domingo, outubro 15, 2006

Uma carreira em plano inclinado


                  A man who moralises is usually a hypocrite

                    Oscar Wilde



Saldanha Sanches não foi sempre assim. Em tempos que já lá vão, tinha graça, quando escrevia panfletos como o divertido “Martinez dixit”, em que desancava o conhecido professor de direito que se celebrizou, antes do 25 de Abril, como ministro da Saúde, por colocar crucifixos sobre todas as camas de hospital para salvar os doentes.

Como a idade nunca melhorou ninguém, o velho Saldanha começou a perder qualidades. Já o sabíamos pela sua carreira universitária, em que acabou abraçado ao seu antigo inimigo, o próprio Pedro Soares Martinez, tornando-se seu discípulo dilecto e confiando-lhe a orientação no doutoramento. Descobriu então que o inenarrável Martinez, amigo íntimo de Le Pen e de toda a extrema-direita europeia, era, afinal, um razoável democrata e um bom cientista do direito.

Depois, Saldanha especializou-se — a transparência e a corrupção converteram-se nos domínios de eleição. Nas suas intervenções públicas, deixa sempre a marca do Zorro. E nunca se esquece de defender a sua dama.

Ele e ela criaram uma nova visão da luta de classes — que, agora, se trava entre o crime económico e a magistratura. O futuro dialéctico desta história seria uma república dos magistrados, em cujo governo a Dr.ª Maria José Morgado teria forçosamente de assumir um papel de destaque.

É claro que o antigo fanatismo não desapareceu. Uma vez estalinistas, estalinistas para sempre, não é verdade? Então, o processo penal andaria de outra maneira: devassa de dados pessoais à ordem da polícia, condenações por intuição (e na praça pública), extinção do arreliador direito de recurso, escutas em rédea solta e, já agora, fim das eleições que permitem aos políticos corruptos enganar o bom povo honesto.

É evidente que qualquer grupo que se queira alçar ao poder precisa de uma ideologia. O velho Saldanha criou uma. O país seria diferente se não fosse:

    • A corrupção com origem no triângulo composto pelos autarcas, gente do futebol e construtores civis (os urbanizadores, demasiado poderosos, não são maçados); e
    • A fuga ao fisco por parte das pequenas e médias empresas (as grandes, tal como Lenine preconizava, estão com Saldanha).

Saldanha Sanches deve no entanto uma explicação aos seus leitores e seguidores: por que até hoje nunca atacou qualquer ministro das Finanças nem qualquer secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (bem pelo contrário)? E houve-os também pouco recomendáveis.

7 comentários :

Anónimo disse...

e não é que a mensagem assenta direitinha nos moralistas da praça, tipo Vital Moreira, Marinho Pinto e Miguel Abrantes.
Adoro esse teu confessionário Miguelito.

Anónimo disse...

Terá Saldanha ter ficado ressabiado por ninguém se ter lembrado da mulher e agora anda com uma pedra no sapato contra o novo PGR?

Anónimo disse...

Notável este post

Anónimo disse...

SS anda a tratar da sua vidinha como todos nós. Calhou-lhe na rifa uma profissão em que tem que fingir que é o vigilante da sociedade. Mas a noite vai para casa e tem que levar o carcanhol para as migas como todos nós.

José Ferreira Marques disse...

Há aqui qualquer coisa que não bate certo: Nem Saldanha Sanches é tão mau como o pintam, nem este blogue costuma fazer ataques pessoais.

Anónimo disse...

Como é que sabe tanto do Saldanha Sanches e de onde vem o seu ódio pessoal contra essa personagem? Este post contém demasiados pormenores e uma tentativa moralizante, de desmascarar o impostor. Quais são os seus problemas com o insigne professor?

Anónimo disse...

Nem acho que o autor saiba assim tanto do camarada SS.
De facto, o dito cujo não era marxista, nem leninista - era Maoista!!! MRPumPUm!!!
É favor corrigir esse dado, cuja importância é vital (mas não moreira...).