quarta-feira, janeiro 31, 2007

A palavra aos leitores

Uma leitora de que gosto muito, a Cleópatra, escreveu um comentário a discordar do que escrevi neste post. Diz o seguinte:

    “Oh Miguel
    A Drª Fátima Mata Mouros, "mandou" para o correio da manhã um artigo de opinião.
    Não um parecer.
    Não me parece,...que tenha pecado ou ido contra o que quer que fôsse, por, como mulher, e mãe, ter dado a sua opinião.

    Talvez por "deformação" profissional nos tivesse parecido demasiado técnica.
    Mas não é.
    O que ela diz é, ou são a final 3 coisas importantíssimas.
    Vamos lá ver:

    1º" Direi ao legislador que pouco interessa se concordo, ou não, com a despenalização do aborto praticado a pedido da mãe.

    2º Que é irrelevante a minha opinião já que a vida humana não pode ser referendada.

    3º Mas para que o direito à vida não nasça apenas às dez semanas de idade, responderei ‘não’!

    É clara.
    É a opinião dela.
    Tem direito a dá-la.
    E deu-a muito bem.

    Independentemente de ser igual ou diferente da minha, deu-a de forma clara, independente, sem medos..

    E acrescento ainda:

    Em 22 anos de exercício de funções, leio jornais, vejo Tv, vou ao cinema, leio livros, vou aos Blogs e ainda faço os acórdãos em tempo e horas, "NUNCA, julguei, ou sequer vi, um processo instaurado contra uma mãe que tivesse abortado. Nunca conheci um caso de sujeição a prisão de mulher pela prática de tal acto."

    E vão duas.

    E vão 22 anos de carreira.

    E estou a falar da minha experiência apenas.
    Não estou a responder à pergunta do referendo.”


Cara Cleópatra:

1.º Não critiquei a Juiz Fátima Mata-Mouros por ela ter exprimido uma opinião acerca da interrupção voluntária da gravidez. Critiquei-a pela opinião que exprimiu, que condiz com os pontos de vista ultraconservadores que tem vindo a defender.

2.º É menos desculpável um juiz do que outra pessoa qualquer dizer que não há nenhuma protecção de vida intra-uterina até à décima semana:

    • Em primeiro lugar, a vida não é só defendida pelo direito penal. Se assim fosse, estávamos desgraçados (podia acabar o direito à saúde, por exemplo).
    • Em segundo lugar, mesmo no direito penal, há a tutela da vida intra-uterina até à décima semana, porque o aborto não consentido continua a ser crime. Só deixará de ser punida a interrupção da gravidez com o consentimento da mulher grávida, porque se dá prevalência à sua liberdade de opção.

3.º É muito redutor dizer que a criminalização do aborto não cria nenhum problema, porque não se viu durante 20 anos nenhuma mulher ser julgada ou punida. A consequência mais nefasta da criminalização do aborto é o flagelo do aborto clandestino. E esse só o compreende quem presta assistência médica e social às pobres mulheres que o praticam.

4.º Poderíamos concluir da argumentação de Fátima Mata-Mouros que a magistrada se iria abster no referendo. Mas não é assim. Fátima Mata-Mouros comunica que irá votar “Não”. Ou seja, o seu voto contribuirá para a manutenção da actual lei. Já percebi que a magistrada não se impressiona com o flagelo do aborto clandestino, mas lembro que a actual lei permite, por exemplo, a interrupção voluntária da gravidez nos casos de indicação eugénica (ao longo das primeiras 24 semanas), que têm por motivação a imperfeição biológica do feto, ou o sacrifício do embrião ou do feto por algo que não fez (violação por parte do pai).

Não é tudo isto contraditório?

16 comentários :

Anónimo disse...

As "pobres mulheres que o praticam" vão continuar a praticar o aborto clandestino porque para além de "pobres mulheres" são mulheres pobres".
E graças à política capitalista deste governo que tira dos pobres e remediados para dar aos ricos, os impostos não servirão para aumentar e melhorar os serviços públicos, incluindo os de saúde,mas para pagar obras faraónicas e injectar dinheiro em empresas que, depois de gordas - vão ser vendidas aos patrões deste governo (TAP, PT etc...)
Vivam os abortos!!!

Anónimo disse...

O facto de a lei permitir já a prática do assassinato não justifica que a faculdade de assassinato legal seja alargada.
É preciso aliás, ter algum descaramento, ou dificuldade de raciocínio lógico, para invocar uma opção política que claramente se situa no campo de quem não respeita a vida humana, para criticar as opções de quem a respeita.
Por isso é que se impõe o "Não".
A política que tem vindo a ser seguida é a dos pequenos passos e não sabemos onde irá acabar.
Daí a necessidade de não perder de vista os princípios.
O mais importante dos quais é o respeito pela vida humana.

Anónimo disse...

Comentário de jafer- « 1.º Não critiquei a Juiz Fátima Mata-Mouros por ela ter exprimido uma opinião acerca da interrupção voluntária da gravidez. Critiquei-a pela opinião que exprimiu, que condiz com os pontos de vista ultraconservadores que tem vindo a defender».
A critica) - « Dois pareceres acolhidos pela Associação Sindical dos Juízes Portugueses causaram, há uns tempos, alguma consternação pelas posições reaccionárias aí defendidas. Refiro-me ao parecer sobre a proposta de revisão do Código de Processo Penal, subscrito entre outros pela Juiz Fátima Mata-Mouros».
O que diz a Juíza (e não juiz, como é utilizado no “Portunhês ”escrito nos doc. da justiça portuguesa, para designar uma mulher.) é isto:
«6. Artigo 103º nº 4: Estabelece-se agora um limite horário para o interrogatório judicial de 4 horas.
Trata-se de uma solução absurda e incompreensível que não tem qualquer justificação e que confunde actos de gestão processual com tutela de direitos. Há interrogatórios judiciais que necessariamente têm que demorar mais tempo. As situações concretas, relacionadas com processos mediatizados envolvendo figuras «públicas», onde se visualizaram interrogatórios de alguma maneira longos não podem condicionar a configuração de um acto essencial que na maior da parte das vezes não pode estar
condicionado em abstracto por horários de «secretaria».
Só quem preside ao interrogatório e o orienta pode tomar uma medida de interrupção dessa natureza, sempre condicionada pelo actual regime normativo que é adequado e suficiente. E quem preside ao interrogatório é o garante primeiro dos direitos fundamentais. É esse, aliás, o seu papel. Só quem nunca efectuou um interrogatório judicial
poderia propor uma solução semelhante.»
- Qual é o problema? É de compreensão ou iliteracia ? Se acreditarmos que, numa sondagem relativamente recente sobre iliteracia, Portugal estava em 24º lugar na Europa dos 25º, o problema deve ser mesmo desta última pois o maior mal não é o analfabetismo, mas o iletrismo dos dirigentes e “escrevinhadores”, digo eu!
Não compreendo como estes podem ser pontos de vista # ultra conservadores # !
Será porque o # ultra conservadorismo # desta juíza se reflecte também na sua opinião pela defesa da vida intra-uterina?

2.º « É menos desculpável um juiz do que outra pessoa qualquer, dizer que não há nenhuma protecção de vida intra-uterina até à décima semana:»
- A vida não se decreta bem assim como o seu começo e fim!
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, no seu artº 1º diz que: « todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos»
Este artº prova que os seres HUMANOS NASCEM ! O que significa que há vida intra-uterina, porém não especifica a altura em que assumem o significado de SERES HUMANOS porque em qualquer tratado de BIOLOGIA se prova á evidência que o ciclo de vida começa na fecundação com a criação de um ser que não é igual a qualquer outro que existe, existiu ou existirá ao cimo da terra e acaba na morte! Esse ser humano é irrepetível desde a sua fecundação!
-Artº 3º « Todo o ser humano tem direito á vida, à liberdade e à segurança pessoal ».
-Se os defensores do SIM, têm a certeza absoluta , corroborada com incontestáveis provas cientificas, de que não há vida até às 10 semanas, então seremos obrigados a concordar, mas se tiverem a mais pequena dúvida de que existe vida após a concepção, então o que vos pedimos É QUE SEJAM COERENTES COM O DIREITO , que tanto gostam de invocar!
- “IN DU BIO PRO REU “
Ou tal como Descartes vão dizer : “COGITO ERGO SUM “ e só serão considerados seres humanos a partir de 1 a dois anos!
E neste caso o que farão aos doentes que estão em estado vegetativo ou sem saberem ou terem capacidade de raciocinar? TAL como Hitler ou como fez um vosso antepassado russo, estes seres estarão destinados a ser mortos para aproveitamento de cabelos ou para fazer sabão?
POr agora e por impossibilidade temporal, por aqui me fico!

Anónimo disse...

Os neoconservadores fundamentalistas, querem impor as suas devoções e credos aos outros.Não é mais possivel.
Para serem respeitados, devem respeitar asa opções dos outros. Que tem hitler a ver com o referendo? A IGREJA também cometeu ao longo dos seculos milhares de crimes horrendos, não vejo nenhum dos defensores do não a fazer comparações com historia.São meras manipulações das conciências.
EU VOTO SIM.

Portas e Travessas.sa disse...

A Juíza desconhece o aborto clandestino, que tambem era protegido pelo Botas da Calçada da Estrela e para ele era facil, bastava ligar ao chefe Almeida da esquadra do caminho novo e mandava prender a curiosa da Rua dos Machadinhos - como vê Miguel - o regime mudou, a mentalidade, NÃO

Veja o caso da Esmeralda, o Tribunal Constitucional manda rever a situação - veja o caso das idemminizações em tribunal, não as actualizão, porque? porque nao sabem.

As pessoas, algumas, preferem o basfund, o escondidinho, preferem que a mulher morra apos aborto - que se pode fazer.

Anónimo disse...

OS DEFENSORES DA "VIDA" DO ABORTO NÃO QUEREM SABER DAS PESSOAS QUE RESPIRAM.

DEFENDEM A VIDA "HUMANA" DOS QUE ESTÃO PARA NASCER, MAS ESTÃO-SE BORRIFANDO NOS QUE JÁ NASCERAM...

PORRADA NELES, MIGUEL!

Anónimo disse...

É o Portunhês e o Latinoco. Duas línguas (muito)vivas.
"in dubio pro reu" - latinoco
"in dubio pro reo" - latim

Anónimo disse...

"in dubio pro reo" é tão "latinoco" como a expresão " in dubio pro reo". Mas se prefere vamos por aqui "In dubio reus est absolvendus". Bem haja!

Anónimo disse...

é óbvio que as expressões são entre " reo" e "reu"!

José Manuel Dias disse...

A vice presidente do PSD lembrou, e bem, a posião de Bill Clinton " Vamos despenalizar o aborto, para o tornar mais raro e mais seguro". Concordo! Onde é criminalizado é mais frequente. Os paises da nossa civilização não fazem. Aprendamos com os outros...
Cumps

Anónimo disse...

Isso: Dá-lhe agora com o nominativo "reus" do latim para justificar o "reu" do latinoco.
Sabes, não basta copiar, é preciso perceber.

Anónimo disse...

A umas horas tardias e com insónias forçadas permito-me discorrer um pouco sobre o tema lançado : referendo sobre a despenalização do aborto .
Já se ouviu de tudo , quer pró quer contra , mas a dúvida mantém-se. Despenaliza-se : sim ou não ?
O que é a vida ? Como se define a sua existência ? É no momento quem as células se começam a multiplicar ? Ou é no momento em que um determinado organismo é possuidor de todas as suas partes constituintes ? Será que é quando nasce ? Será no momento imediatamente anterior ?
A partir da altura em que cada pessoa decide a resposta no tópico anterior há que se colocar outra igualmente pertinente : como classificar a vida ? Sim, porque manifestamente, há vidas mais importantes que outras.
A maioria das pessoas diz que a vida humana é mais importante que a vida de um cão, ou de um gato, ou de um elefante ... e entre os ditos "seres humanos " que vida vale mais que outra? A da mãe ? A de uma criança ? A de um feto ? A de umas células ? ...
O que me parece evidente é que toda a propaganda que se faz, quer de um lado , quer do outro, é levada a extremos.

.... se a vida é tão importante de molde a meio mundo tentar impôr a sua vontade ao outro meio...porque razão é que só há publicidade em relação ao aborto ?
.....

Porque, como tudo na vida , e para quem tenha a mania de fazer comparações históricas, o circo foi montado para o povo n ter de pensar .

..... Se o seu voto for não, os abortos deixam de se fazer ? ...
...e vai-se lembrar da sua mãe ou do seu pai que abandonou no lar de 3ª idade ou na urgencia de um qq hospital para não a/o aturar ? Vai sair todos os dias mais cedo do trabalho para passar mais umas horas diárias a tomar conta do seu filho ? Vai deixar de conduzir em excesso de velocidade ou com manobras perigosas e assim evitar uns quantos atropelamentos ou acidentes de viação ? Vai passar a doar 10% do ordenado a instituições de apoio e solidariedade ? Adere ao voluntariado ?........

....se calhar vai dizer : faz o que digo mas não faças o que eu faço.

Que cada um vote como quiser... felizmente que é livre de o fazer, mas abstenha-se de impingir a sua vontade noutros.

Anónimo disse...

"abstenha-se de impingir a sua vontade aos outros".
Acho bem.
Então, cale-se.

Portas e Travessas.sa disse...

2 anos esteve o caso "esmeralda" na PGR, criando o embrolio que se conhece - contudo o ex PGR leva um "encomenda" - o que isto quer dizer? - Eu, que trabalhei para o Estado, de borla, durante 3 anos, levo um das caldas - se calhar não mereço mais, mas há quem mereça menos e leve . so falta o Sousa Cintra levar uma "dragona" na lapela"

AGLOCO disse...

Lê sobre o próximo grande BOOOM da Internet, no meu blog!

E se tiveres de acordo, associa-te.

Fica bem!

Anónimo disse...

A vida não é só defendida pelo direito penal?
Mas não o é sobretudo pelo direito penal, enquanto reduto de protecção dos valores humanos, sendo que a gravidade dos crimes se afere precisamente pelo grau de violação dos mesmos?
Oh Miguelito, não vás ao médico não.
Eu que sou pelo sim, ao ler-te estes disparates e a ligeireza com que abordas as questões - como se fosse assim um desafio de futebol - até me apetece votar não.