“Têm razão - ainda que da forma mais tortuosa - os que se queixam do ambiente claustrofóbico que reina na comunicação social portuguesa. Ele não resulta, porém, das práticas de censura do governo, mas sim da incapacidade da classe política para debater publicamente os temas que contam na actualidade nacional e internacional.
A nível político, os hábitos enquistados de acertar com as clientelas a distribuição dos despojos do poder ficaram postos em causa quando esses despojos se esgotaram. Fechou-se aí um ciclo e passou-se para um outro plano da política, mas a maior parte dos actores (e dos jornalistas que os ecoam) permanecem ainda no tempo anterior.
À medida que vai ficando claro que não podemos esperar mais aumentos de dívidas, desvalorizações cambiais ou fundos europeus para distribuir sem critério, torna-se evidente a necessidade de mudar de rumo, problema perante o qual se manifesta a impotência das práticas tradicionais da política nacional.
A quem se mostra incapaz de mudar estas falta igualmente a aptidão para discutir seriamente as reformas estruturais ou o enquadramento que as determina. A esse debate substitui-se a insistência na reafirmação de objectivos - o emprego, o crescimento económico, a equidade social, etc. - que só tais reformas permitirão atingir.
Esse é, contudo, um pormenor cuidadosamente obscurecido com recurso a escândalos, faits-divers, campanhas e outras técnicas próprias de tablóides.“
“Os mercados de risco, afinal, não são norteados pelos diferentes gostos ou preferências de cada um. São-no sim, e acima de tudo, pelo conhecimento e compreensão que cada um tem dos mercados. E aqueles que têm algum conhecimento acabam por transferir o risco para aqueles que sabem ainda menos. Mas como a ignorância não está equitativamente distribuída, o mais provável é concentrar-se o risco ao invés de dispersá-lo.”
1 comentário :
Esta Srª. é magnifica e toca com inteligencia no ponto central da incapacidade dos nossos "jornalistas" discutirem e analisarem as questões centrais da actualidade.
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