quarta-feira, agosto 20, 2008

Leituras

• João Pinto e Castro, Não há bronzeados grátis:
    “Na praia que idealizo, uma plataforma de intranet permitiria aos consumidores encomendarem directamente massagens, gelados, bolas de Berlim e outros produtos e serviços. O registo numa base de dados dos pedidos dos clientes anteciparia inclusive os seus desejos futuros. Cada consumidor disporia, bem entendido, do acompanhamento personalizado de um account manager, disponível 24 horas por dia, através do qual canalizaria os seus pedidos, sugestões e reclamações.

    Esta brevíssima antevisão da praia do futuro torna evidente como a praia de hoje permanece uma espécie de enclave cubano nas nossas sociedades avançadas, um espaço de absurda nostalgia pré-moderna economicamente inviável e condenado à extinção. A praia tem - queiramos ou não - um custo de oportunidade. Se não fosse ocupada por banhistas ociosos, seria possível construir nela casas sobre as dunas, usá-la para exercícios militares ou rasgar amplas estradas marginais. É tempo de trocarmos definitivamente o socialismo utópico pelo capitalismo científico.”
• Henry Mintzberg, A gestão norte-americana da terra queimada:
    “Paradoxalmente, um indicador que tem vindo a melhorar de forma constante nos Estados Unidos - a produtividade - poderá ser o sinal mais evidente do problema.

    Em matéria de produtividade, os gestores tanto investem na formação dos trabalhadores e em processos de fabrico mais eficientes e afins, como tomam medidas que parecem impulsionar a produtividade no curto prazo mas que a destroem no longo prazo.

    A produtividade mede a produção por cada hora de trabalho. Assim, uma empresa que despede todos os seus trabalhadores e depois entrega mercadoria do seu "stock", pode parecer muito produtiva - até ficar sem inventário.

    É evidente que nenhuma empresa pode fazer isso, mas muitas companhias norte-americanas têm vindo a demitir muitos trabalhadores e gestores de níveis intermédios - os números de Janeiro de 2008 apresentam um aumento de 19% face ao mesmo mês de 2007.

    Enquanto isso, os trabalhadores que se mantêm na empresa têm de trabalhar muito mais arduamente, muitas vezes sem um aumento salarial. Os salários dos trabalhadores, ajustados à inflação, diminuíram em 2007, perpetuando uma tendência que tem vindo a verificar-se ao longo de toda esta década.

    Isso também é "produtivo" - até esses trabalhadores sobrecarregados se irem embora ou terem um esgotamento.

    Uma empresa sustentável não é um conjunto de "recursos humanos". É uma comunidade de seres humanos. A sua força reside nos seus colaboradores, na sua cultura e no nome comercial que construiu entre os seus clientes e fornecedores.”

1 comentário :

Anónimo disse...

Não sei porquê mas o artigo sobre "a gestão norte-americana da terra queimada" projectou na minha mente tendenciosa 2 imagens: os 1200 postos de trabalho no call-center de Sto. Tirso (depois de destruídos +/- 3000 na zona de Lisboa) e o nosso sistema de ensino co a actual sobrecarga lectiva e não lectiva.

E, para cúmulo, ao fundo do túnel, naõ uma vela, mas o sorriso meio andrógino da Srª Primeira Ministra, qual Mona Vazia da nossa vacuidade...

Acordei aterrorizado, tentei convencer-me que tinha sido um pesadelo.

De imediato o meu sub-consciente pontapeou-me nos testículos e proferiu:

- É verdade, estúpido !...