domingo, janeiro 28, 2007

Quando os juízes se põem a pensar

Dois pareceres acolhidos pela Associação Sindical dos Juízes Portugueses causaram, há uns tempos, alguma consternação pelas posições reaccionárias aí defendidas. Refiro-me ao parecer sobre a proposta de revisão do Código de Processo Penal, subscrito entre outros pela Juiz Fátima Mata-Mouros, e ao parecer sobre a proposta de revisão do Código Penal, de que foi co-autor o Juiz Pedro Soares de Albergaria.

Fátima Mata-Mouros foi, então, muito crítica para com algumas medidas contidas na proposta de revisão do Código de Processo Penal. Entre outras ofegantes críticas, a magistrada discordou com veemência de os interrogatórios dos arguidos passarem a ter um limite máximo de tempo. Quiçá recordada da eficácia da tortura do sono da PIDE, Fátima Mata-Mouros preferia que a lei admitisse interrogatórios ininterruptos ou tântricos.

Por seu lado, Pedro Soares de Albergaria não se conforma com a circunstância de a proposta de revisão do Código Penal prever a existência de crime de violência doméstica quando o casal é composto por duas pessoas do mesmo sexo. O juiz, na sua infinita candura, considera que "não está minimamente demonstrado que essas situações existem — o legislador deve legislar sobre o que geralmente acontece, não sobre o que pode acontecer ".

Poderíamos ser tentados a pensar que ambos os juízes tiveram um momento menos feliz, que a todos acontece. Mas, hoje, ao ler um artigo de opinião de Fátima Mata-Mouros e um post de Pedro Soares de Albergaria, verifico que assim não aconteceu.

Pedro Soares de Albergaria faz questão de nos chamar a atenção para um post — no mínimo, tolo — num outro blogue, qualificando de “interessante” a aberrante relação que o seu autor encontra entre “aborto e impostos”.

E Fátima Mata-Mouros não se importa de fechar os olhos à realidade. A magistrada não lê jornais e não vê televisão. Mas como pode “testemunhar que em mais de vinte anos de exercício nunca julguei, ou sequer vi, um processo instaurado contra uma mãe que tivesse abortado”, sublinha a “manifesta marginalidade que o crime contra a vida intra-uterina representa no conjunto da actividade dos tribunais criminais portugueses.”

A magistrada não quer saber do drama que é o aborto clandestino e das sequelas que deixa. Mas, por estar tão preocupada com a defesa da vida intra-uterina (que se esquiva a definir), nem quer ouvir falar em referendos. Ainda assim, avisa que vota “Não” — ou seja, quer a manutenção da actual lei, que, por exemplo, permite a interrupção voluntária da gravidez nos casos de indicação eugénica (ao longo das primeiras 24 semanas), que têm por motivação a imperfeição biológica do feto.

Os tribunais estão perigosos.

11 comentários :

Anónimo disse...

... As boas almas encontram-se ...

(e a circunstância de a Drª Mata-Mouros e o Dr. Rui Rangel, escreverem no Correio da Manha, não será mera coincidência... mais a mais, invocando sempre as respectivas qualidades profissionais ...)

Anónimo disse...

Pois os "tribunais" só são perigosos quando se pronunciam pelo "Não".
Quando vêm a público defender o "Sim", são o mááááximo!!!!

Anónimo disse...

Em portugal é deveras altamente perigoso ser reu de alguma coisa, Dada a imcompetencia, como a parcialidade como os responsaveis judiciais comentam na praça publica as suas opções sociais e politicas, leva-me a pensar, que, quando os magistrados tomam uma decisão em julgamento o fazem de acordo com essas opções e não de acordo com a LEI.Por isso eu reforço a ideia, que em PORTUGAL É PERIGOSO SER REU.

Anónimo disse...

Como digo, imparciais, são só os magistrados que se pronunciam em público pelo "Sim".
Imparciais, corajosos, inteligentes etc..
Os outros já se sabe...
Quanto ao perigo de ser Réu não deve se exclusivo de Portugal.
Digo eu...

Anónimo disse...

KAVAKO:
Chegaste a tirar a 4a classe.
Ainda não disseste.
Tiveste de trabalhar desde cedo, dizes tu, e ficaste assim bronco e ignorante, dizemos nós.
Mas satifaz a curiosidade ao pessoal:
Acabaste a 4 classe.
Prometo que não te pergunto mais nada.

Anónimo disse...

KAVAKO:
Chegaste a tirar a 4a classe.
Ainda não disseste.
Tiveste de trabalhar desde cedo, dizes tu, e ficaste assim bronco e ignorante, dizemos nós.
Mas satifaz a curiosidade ao pessoal:
Acabaste a 4 classe.
Prometo que não te pergunto mais nada.

Anónimo disse...

KAVAKO:
Acabaste a 4a classe?

Cleopatra disse...

Oh Miguel
A Drª Fátima Mata Mouros, "mandou" para o correio da manhã um artigo de opinião.
Não um parecer.
Não me parece,...que tenha pecado ou ido contra o que quer que fôsse, por, como mulher, e mãe, ter dado a sua opinião.

Talvez por "deformação" profissional nos tivesse parecido demasiado técnica.
Mas não é.

O que ela diz é, ou são a final 3 coisas importantíssimas.
Vamos lá ver:

1º" direi ao legislador que pouco interessa se concordo, ou não, com a despenalização do aborto praticado a pedido da mãe.

2º Que é irrelevante a minha opinião já que a vida humana não pode ser referendada.

3ºMas para que o direito à vida não nasça apenas às dez semanas de idade, responderei ‘não’!

è clara.
É a opinião dela.
Tem direito a dá-la.
E deu-a muito bem.

Independenetemente de ser igual ou diferente da minha,
deu-a de forma clara, independente, sem medos..


E acrescento ainda:

Em 22 anos de exercício de funções,
leio jornais, vejo Tv, vou ao cinema, leio livros, vou aos Blogs e ainda faço os acórdãos em tempo e horas, "NUNCA, julguei, ou sequer vi, um processo instaurado contra uma mãe que tivesse abortado. Nunca conheci um caso de sujeição a prisão de mulher pela prática de tal acto."

E vão duas.

E vão 22 anos de carreira.

E estou a falar da minha experiência apenas.
Não estou a responder à pergunta do referendo.

Anónimo disse...

Os imbecis que respodem a KAVAKO,pelo tom e linguagem utilizada não passam de broncos, ligados á magistratura mais retrogada e incompetente da europa.Qual o interesse em se saber se tem ou não a 4ª.classe? Por acaso estes estão impedidos de navergar e colocar posts? será que a net é só para os doutos magistrados licenciados, que não passam de meros esbirros de um poder corporativo?

Anónimo disse...

ò melga/kavako:
Diz lá: fizeste a 4a classe ou não?
Vá lá, é só essa.
Não dói nada.
Depois até ficas aliviado.

Anónimo disse...

Já agora ó KAVAKO:
Só uma precisão que até tu percebes.
Os magistrados não são (só) licenciados.
São licenciados que, depois, se submeteram a provas e a um curso de formação no final do qual foram investidos, por despacho, na função de magistrados.
Os Professores universitários também são licenciados. Mas não só. Naturalmente ninguém os chama licenciados.
Mas compreende-se que tu e outros burgessos como tu, invejosos na sua pequenez, tentem diminuir os outros.
Chama-se a isso coçar os colhões.
Por mim agradeço, mas só de tempos a tempos.