quinta-feira, novembro 20, 2008

A avaliação na escola pública [1]

1. Defender a escola pública é defender o controlo de qualidade na escola pública. Não há outra forma de aquilatar a qualidade senão através da avaliação.

2. É preferível uma avaliação com insuficiências do que voltar a não ter avaliação. As insuficiências corrigem-se, a ausência de avaliação deixa a escola pública desprotegida.

3. Só foi possível ter sido subscrito um memorando de entendimento sobre a avaliação e (sido criada uma comissão paritária) porque o Governo ouviu os sindicatos. Foram os sindicatos, e não o Governo, que romperam o memorando de entendimento e abandonaram a comissão paritária.

4. O Governo mostrou-se dialogante, tendo hoje procurado simplificar procedimentos sem desvirtuar os princípios da avaliação.

5. Os sindicatos, em especial a Fenprof de Mário Nogueira, plagiaram Fidel: suspensão ou morte! Esta é a estratégia suicida do PCP, que levou a que a influência da CGTP se venha reduzindo drasticamente.

6. O PSD aparece de braço dado com o PCP, sendo que Manuela Ferreira Leite não altera uma vírgula à estratégia definida por Luís Filipe Menezes.

7. Rodrigo Queiroz e Melo, dirigente da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, considera: “Nos colégios, os professores sempre estiveram habituados a ter chefias e a serem avaliados por elas. Enquanto, dentro das escolas públicas, não há chefes nem chefiados.” [in revista Visão de hoje]

Paulo Portas tirou da cartola o suposto modelo adoptado pela Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo. Convém no entanto meditar nas palavras do padre Amadeu Pinto, director do Colégio São João de Brito, também à Visão: “A última palavra é sempre minha”. É isto que querem os professores?

8 comentários :

Anónimo disse...

1."Defender a escola pública é defender o controlo de qualidade na escola pública."

Sem dúvida - mas deve-se começar por avaliar as estruturas superiores do Ministério e as Escolas em primeiro lugar, bem como avaliar o que se fez antes.


2."É preferível uma avaliação com insuficiências do que voltar a não ter avaliação."

Sempre houve avaliação - passível de ser melhorada, em parte nunca regulamentada e muito revista estupidamente pelo PS (os exames dos docentes para o 8º Escalão, com Prova Pública, foram destruídos por esse partido...). E ninguém aceita que não continue a haver avaliação...


3. O memorando de entendimento fez parte de um pacote negociado entre o PC e PS nas costas dos professores, como o Miguel sabe. Nas Escolas onde os Sindicatos não silenciaram os professores estes votaram contra essa aldrabice.


4. "O Governo mostrou-se dialogante, tendo hoje procurado simplificar procedimentos sem desvirtuar os princípios da avaliação."

São as Escolas (Conselhos Pedagógicos, Conselhos Gerais, Comissões de Avaliação e Conselhos Executivos) que estão contra esta guerra contra o tempo que é preencher milhares de papéis e milhares de horas de reuniões, aulas assistidas e afins. Foi sobre pressão dos professores que os Sindicatos recuaram (basta ver quem começou o processo de suspensão nas Escolas).


5. "Os sindicatos, em especial a Fenprof de Mário Nogueira, plagiaram Fidel: suspensão ou morte!"

Foi o governo que decretou, com carradas de legislação estúpida e perigosa, a morte da Escola Pública. E os sindicatos foram de reboque na luta, empurrados pelos docentes não sindicalizados nos plenários sindicais...


6."O PSD aparece de braço dado com o PCP, sendo que Manuela Ferreira Leite não altera uma vírgula à estratégia definida por Luís Filipe Menezes."

O PSD soube ouvir os professores e percebeu o que estava em causa - o PS ficou refem da teimosia de Sócrates e MLR.


7. "Rodrigo Queiroz e Melo, dirigente da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, considera: “Nos colégios, os professores sempre estiveram habituados a ter chefias e a serem avaliados por elas. Enquanto, dentro das escolas públicas, não há chefes nem chefiados.” [in revista Visão de hoje]"

É a Constituição que impõe a Escola Democrática - quer que lhe diga em que artigo, caro Miguel?

O modelo de gestão deste Governo acaba com isso - cappos das Câmaras como Reitores, perdão, Directores, que nomeiam e avaliam os avaliadores e dão metade da nota a toda os professores - até o Rodrigo Queiroz e Melo iria aprovar tal modelo, se não tivesse a estúpida burocracia que tem por trás.

"“A última palavra é sempre minha”. É isto que querem os professores?"

Pois será uma coisa muito parecida que virá com o novo modelo, Miguel.

E perdido por cem, perdido por mil.

Anónimo disse...

Esta que fala é mais um malmequer da esfera comunista.Vá para cuba e coreia do norte e mesmo aí há avaliação, " as chefias são acupadas pelas camaradas professoras" as restantes, vegetam na miseria conhecida.

É esta avaliação que profes querem?

Miguel Abrantes disse...

Cara Odete,

Vou ver se tenho tempo para escrever hoje mais dois ou três posts sobre esta matéria. Talvez possam servir de resposta ao seu comentário, ainda que haja uma ou outra questão de pormenor que não domino.

Anónimo disse...

Caro Miguel:

Se quiser eu cedo-lhe a bibliografia ou as referências legais para o material, embora o aconselhe a não o fazer, pois a legislação deste Governo é muita, com muitas rectificações (há uma sobre avaliações de docentes que irá sair na Lei do Orçamento...) e com interpretações para todos os gostos.

Miguel Abrantes disse...

Cara Odete,

Agradeço, mas julgo que não vale a pena. Conheço o essencial - e é apenas sobre isso que pretendo pronunciar-me.

Anónimo disse...

A questão não é o modelo
Adira-me que na área do PS também haja quem defenda que a contestação dos professores tem a ver com o "modelo de avaliação" adoptado, e não com a avaliação em si mesma.
Mas o líder da Fenprof não poderia ter sido mais enfático na afirmação de que os professores não querem nenhuma avaliação que tenha repercussão na progressão profissional. E ninguém o contrariou neste ponto. Ou seja, avaliação talvez, desde que irrelevante!
Por conseguinte, a questão não é com esta avaliação mas sim com haver avaliação digna desse nome ou não. Achar que se poderia ceder no modelo para salvar a avaliação só pode ser produto de ingenuidade ou auto-engano.
[Publicado por Vital Moreira] [20.11.08] [Permanent Link]

A. Moura Pinto disse...

Sejamos sérios...

Era a burocracia, a avaliação por quem não era da mesma área científica, a avaliação a depender do nível do abandono escolar, a avaliação em sala. A ministra cedeu e vai apresentar procedimentos nesse sentido aos parceiros.

Mas valerá a pena?

Não me parece. Porque já temos novos argumentos: a divisão dos professores entre titulares e não titulares; a avaliação deveria, sobretudo, focar-se mais na identificação de problemas a resolver que na progressão na carreira; o modelo não garante a isenção do avaliador face ao avaliado. E o que mais se verá que não se ficará por aqui, enquanto houver modelo de avaliação.

Ora vejamos:

1. A prova de que o estabelecimento de dois níveis na carreira – na função pública há mais níveis – faz sentido é que, quem preencheu os requisitos, se candidatou a professor titular. Ou seja: houve professores que quiserem, como factor distintivo, serem rotulados de titulares. E ninguém a isso os obrigou mas, se calhar, agora são olhados de lado pelos seus pares, por quem não é titular, quais ovelhas ranhosas.

2. Por outro lado desde sempre se percebeu que o que não se queria, com ou sem avaliação, é que se mexesse nas condições em que se progredia na carreira e para o que, quanto a exigências, era nada ou quase nada.

3. E temos agora uma ingenuidade: a de professores admitirem que os seus pares avaliadores não serão isentos. A acusação não me respeita, mas eu não reagiria bem a estas ofensas.

Já deu para entender ao que se anda, o que de facto se pretende. É que a avaliação se fique por um modelo sem consequências, isto é, que não permita premiar o mérito, que deixe tudo como está.

A bem da escola, dos alunos e dos professores. Do país. E parece que devemos agradecer tal graça.

Anónimo disse...

excelente analise!
abraço