domingo, janeiro 13, 2008

Sugestão de leitura

Nuno Brederode Santos em artigo de opinião no DN:

    “Esta legislatura pode apresentar o quê?

    Em primeiro lugar, lidou com uma prioridade que não é cara aos cidadãos, mas que, no quadro de um projecto europeu, é a mãe de todas elas: a contenção do défice. Objecta-se que tal assentou em receitas como a subida em flecha do encaixe fiscal, mais do que numa redução duradoura da despesa pública. Mas é um facto, do qual, aliás, nenhum dos governos anteriores se aproximou sequer. E um facto que dá, à economia real, um tempo suplementar de reacção. É certo que, se este não vier a acontecer na dose bastante, pode vir a comprometer o esforço todo. Mas também o é a necessidade de se abrir tal oportunidade.

    Em segundo lugar, reformou-se a Segurança Social. E entre os optimistas, que acreditam que ela aí está, assegurando o que é possível do modelo social europeu por mais cem anos, e os pessimistas, que dizem que terá de haver nova reforma no prazo de trinta anos, a verdade é que, tal como estávamos, ela não durava quinze. E, o que é mais, reformou-se sem as retroactividades a que recorreram vários países europeus e nos moldes de um automatismo que imuniza o cidadão das flutuações humorais do poder político.

    Fez-se depois, no plano institucional, uma boa reforma do Parlamento. Uma reforma difícil, porque exigia uma maioria absoluta que quisesse pensar mais no regime do que em si mesma ou a boa vontade simultânea dos dois maiores partidos — e nenhum destes requisitos alguma vez se verificou. Agora o partido maioritário resolveu abdicar das suas vantagens imediatas e pensar um pouco em termos do futuro de todos. A frenética animação que se instalou na Assembleia tem tudo a ver com isto.

    E, finalmente, cumpriu-se a contento a presidência portuguesa da UE. Sendo que, mesmo os adversários da nossa presença nela, nunca advogaram que dela nos libertássemos por indecente e má figura.

    Pelos critérios quase contabilísticos com que o próximo futuro avalia as legislaturas, nem era preciso tanto para que esta - que ainda vai a pouco mais de meio - estivesse justificada.

    E aqui chegados, a pergunta é: por quê, então, os protestos: na rua, no interior, nas corporações? É só défice de informação, que é a tese preferida de todos os Governos? Penso que não. Creio que houve uma deficiente avaliação das congénitas resistências à mudança e um excesso nas promessas (em que toda a oposição incorre).”

6 comentários :

Anónimo disse...

Leia antes Barreto e Pulido Valente:

Num caso e noutro, o referendo e o aeroporto, os governantes mentiram, desdisseram-se, negaram o que tinha afirmado, mudaram de opinião e de certezas, voltaram atrás, disseram que não tinham dito, não era bem assim, só queriam dizer que era isto e não aquilo... Neste exercício de garantir o que não é evidente para ninguém e de negar o que disse e prometeu, Sócrates foi absolutamente excelente. Revelou a convicção de um vendedor de persianas. Portou-se com a inocência de um escuteiro. Sócrates está convencido de que pode vender o que quiser a quem quer que seja. Basta ele falar, controlar a informação, negar a evidência, garantir as suas certezas e elogiar o produto!

Como os governantes não mudam de estilo nem de sistema, a não ser que a isso sejam forçados, já não vale a pena esperar pelos efeitos correctores desta semana nos seus comportamentos. Mas a população assistiu. Viu. Pôde tirar conclusões. Se, como os animais, os homens aprendessem com a experiência, esta semana teria sido gloriosa. Ficaria na história como um dos momentos altos de aprendizagem da arte de ser governado. Perder-se-ia rapidamente a confiança em Sócrates. Este Governo teria o desfavor público. A competência técnica, a seriedade e as promessas do Governo passariam a ser motivo de gargalhada e desprezo. Infelizmente, parece que os homens em geral e os portugueses em particular não são como os animais. Não aprendem. (Barreto)

Entretanto, o país cai, o pessimismo dos portugueses cresce e a economia está praticamente em coma. O ano de 2008 vai ser mau e, provavelmente, péssimo. O cidadão comum sabe que depende do preço do petróleo e do que suceder na América e em Espanha. A insegurança é grande. O que, em princípio, prejudicaria Sócrates. Mas não. Sócrates vive da insegurança. Cada vez que lhe chamam autoritário, cada vez que (justamente) o acusam de pôr em perigo a democracia e a liberdade, os portugueses, como de costume, agradecem a existência providencial de um polícia. Um polícia que manda e que proíbe; e que fala pouco. Não querem a barafunda por cima da miséria; e preferem a miséria à barafunda. Num mundo instável e confuso, Sócrates sossega. O resto é acessório. (Vasco Pulido Valente)

Anónimo disse...

NB é uma pessoa que escreve bem e do qual sou seu leitor aos domingos, no DN. Apoia ou critica, mas com elevação, sendo o contrario de muito opinador de sarjeta desta praça
O seu artigo de opinião desta semana, salienta alguns aspectos da política do governo como bastante positivos para o país e que se irão reflectir no futuro.
Estou muito de acordo com os seus pontos de vista.

jorge100 disse...

Nuno Brederode dos Santos escreve um excelente artigo num excelente jornal. Devíamos todos ler o DN. Esperemos que o novo canal de televisão seja atribuído à empresa detentora do DN , JN e 24 horas.

Anónimo disse...

Excelente sintese do NB. Na verdade a maior critica que ja vi ao governo sem que o proprio autor e os seus apoiantes a vejam. Pq da obra feita nao consta nem reforma da justica, nem reforma da educacao e da universidade, nem reforma da administracao publica. Diz tudo... sobre o que nao foi feito!!

jorge100 disse...

Não posso deixar de contestar a anónimo anterior. Este é a governo da MUDANÇA e da OBRA FEITA.
Além das indicadas por NBS há o plano tecnológico, a introdução do software aberto na administação pública, através da "caixa mágica" criada logo no inicio do mandato, na educação as novas oportunidades e a reforma do estatuto dos professores. Quanto às obras lembro a inauguração das estações do metro do terreiro do paço e de sta apolonia, a extensao da linha vermelha, o metro sul do tejo, o metro do porto, a nova ponte do cartaxo, os novos tribunais de lisboa na zona da expo, as novas conservatórias tb na expo, os novos tribunais do trabalho de lisboa, etc, etc. O lançamento do tgv, do aeroporto (ainda não está construido por culpa da oposição e do Público) e centenas de kms de autoestradas. A lista é interminável (podia acrescentar a barragem do alqueva, a futura barragem do sabor, do tua....).
A obra deste governo é impar, e se não for suficiente para ganhar as eleições de 2009 com maioria absoluta, então este povo nao merece este PM.

Nuno disse...

De facto o governo ainda não foi totalmente bem sucedido nas reformas da saúde, justiça, educação, administração pública! Outra coisa não seria de esperar dado o poder das corporações envolvidas e a resistência demonstrada às mudanças. Estas reformas estão no entanto em andamento. Estarão concluidas nesta ou na próxima legislatura, o mais importante é serem iniciadas.
No entanto é necessário haver uma cultura de exigência e não criticar por criticar! Eu exijo mais ao governo, acho que todos o deviamos fazer. Devemos exigir muito mais às oposições q têm sido miseráveis atingindo mm o ridiculo. Devemos exigir muito mais aos media, que focam sobretudo as noticias num prisma sensacionalista e sem qq profundidade.
Tentar avaliar este governo pelo aeroporto ou pelo referendo como já tenho visto é de uma miopia igual a quem consegue vislumbrar qq alternativa actual a Sócrates! Preocupem-se e muito mas é com quem vem a seguir a Sócrates!