ligados ao partido! Porém, não esqueçamos: o advogado é um homem livre e a sua Ordem pouca ou nada tem de corporação
Só o Miguel Abrantes é que é o único suficientemente puro para ser magistrado.
Só que também não passa de um ingénuo.
Coisas incompatíveis.
Psiquiatra precisa-se para o da instrução primária.
Hoje o Abrantes fez ponte.
Até anda "a ler os outros".
Ena, tu com a instrução primária sabes ler ?
Sim, ó Abrantes, e a Ordem dos Advogados ?
Não me digas que não a atacas porque estás inscrito nela ...
Sério ?
Já suspeitava há muito disso.
Gato escondido com rabo de fora é o que dá.
Quando a discussão num blogue se centra no autor do mesmo e nada do que ele diz, é altura de ponderar para que serve um blogue.
Este, no meu entender, afunda-se num oceano de irrelevância.
Mas é divertido.
Veja lá se não andam a querer matar o mensageiro .....
E... que é que o post do Coutinho Ribeiro tem ?
Foi uma opção dele.
Eu também optei e segui para desempenhar um cargo de assessor jurídico de uma empresa e só mais tarde comecei a advogar.
O que é que uma coisa tem a ver com a outra ?
Depende do que cada um tem vocação ou vontade.
Eu nunca daria um bom juiz. É preciso muita ponderação, uma grande determinação para decidir em certos casos em que as testemunhas de um lado dizem uma coisa e as outras dizem o contrário. É das tarefas mais difíceis: decidir. Em vez do autor deste blogue andar por aqui a dizer mal, porque é que não passa umas semanitas num tribunal e vê o que lá se passa desde a manhã á noite, desde a espera das testemunhas, ao trabalho dos funcionários, ao stress dos magistrados, às inúmeras audiências de julgamento que cada um deles faz, etc. etc. ?
Ou sabe o que é um advogado ter imensos prazos para cumprir, contestações, réplicas, respostas, recursos e tudo o mais a ser feito no prazo que os códigos determinam?
Falar é fácil, fazer ... é que é difícil.
Mas sempre foi assim.
Só os ignorantes é que abrem a boca para criticar o que não sabem.
Passe bem que eu que aqui vim por curiosidade, aqui não volto mais.
Pergunta:
Porque é que o Abrantes nunca escolheu a magistratura?
Resposta:
Porque só tem a instrução primária e neste país ser magistrado exige um nível educacional e cultural superior à instrução primária.
Pergunta:
Qual a profissão adequada a quem só tem a instrução primária e arma-se em esperto ?
Resposta:
Plantar batatas.
... e meias verdades...
Ó Abrantes, vai tratar-te, pá.
É engraçado que o "Miguel" use, provavelmente sem autorização, um texto de alguém que gosta de Juizes (embora saiba que há Juizes e juizes) e, se calhar, está arrependido de não ter ido para a Magistratura...
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