sexta-feira, setembro 28, 2007

Batatas e cebolas (ou de como, se calhar, não há mesmo economistas na São Caetano)


Somar, subtrair, multiplicar e dividir são operações básicas,
mas é preciso saber quando é que se deve aplicar cada uma delas




Há dias, Pinho Cardão conseguiu o que, por exemplo, a Comissão Europeia ou o Fundo Monetário Internacional ainda não tinham conseguido: desmontar “a grande mistificação das contas públicas”. Não me pareceu então que o post de Cardão justificasse uma atenção por aí além. Mas, mais tarde, Pinho Cardão deu conta de que "ilustres blogs e bloguistas fizeram o favor de transcrever ou citar o texto em causa."

Brincar com números exige o conhecimento de algumas regras básicas. Antes de tudo o mais, saber que não se pode adicionar batatas e cebolas. Talvez Cardão se tenha chegado à frente para mostrar a Marques Mendes que, afinal, ainda há economistas no PSD. O resultado no entanto não é famoso.

Com efeito, as percentagens que exibe não têm qualquer ponta de rigor. Veja-se:

A execução orçamental é obtida em contabilidade pública, pelo que não faz sentido fazer comparações senão com os dados que constam do relatório do Orçamento do Estado (pp. 90-91).

Mas, se fazer comparações é um impulso a que Cardão não consegue mesmo resistir, então que as faça em cada um dos subsectores do sector público administrativo, porque apenas no final do ano é possível ter dados consolidados. Não se pode confundir o subsector "Estado", em relação ao qual há informação mensal disponível, com as contas públicas ("Estado", "fundos e serviços autónomos", "segurança social" e "administrações locais e regionais"), em que se medem os compromissos orçamentais.

É assim que, por exemplo, não corresponde à verdade que o objectivo de variação da despesa corrente do Estado seja 1,2 por cento, mas sim 3,7 por cento. Também não corresponde à verdade que estivesse previsto que a despesa total aumentasse 1,2 por cento, mas sim 3 por cento (revista para 3,2 por cento com os dados finais de 2006). Não estava igualmente previsto que a receita fiscal aumentasse 4,9 por cento, mas sim 6,6 por cento (Quadro III.1.16 do relatório do OE/2006).

Acresce que, ao contrário do que o PSD andou sistematicamente a dizer ao longo de 2006 (e que não correspondia à verdade), é também abusivo a comparação entre taxas de crescimento previstas para o ano com taxas de crescimento da execução de um período inferior a um ano. Por uma razão que qualquer leitor compreenderá: nem toda a despesa assume um perfil duodecimal e há questões de sazonalidade (e outras) que têm um impacte não negligenciável (v.g., a evolução do IRC, em que Maio é um mês absolutamente extraordinário!).

Ver os números sem ler o boletim da DGO e sem ter uma percepção histórica da despesa e da receita pode ser um interessante exercício estatístico, mas não é, com toda a certeza, uma análise séria das finanças públicas.

É verdade que números são números, mas não faria certamente mal a Cardão se procurasse entender as causas e os efeitos dos números que lhe provocam tantas palpitações. O IRC, por exemplo, está a crescer 24,8 por cento face a 2006. Será que foi a taxa de IRC que aumentou? Alteraram-se as regras de pagamento de imposto? Não será relevante verificar que os cinco maiores bancos pagaram mais 317 M€ de IRC do que no ano anterior (num total de 733 M€)?

Quando se clama que os impostos aumentam, seria mais sério dizer que a receita de impostos aumenta — mas que já não são sempre os mesmos a ter que suportar os acréscimos da carga fiscal.

Eu sei que dói ver a forma inédita como a consolidação orçamental está a ser conseguida… mas, que diabo, a verdade é que os resultados não só estão em linha com as previsões como superam todas as expectativas dos analistas nacionais e das instituições internacionais.

Talvez convenha avivar a memória a Pinho Cardão. Sócrates já anunciou que, em 2007, não haverá orçamento rectificativo — o que acontece pelo segundo ano consecutivo. Significa isto que não só se prevê atingir as metas orçamentais, mas também que a despesa não ultrapassa o aprovado em Novembro de 2006. Quer dizer mesmo mais: evidencia que o processo de previsão e orçamentação foi feito com rigor ministério a ministério e organismo a organismo de forma a que não há necessidade de alterações estruturais na execução dos respectivos orçamentos. A despesa está a evoluir conforme projectado, mas o seu nível é e será inferior ao limite aprovado.

Pinho Cardão está incomodado com a realidade? Vai ter de se conformar.

5 comentários :

Anónimo disse...

Caro Miguel - tenho escrito pouco por cá. mas lei-o com muita atenção - claro, a São Caetano, (ainda ontem passei por lá - fui á Rua Pau de Bandeira)- nem percebo como é que a malta do Chafariz das Terras, o Caetano, o marreco e outros, permitiram semelhante associação politica na Fregesia dos Prazeres -Ou ainda é Lapa (?) - bom - quanto aos economistas, são poucos e fracos, tenho de me vergar ao LMMendes, como é que ele descobriu que não tem ninguem que perceba de economia como ciencia social, já é um forte motivo,para o considerar o Estadista do ano 2007 - meu caro Miguel - os ecomistas como o Frazquilho, um jovem, a MFLeite, RCarp, Patinha Antão.etç etç etç - são economistas da Escola de Boliqueime - Ora, o historico desta escola, pode ser visto nos 10 anos do seu mentor . o homem do Pletão da Frente e que agora descobriu que o trabalho á jorna é a receita milagrosa para termso agua no nabeiro e sol na eira e veja bem - escrevi AGUA- nem sequer espetou um prego em Alqueva, isto para os Compadres não terem força para guerrear. morreram com sede.

Ate ao meu regresso

Ze Bone

Eles ter tem-em, são da "escola de Boliqueime

Anónimo disse...

já não vinha aqui há uns dias.

pelo que vejo o PSD continua no poder.

só cá volto qundo o PS for governo, para ver se essa "corporação" também é criticada...


se calhar este comentário não é moderado...

Anónimo disse...

Não há financiamentos partidários grátis
Como é sua obrigação, o Tribunal Constitucional vai sancionar os responsáveis pelo financiamento ilícito da Somague ao PSD.
Continua por conhecer a contrapartida recebida pela empresa em troca da generosidade, pelo que todas as especulações ficam em aberto. Por exemplo, a súbita mundança do PSD quanto à localização do novo aeroporto de Lisboa, tornando-se o campeão da sua deslocação para a margem sul, cujo principal beneficiário será obviamente a Lusoponte, terá algo a ver com o facto de a Somague ser o mais importante accionista nacional da concessionária das travessias do Tejo e ter como presidente do conselho de administração um antigo ministro das obras públicas do PSD, que obviamente por acaso, foi quem assinou o leonino contrato de concessão com a mesma?
[Publicado por Vital Moreira] [28.9.07] [Permanent Link]

Pinho Cardão disse...

Creio que a distinta Câmara e o distinto Miguel Abrantes leram apressadamente o que escrevi.
Fiz menção ao facto de uma coisa ser contabilidade nacional e outra ser contabilidade pública; e fiz menção às dificuldades de análise e de comparação.
Também não confundi o total da Administração Pública com o Sub-sector Estado, como referiu. Os números reportam-se a este Sub-sector.
Por outro lado,quando referi os números de Agosto usei a express~
ao "estão a aumentar...ou a diminuir...", para dar a ideia de que não se trata de realidade estática mas dinâmica.
O que escrevi não foi uma tese. Mas os números são uma aproximação à realidade que está à vista. A despesa não diminui e o défice é controlado basicamente pela receita. E se há mais receita para o Estado, há menos receita para quem produz riqueza, menos investimento, menos formação, menos organização empresarial, menos inovação, menos tecnologia.
Esses são os efeitos. E eles são visíveis na economia.
O meu amigo finge ignorar que a carga fiscal vem aumentando de forma abusiva. Descontando ganhos de eficiência na cobrança, a evolução da carga fiscal vem aumentando muito mais do que o PIB.
Não poderá aumentar muito mais, pelo que, se o PIB começar a "patinar", novamente iremos ter défices elevadíssimos, por não se controlar a despesa.
Esse é que é o problema. nada compatível com folclore e fogo de vistas!...

Anónimo disse...

Caro Miguel

quando se pretende evendenciar o aumento da carga fiscal sem dizer aonde e como e por outro descura o deficit em tdas as balanças comerciais, descura a venda de patrimonio, entre essas vendas, a de Ouro, ja la vão 400t - se descura o deficit orçamental sem nada aplicar medidas correctivas - enfim se connhece a contab. nacional vs contab publica - se tem lido especialistas da area adizerem que Portugal esta no bom caminho e está e não podia ser de outra maneira, tudo o resto é partidario e irresponsavel - no ISE/ISEG sempre me ensinaram rigor das contas publicas . outros andaram na "marreca" - o que o Governo tem feito , não podendo reduzir fortemente a despesa publica, compreende-se - paulatinamente a economia vai sair mais saudavel - o problema é se vem a seguir os esbanjadores que nos governaram mais de 15 anos em tempos de vacas gordas

Ze Boné