terça-feira, julho 01, 2008

Leituras

• Pedro Adão e Silva, Adaptabilidade e coesão:
    “O principal mecanismo de rigidez do mercado de trabalho português não é a rigidez externa, mas sim a pouca flexibilidade interna, quer considerando a organização do tempo de trabalho, quer o seu conteúdo funcional. A impossibilidade das empresas fazerem uma gestão mais flexível dos horários de trabalho é, aliás, um aspecto distintivo de Portugal – 78% dos trabalhadores portugueses têm horários fixos de entrada e saída, para uma média da UE-25 de 64%.

    A solução negociada procura responder ao défice de adaptabilidade. Mantendo os limites de tempo de trabalho nas 40 horas, abre, contudo, a possibilidade de flexibilização dos mesmos, designadamente através da criação de “bancos de horas” (i.e., horários que concentram o trabalho em alguns dias da semana). Contudo, em lugar de impor, remete esta prerrogativa para a contratação colectiva ou para acordos de empresa. Esta flexibilização, como aliás demonstra à saciedade o exemplo de sucesso da AutoEuropa, pode fazer mais pela competitividade das empresas e pela garantia do emprego do que a liberalização, mais ou menos mitigada, do despedimento.

    Mas a legislação laboral não é apenas um mecanismo para a promoção da competitividade, é também um poderoso instrumento de regulação social e de igualitarização de relações assimétricas (entre empregador e trabalhador). O acordo não só não descarta a responsabilidade na promoção da coesão social, como procura contrariar o excesso de segmentação que caracteriza o mercado de trabalho português. Convém não esquecer que, em Portugal, há cerca de 3 milhões de contratos sem termo para cerca de 700 mil com termo. A estes há que somar outra das especificidades nacionais, o número muito significativo de independentes.

    Neste contexto, as respostas acordadas para o combate à precariedade, designadamente a diferenciação das taxas contributivas para a segurança social consoante o tipo de vínculo, bem como os incentivos à transformação de trabalho precário em contrato sem termo, são exemplos positivos do que o Estado ainda pode fazer para acomodar a segmentação.”
António Ramalho, actual presidente da UNICRE, andou metido nestas vidas da “alta velocidade” pela mão do PSD. Agora sente-se traído por Ferreira Leite e não o esconde num artigo intitulado Concertação estratégica:
    “A primeira questão prende-se com as dificuldades conjunturais como justificação do não investimento. A questão é contabilisticamente relevante mas não economicamente decisiva. É contabilística, porque a contabilidade pública impõe restrições ao deficite sem distinguir entre exploração e investimento o que naturalmente dificulta a afectação de fundos estatais a grandes projectos, mas não é economicamente decisiva porque a razoabilidade do investimento depende, em primeira linha dos custos e benefícios futuros e não da conjuntura presente, sobretudo se a capacidade creditícia se mantém.

    (…) Ninguém se admirará que me bata pela infra-estrutura ferroviária, certo da necessidade de reduzir consumos de CO2, conhecedor do total esgotamento da linha do norte com mais de 900 comboios/dia em circulação, fervoroso adepto de um Portugal logístico internacional e europeu assente no mar e na ferrovia, e infelizmente quase seguro de um nível dos preços de combustíveis fósseis em valores acima do sustentável para o sector dos transportes rodoviários não retalhistas.

    Foi este processo e este consenso que pensei existir entre os partidos políticos que foram sucessivamente estudando, confirmando, assinando e comprometendo-se nesta opção pelo investimento público ferroviário. Será que me enganei?”
Vital Moreira, O contrário da credibilidade (extractos aqui)

2 comentários :

Anónimo disse...

O Vital
para alcançar o pedestral
Começou pelo constitucional
E agora dá uma geral.

Anónimo disse...

Se eu, no meu tempo, pensasse como pensam os meus compatriotas actualmente nunca teria saído de Sines, lugar onde provavelmente nasci.Até os burros são demasiado para transportar tais mentalidades.