quinta-feira, maio 03, 2007

As atribulações do juiz Moreno [IV]



Jaime Martins Barata
(Um funcionário da Casa dos Contos, encerrado
permanentemente nela, durante a peste, quando
a corte de D. Sebastião abandonou Lisboa)





4. As nomeações dos membros dos gabinetes governamentais foram observadas à lupa por Moreno. Esqueça-se que o herói deste folhetim as considera “discricionárias”, eventualmente porque gostaria de ter tido uma palavra a dizer nas escolhas.

Aparentemente, os primeiros-ministros não se terão previamente aconselhado com ele. A verdade é que, tanto quanto se sabe, os presidentes da República, da Assembleia da República e dos próprios tribunais superiores (incluindo o do Tribunal de Contas) também não terão tido a cortesia de auscultar previamente o juiz Moreno quando nomeiam os membros dos seus gabinetes. Um lapso do protocolo do Estado, certamente.

Descontada a aludida descortesia, o implacável Moreno gastou dinheiros públicos para extrair esta conclusão arrasadora: existe uma possibilidade ilimitada para a nomeação de membros dos gabinetes ministeriais.

Moreno nem suspeita que cada gabinete possui uma dotação, que é fixada no Orçamento do Estado aprovado pelo Parlamento, e que, por isso, não pode ultrapassar os valores previstos.

Mas se Moreno (e a sua equipa) estivesse habituado a lidar com papéis cheios de números, poderia ter reparado que houve uma redução das despesas com pessoal dos gabinetes em mais de 11 por cento de 2004 para 2005. Poderia eventualmente até não lhe ter escapado que a dotação com pessoal não foi utilizada na sua totalidade. Se fosse mesmo perspicaz, poderia ter inclusivamente concluído que os gabinetes não gastaram, em 2005, sequer 50 por cento do orçamento disponível.

Não justificaria esta poupança uma breve nota nas conclusões da auditoria, já que o apuramento da despesa era o objectivo central da auditoria? No entender de Moreno, é claro que não.

Moreno preferiu extrair a seguinte conclusão: “Não existe qualquer sistema de controlo no âmbito das admissões de pessoal para os gabinetes dos membros do Governo. Com efeito, o que tem sucedido é que as Secretarias-Gerais se têm limitado a alertar sobre a ultrapassagem do número de pessoas para os cargos com limites (…)” [p. 48]. Como se calcula, vagueiam pelos corredores ministeriais hordas de “pessoas” e os membros dos sucessivos governos revelam-se incapazes de ter sequer uma vaga ideia do seu número. O implacável Moreno quer um “sistema de controlo” para os ter debaixo de olho, uma espécie de Tribunal de Contas em miniatura em cada gabinete.

5. Existe em todos os ministérios (e também no Tribunal de Contas), nalguns casos há 20 ou 30 anos, pessoal que dá apoio administrativo ou logístico aos gabinetes: dactilógrafas, telefonistas, motoristas, contínuos, etc.. Fazem parte do quadro de pessoal do respectivo ministério, em regra afectos às secretarias gerais.

O implacável Moreno incluiu-os na quantificação dos membros dos gabinetes governamentais. Se o leitor estiver interessado em perceber porquê, vai ter de aguardar pelo próximo episódio.

[A continuar]

10 comentários :

Anónimo disse...

Ó Abrantes, quem é que lhe paga para isso? O que focê quer dizer com essa prosa toda é que o eng./dr./bicharel Sócrates é competente e não está rodeado de trafulhas? Deve ser questão de fé.

Anónimo disse...

É um "moralizador", este juiz Moreno.

Pena é que o faça servindo-se da confusão de conceitos, sejam eles de gestão recursos humanos, recrutamento de pessoal, finanças públicas e dos seus próprios preconceitos políticos.

Anónimo disse...

"e dos seus próprios preconceitos políticos"... e crenças...

Anónimo disse...

Ó Abrantes, e quando é que vais para assessor? Tens jeitinho para picareta falante... Como diz o Vital, um pouco de seriedade, pf.

Anónimo disse...

O que quer dizer "essa prosa toda" é que está um juiz do tribunal de contas a soldo de interesses partidários ou em cruzada pessoal contra o governo a apresentar conclusões enviesadas conforme a sua agenda! O que não me parece certo! Existem outras coisas que não estão certas mas o assunto em causa aqui é este!

Anónimo disse...

Quando é que acaba a mama do sistema de saúde dos jornalistas sustentado pelo erário público?
Continuo sentado à espera.
Isso é que é uma corporação em condições.
Nem o Pinóquio a verga ("e" aberto).
Quando tiver um filho hei-de licenciá-lo em jornalismo.

Anónimo disse...

As nomeações são uma anedota,temos a filha do ex Presidete da Rep., a filha de um ministro, a filha de um ex ministro, uma resma de boys com currículos irrelevantes ou com currículos preenchidos com lugares obtidos por cunha ou nomeação.
Ainda podemos acrescentar que alguns dos agora ilustres assessores chumbaram nos exames de admissão a diversas carreiras públicas e como recompensa arranjaram um tacho na política.
Efectivamente,a falta de vergonha é transversal na política portuguesa e ao autor deste blog só lhe ficava bem reconhecer.

Anónimo disse...

E quantos mais juízes morenos não haverá por aí? O que nos vale é que não é tão ... diligente!!!

Anónimo disse...

adenda ao post anterior: a maioria deles

Anónimo disse...

A maioria dos portugueses também é uma grande merda.
Estão bem uns para os outros.