“Pensemos na prisão preventiva de Oliveira Costa. Como é norma em Portugal, o segredo de justiça faz com que pouco possamos saber sobre os motivos desta prisão preventiva, quanto mais sobre o que está em investigação, que factos e que responsabilidades foram apurados. Neste contexto, perante o desconhecimento público, e sem nenhuma prerrogativa que lhes conceda poderes especiais de investigação, o que resta aos deputados é colocar questões com base na informação jornalística assente em investigação própria dos media (invariavelmente escassa) ou em fugas de informação (invariavelmente contraproducentes para o apurar da verdade). Tudo bem revelador do papel que os deputados tranquilamente se atribuem: o de “perguntadores” a quem faltam elementos para questionar consequentemente.”
“(…) temos os eleitores, esses egoístas e manipuláveis míopes que impelem os Governos à adopção de políticas eleitoralistas e insensatas, voltadas para o curto prazo. Mas a verdade é que muito do que sabemos sobre os eleitores contraria em grande medida esta imagem. Por exemplo, os eleitores parecem ser muito mais atreitos a castigar ou recompensar Governos na base da percepção da situação do país como um todo e em reacção a indicadores objectivos do que na base da sua própria situação financeira pessoal. Para alegados egoístas, não deixa de ser curioso. Também não são tão influenciáveis e inconstantes como se pensa. A maioria, de resto, vota no mesmo partido (ou abstém-se) eleição após eleição, e a maior parte das mudanças que observamos nos resultados eleitorais decorrem de passagens do voto à abstenção (e vice-versa) e só raramente de mudanças de partido. E importa não esquecer que, há cerca de quatro anos, os eleitores portugueses saudaram com alívio a demissão de um Governo que poucos dias antes lhes tinha prometido, para o orçamento do ano seguinte, nada mais e nada menos do que aumentar as pensões e diminuir os impostos. Os eleitores não são tolos, mesmo que por vezes os eleitos pareçam julgar que sim. Devíamos ter mais fé neles e na democracia.”
“Há quem ache que Portugal é um problema económico. É a doutrina que vai de Herman José a Vasco Pulido Valente: se fôssemos mais ricos, seríamos mais cultos e informados e desenvolvidos. Há quem ache que Portugal é um problema administrativo. É a doutrina que vai do "Homem" dos Gato Fedorento a Manuela Ferreira Leite: se as pessoas parassem de falar, falar, falar - e simplesmente arrumassem a casa - pois bem, a casa ficaria arrumada. E em seis meses! (Também há quem ache que o problema de Portugal é não ser a Inglaterra. É a doutrina que vai de João Pereira Coutinho a Rui Ramos - outro par de bobo da corte e pessoa muito séria, respectivamente - e simplesmente considera que se Portugal fosse a Inglaterra eles próprios seriam ingleses e toda a gente reconheceria o seu espírito e elegância inatos).”
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Anónimo
disse...
O segredo de justiça já não é norma em Portugal; é excepção.
1 comentário :
O segredo de justiça já não é norma em Portugal; é excepção.
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