“Gostava de ter visto os patrões do meu país a exigir uma mudança efectiva no funcionamento do mercado de trabalho. Gostava de ter visto a sua principal confederação, a CIP, reivindicar para as relações laborais a mesma flexibilidade que o Governo anda a cultivar noutros domínios.
Gostava, enfim, de ter visto gestores e empresários a dar um contributo, efectivo e não trinta-e-um-de-boca, para libertar a sociedade do Estado. Mas não. Esta reforma do regime do subsídio de desemprego não nos mostrou essa classe empresarial de vanguarda, exigente, coerente até com os princípios que prega. Ao contrário. Vimos a mesma pedinchice de sempre. Vimos o choro pelo apoio perdido (...).
A rescisão amigável é um eufemismo, uma artimanha à portuguesa, para se evitar essa decisão dolorosa que é mandar alguém embora. O acto, em si mesmo, raramente tem algo de «amigável». E «barato», menos ainda. É um eufemismo porque suaviza o acto do despedimento, porque o torna mais polido e porque há a ideia de negociação. E há, de facto, uma negociação. Mas é uma negociação perversa, porque quem vai pagar parte desse acordo nunca está presente, nem ninguém lhe perguntar o que quer que seja. A empresa finge que resolve o seu problema, quando na prática está a transferi-lo, com encargos redobrados, para o Estado. Dito de outra forma: mais impostos. (...) E, sim, é verdade, o Estado deve ser convocado para esta empreitada, mas não com o subsídio que os nossos empresários andam a lamentar. O Estado deve sempre subsidiar a pessoa que fica excluída do mercado de trabalho. E ter políticas activas de emprego que evitem que o desgraçado fique condenado à própria sorte.”
segunda-feira, abril 17, 2006
Sugestão de leitura – “os patrões do meu país”
Sérgio Figueiredo assina o editorial do Jornal de Negócios, intitulado Sociedade viciada. Eis um extracto:
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