quarta-feira, abril 02, 2008

Viagens na Minha Terra

    «"Esta é a nova ponte que querem fazer em Lisboa. Será a maior do Mundo. Tem um impacte visual que destrói a cidade e o seu património." Vítor Cunha, no blogue da Atlântico.

    Este Vítor Cunha é um poeta de mérito. Parece que é inevitável que uma nova ponte vá destruir o que duas não conseguiram. Como? Porquê? Que património vai ser destruído? Ninguém sabe. Só se tem esta certeza: ponte é igual a destruição. Não pode ser uma boa peça de arquitectura que defina com vantagem a silhueta de Lisboa. Não, isso está fora de questão. Não pode ser uma adição ao património de Lisboa. Não, qualquer nova ponte que se faça estará sempre fora da categoria de "património". "Património" moderno, como se sabe, só há um, o que o Vítor Cunha extrai da sua mioleira. Há outro grupo de lunáticos que diz que uma nova ponte vai "trazer mais carros para Lisboa". Podiam fazer, o Vítor Cunha e estes últimos, uma fogueirinha na Alameda D. Afonso Henriques à volta da qual discutiriam mais formas de, por um lado, evitar que mais carros venham para Lisboa, por outro, impedir que se façam mais pontes (ou, quem sabe, destruir alguma que esteja a mais). Eu gostava de saber como é que cidades como Madrid, Paris ou Londres vivem com 360 graus de circunferência de vias que lhes entram até ao centro. Lisboa é a única cidade onde existem habitantes que acham que limitar fisicamente o número de entradas na cidade é uma forma inteligente de regular o trânsito, e que vê o limite de um ângulo de 90 graus de entradas sem barreiras naturais como uma bênção dos céus. Mais entradas em Lisboa, para estas andorinhas, não é uma diversificação dos eixos de penetração dos carros em Lisboa de forma a que cada veiculo entre na cidade o mais próximo possível do local onde tenciona parar. Não, isso não, que horror. O que tem piada é entrar em Lisboa pela 25 de Abril e depois fazer toda a puta da cidade durante uma hora para ir estacionar em Braço de Prata. Portanto, é gente para quem o desdobramento dos destinos de dezenas de milhar de carros deve ser feito no interior da própria cidade, e não em sítios estúpidos como em Almada ou Barreiro, onde ainda há espaço e as obras são fáceis. Primeiro as pessoas saem cada uma de sua casa, depois juntamo-las todas numa longa fila compacta, e depois sim vamos separá-las novamente na Praça de Espanha, cada um para seu local de destino. Aliás, já estou a imaginar uma missão técnica da autoridade máxima da área metropolitana de Sevilha a vir a Lisboa para aprender como é que podem evitar que os carros penetrem na sua cidade pelo local mais próximo do seu destino final, nomeadamente através da construção de barreiras físicas artificiais, como rios largos, valas e a destruição complementar de algumas das pontes ainda existentes. Estive na semana santa em Sevilha e estacionámos o carro no centro da cidade todos os dias, inclusive na própria sexta-feira, dia em que aquilo, supostamente, estaria a explodir de pessoas. Como é que se conseguiu isso? Talvez expulsando todos os malucos da cidade primeiro.»

2 comentários :

Anónimo disse...

Há uma coisa que me faz alguma confusão. Porque é que se diz que uma nova ponte vai trazer mais carros para Lisboa e ignora-se que uma nova ponte vai tirar carros de Lisboa?

Anónimo disse...

Brilhante mesmo, este Artigo de "maradona"!!!


Ponham nele os olhos certos "especialistas", sobretudo em "tráfego", ou "urbanismo" - eu diria mesmo em lagares de azeite -, como aquela incandescente sapiência do Senhor Professor ngenheiro Fernando Nunes da Silva, que hoje conseguiu dizer esta máxima espantosa na TSF: "A nova ponte irá roubar tráfego à Vasco da Gama e concentrá-lo no Areeiro, na Av. E. U. A. e no Relógio, que já estão actualmente sobrecarregados com o tráfego que vem da Ponte Vasco da Gama"!!!!!


Resta saber se:

1º - a TSF truncou as declarações do Professor;


2º - o Professor conseguiu ouvir-se a si próprio (e corar de vergonha?), mas não lhe deram tempo para se auto-corrigir;


3º - o comentário era para ter ido para o ar exclusivamente a 1 de Abril...


Ó Professor, cada dia que passa tenho mais orgulho em ter sido seu Aluno!...