“Esta legislatura pode apresentar o quê?
Em primeiro lugar, lidou com uma prioridade que não é cara aos cidadãos, mas que, no quadro de um projecto europeu, é a mãe de todas elas: a contenção do défice. Objecta-se que tal assentou em receitas como a subida em flecha do encaixe fiscal, mais do que numa redução duradoura da despesa pública. Mas é um facto, do qual, aliás, nenhum dos governos anteriores se aproximou sequer. E um facto que dá, à economia real, um tempo suplementar de reacção. É certo que, se este não vier a acontecer na dose bastante, pode vir a comprometer o esforço todo. Mas também o é a necessidade de se abrir tal oportunidade.
Em segundo lugar, reformou-se a Segurança Social. E entre os optimistas, que acreditam que ela aí está, assegurando o que é possível do modelo social europeu por mais cem anos, e os pessimistas, que dizem que terá de haver nova reforma no prazo de trinta anos, a verdade é que, tal como estávamos, ela não durava quinze. E, o que é mais, reformou-se sem as retroactividades a que recorreram vários países europeus e nos moldes de um automatismo que imuniza o cidadão das flutuações humorais do poder político.
Fez-se depois, no plano institucional, uma boa reforma do Parlamento. Uma reforma difícil, porque exigia uma maioria absoluta que quisesse pensar mais no regime do que em si mesma ou a boa vontade simultânea dos dois maiores partidos — e nenhum destes requisitos alguma vez se verificou. Agora o partido maioritário resolveu abdicar das suas vantagens imediatas e pensar um pouco em termos do futuro de todos. A frenética animação que se instalou na Assembleia tem tudo a ver com isto.
E, finalmente, cumpriu-se a contento a presidência portuguesa da UE. Sendo que, mesmo os adversários da nossa presença nela, nunca advogaram que dela nos libertássemos por indecente e má figura.
Pelos critérios quase contabilísticos com que o próximo futuro avalia as legislaturas, nem era preciso tanto para que esta - que ainda vai a pouco mais de meio - estivesse justificada.
E aqui chegados, a pergunta é: por quê, então, os protestos: na rua, no interior, nas corporações? É só défice de informação, que é a tese preferida de todos os Governos? Penso que não. Creio que houve uma deficiente avaliação das congénitas resistências à mudança e um excesso nas promessas (em que toda a oposição incorre).”
domingo, janeiro 13, 2008
Sugestão de leitura
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6 comentários :
Leia antes Barreto e Pulido Valente:
Num caso e noutro, o referendo e o aeroporto, os governantes mentiram, desdisseram-se, negaram o que tinha afirmado, mudaram de opinião e de certezas, voltaram atrás, disseram que não tinham dito, não era bem assim, só queriam dizer que era isto e não aquilo... Neste exercício de garantir o que não é evidente para ninguém e de negar o que disse e prometeu, Sócrates foi absolutamente excelente. Revelou a convicção de um vendedor de persianas. Portou-se com a inocência de um escuteiro. Sócrates está convencido de que pode vender o que quiser a quem quer que seja. Basta ele falar, controlar a informação, negar a evidência, garantir as suas certezas e elogiar o produto!
Como os governantes não mudam de estilo nem de sistema, a não ser que a isso sejam forçados, já não vale a pena esperar pelos efeitos correctores desta semana nos seus comportamentos. Mas a população assistiu. Viu. Pôde tirar conclusões. Se, como os animais, os homens aprendessem com a experiência, esta semana teria sido gloriosa. Ficaria na história como um dos momentos altos de aprendizagem da arte de ser governado. Perder-se-ia rapidamente a confiança em Sócrates. Este Governo teria o desfavor público. A competência técnica, a seriedade e as promessas do Governo passariam a ser motivo de gargalhada e desprezo. Infelizmente, parece que os homens em geral e os portugueses em particular não são como os animais. Não aprendem. (Barreto)
Entretanto, o país cai, o pessimismo dos portugueses cresce e a economia está praticamente em coma. O ano de 2008 vai ser mau e, provavelmente, péssimo. O cidadão comum sabe que depende do preço do petróleo e do que suceder na América e em Espanha. A insegurança é grande. O que, em princípio, prejudicaria Sócrates. Mas não. Sócrates vive da insegurança. Cada vez que lhe chamam autoritário, cada vez que (justamente) o acusam de pôr em perigo a democracia e a liberdade, os portugueses, como de costume, agradecem a existência providencial de um polícia. Um polícia que manda e que proíbe; e que fala pouco. Não querem a barafunda por cima da miséria; e preferem a miséria à barafunda. Num mundo instável e confuso, Sócrates sossega. O resto é acessório. (Vasco Pulido Valente)
NB é uma pessoa que escreve bem e do qual sou seu leitor aos domingos, no DN. Apoia ou critica, mas com elevação, sendo o contrario de muito opinador de sarjeta desta praça
O seu artigo de opinião desta semana, salienta alguns aspectos da política do governo como bastante positivos para o país e que se irão reflectir no futuro.
Estou muito de acordo com os seus pontos de vista.
Nuno Brederode dos Santos escreve um excelente artigo num excelente jornal. Devíamos todos ler o DN. Esperemos que o novo canal de televisão seja atribuído à empresa detentora do DN , JN e 24 horas.
Excelente sintese do NB. Na verdade a maior critica que ja vi ao governo sem que o proprio autor e os seus apoiantes a vejam. Pq da obra feita nao consta nem reforma da justica, nem reforma da educacao e da universidade, nem reforma da administracao publica. Diz tudo... sobre o que nao foi feito!!
Não posso deixar de contestar a anónimo anterior. Este é a governo da MUDANÇA e da OBRA FEITA.
Além das indicadas por NBS há o plano tecnológico, a introdução do software aberto na administação pública, através da "caixa mágica" criada logo no inicio do mandato, na educação as novas oportunidades e a reforma do estatuto dos professores. Quanto às obras lembro a inauguração das estações do metro do terreiro do paço e de sta apolonia, a extensao da linha vermelha, o metro sul do tejo, o metro do porto, a nova ponte do cartaxo, os novos tribunais de lisboa na zona da expo, as novas conservatórias tb na expo, os novos tribunais do trabalho de lisboa, etc, etc. O lançamento do tgv, do aeroporto (ainda não está construido por culpa da oposição e do Público) e centenas de kms de autoestradas. A lista é interminável (podia acrescentar a barragem do alqueva, a futura barragem do sabor, do tua....).
A obra deste governo é impar, e se não for suficiente para ganhar as eleições de 2009 com maioria absoluta, então este povo nao merece este PM.
De facto o governo ainda não foi totalmente bem sucedido nas reformas da saúde, justiça, educação, administração pública! Outra coisa não seria de esperar dado o poder das corporações envolvidas e a resistência demonstrada às mudanças. Estas reformas estão no entanto em andamento. Estarão concluidas nesta ou na próxima legislatura, o mais importante é serem iniciadas.
No entanto é necessário haver uma cultura de exigência e não criticar por criticar! Eu exijo mais ao governo, acho que todos o deviamos fazer. Devemos exigir muito mais às oposições q têm sido miseráveis atingindo mm o ridiculo. Devemos exigir muito mais aos media, que focam sobretudo as noticias num prisma sensacionalista e sem qq profundidade.
Tentar avaliar este governo pelo aeroporto ou pelo referendo como já tenho visto é de uma miopia igual a quem consegue vislumbrar qq alternativa actual a Sócrates! Preocupem-se e muito mas é com quem vem a seguir a Sócrates!
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