segunda-feira, setembro 22, 2008

Leituras

Da conversa entre João Ferreira do Amaral e António Perez Metello (DN de ontem, p. 76):
    «Onde as lições das crises parecem não ensinar nada é nas fases de crescimento. Há 20 anos já se dizia que a supervisão teria de ser mais apertada e... nada mudou.

    Mas o grosso da crítica ao momento que vivemos salta, nas palavras de Ferreira do Amaral, um oceano, para centrar-se na actuação do Banco Central Europeu (BCE). "O BCE já devia ter descido a sua taxa directora. Reina a desconfiança e hoje a Euribor, a taxa de juro entre bancos comerciais, está um ponto percentual acima da taxa-base do euro. Se o BCE está à espera que os ânimos serenem, vai ter muito que esperar. Entretanto, são as famílias e as empresas endividadas que sofrem as constantes subidas do preço do euro. Se o BCE baixasse a taxa-base, a Euribor vinha atrás. Não há razão para o não fazer. Bem pelo contrário, com um euro tão caro face ao dólar, acentuam-se as dificuldades das empresas exportadoras europeias. Julgo, mesmo, que a Zona Euro já entrou em recessão!"

    Para nós, que temos a 2.ª menor inflação da Zona Euro e um dos mais altos endividamentos das famílias, o esforço real é maior do que o que é pedido, por exemplo, aos alemães: "É um absurdo!", exclama JFA, para concluir que os governos na Europa deixam andar as coisas nas mãos do BCE, em vez de debaterem com vigor, como nos EUA, as medidas de emergência, que a situação reclama.

    Ao Governo de José Sócrates resta a política orçamental. A descida continuada dos défices na Zona Euro já não se justifica, e o próprio Pacto de Estabilidade e Crescimento admite a subida dos défices em situações recessivas. Ao pedir-lhe um valor previsível para a proposta de défice público para 2009, JFA avança com o mesmo valor de 2008. Para ajudar as empresas, acha que o Estado devia pagar quanto antes aos seus fornecedores, acabar com o IVA pago à cabeça, diminuir o pagamento por conta do IRC. E desabafa: "Mas a grande reforma - e devemos estar muito agradecidos por ela!- foi a da Segurança Social. Impõe sacrifícios (Eu que o diga!), mas as pessoas compreenderam que eram necessários. Sem esta reforma estaríamos hoje em grandes dificuldades!

4 comentários :

Anónimo disse...

Palavras sabias que os tipos da direita e da extrema esquerda (pcp/be)ainda não entenderam.
Autenticos mentecaptos.
Será que algum dia o entenderão? Penso que não.

Anónimo disse...

Eu não concordo com a suposição de Ferreira do Amaral de que, se o BCE descesse a sua taxa de juro, a Euribor também desceria.

De facto, a Euribor já está um ponto acima da taxa de juro do BCE. Não há motivo para que não possa estar ainda mais acima do que isso.

O BCE só empresta dinheiro a curto prazo, e em quantidades limitadas. Logo, o facto de o BCE se dispôr a emprestar dinheiro a uma taxa X, não implica que os bancos comerciais emprestem dinheiro entre si a uma taxa próxima de X, uma vez que os bancos comerciais não têm acesso ilimitado ao (pouco) dinheiro que o BCE empresta (apenas por um curto prazo) à taxa X.

De onde se deduz que em pouco ou nada ajudaria o BCE descer a sua taxa de juro (e ainda bem!).

A alta Euribor reflete a desconfiança dos bancos comerciais em emprestarem dinheiro uns aos outros, e não resulta da (supostamente) alta taxa de juro do BCE.

Luís Lavoura

Anónimo disse...

O que vale é que são dois insuspeitos e isentos economistas. Aliás, desconfio mesmo que sejam da área não socialista o que dá enorme realce ao que escrevem. Nem sei como o Abrantes tão zeloso das notinhas de rodapé nalguns casos, não se lembrou deste pormenor. Anda a falhar.

Foi do melhor q li no fim de semana nos jornais; melhor so mesmo aquela frase:

"Fiquei com uma boa relação com o seu accionista (Paulo Azevedo) e vamos ver se isto não se altera"
(é por frases destas e doutras que o Abrantes ainda vai comparar o jornal Publico - mau jornal - com o Diabo - belissimo jornal).

Enfim, azias.

Anónimo disse...

Ao Miguel Abrantes e a todos os outros Abrantes, ainda no armário, brincando às escondidas com a SóCretina:

Este artigo de opinião foi picado do JN e, por tal, o Abrantes não teve hipótese de eliminar o comentário.
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Milhares de militantes socialistas romperam em aplausos quando, no sábado, em Guimarães, Sócrates garantiu que não "permitirá que o valor das pensões dos portugueses seja jogado na bolsa e entregue aos caprichos dos mercados financeiros, como quer o PSD".

Até eu, que não sou militante socialista, aplaudi. Mas, porque sou um tipo céptico, lembrei-me de ir verificar onde é que, afinal, o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) aplica o dinheiro da minha reforma.

E o que descobri no sítio da Segurança Social (http://www1.seg-social.pt/inst.asp?05.11.05) assustou-me. Saberá Sócrates que 20,67% das reservas do FEFSS (mais de 1 562 milhões de euros) se encontram aplicados em acções e "entregues aos caprichos dos mercados financeiros" e ao "jogo da bolsa"? E lembrar-se-á que o seu secretário de Estado da Segurança Social anunciou no ano passado que iria confiar outros 600 milhões à "gestão privada"?

Só espero que os não tenha confiado ao BCP e ao seu prudentíssimo fundo "Millennium Prudente", porque, se assim foi, parte deles acabou prudentemente na Lehman Brothers e já era…

JN 2008-09-22

Manuel António Pina
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Sorry, Abrantes, está a deixar passar muitas bolas !