O lobbying e os políticos não profissionais

Numa daquelas inconfidências que caracteriza a forma de fazer política de Santana Lopes, o ex-primeiro-ministro deixou um dia cair, numa entrevista, que António Borges batera à porta do seu gabinete para oferecer os préstimos da instituição que representa, para montar o negócio da privatização das Águas de Portugal, SA. Agora, quando o ministro do Ambiente (já tinham dado por ele?) anuncia que o negócio do milénio não terá lugar, o mesmo Borges, um dos vice-presidentes da Goldman Sachs, escreve um violento artigo em defesa da privatização da Águas de Portugal: “Águas: privatização ou caos”.

Não cabe neste post a discussão da estratégia anunciada pelo ministro do Ambiente. Nem a discussão dos problemas que envolvem a privatização deste tipo de serviços essenciais, em que os investimentos de manutenção das redes são muitas vezes protelados, como o apagão de Nova Iorque pôs em relevo — aspecto que António Borges escamoteia no artigo.

O que queremos sublinhar é que todos nós falamos nos lóbis, mas ninguém os vê. No entanto parece que eles existem. E não sabemos — não sabemos, não — se o caminho a seguir é o de entregar o país a políticos não profissionais. Por causa dos apagões.