terça-feira, dezembro 16, 2008

Leituras

• Pedro Adão e Silva, Irresponsabilidade histórica:
    «(…) construir uma alternativa confunde-se invariavelmente com a ideia de que o PS deveria, em última análise, adoptar um programa político alternativo, proposto pelas outras esquerdas.

    Este velho tabu, que agora adquiriu novos contornos, tem tido consequências para a política, mas, também, para as políticas públicas.

    (…)

    Mas, acima de tudo, a escolha do PS como principal adversário das outras esquerdas tem limitado a consolidação de uma coligação política e social que permita enfrentar com robustez alguns dos problemas que o país enfrenta, maxime as desigualdades. Há umas semanas, Rui Tavares, num artigo no Público, justificava o peso eleitoral da esquerda em Portugal com o nosso padrão de desigualdades. Se assim é, combater as desigualdades deveria ser “uma responsabilidade histórica” e, pressupõe-se, um bom tema para o diálogo à esquerda. Será possível?

    Não se combatem as desigualdades de hoje com os instrumentos do passado e muito menos com uma visão fixista do papel das políticas públicas face a “forças irresistíveis”. Centrando-me apenas em três dimensões fundamentais para enfrentar com eficácia as desigualdades: precisamos de mecanismos de regulação do mercado de trabalho sensíveis à transição para uma sociedade pós-industrial; de modernizar a protecção social de modo a compatibilizá-la com as transformações demográficas e de encontrar formas inovadoras de superar o défice de qualificação dos activos. O problema é que, por exemplo, enquanto não for abandonada a posição conservadora e retórica que trata, num típico exemplo de reflexo de Pavlov, a “flexigurança”, a sustentabilidade da segurança social ou as “novas oportunidades” para os activos como “políticas de direita”, dificilmente as esquerdas poderão conversar de modo consequente sobre o combate às desigualdades.»

1 comentário :

psergio57 disse...

Pobre 'PS' incompreendido. Até quando terá Sócrates o País 'bem atado', como diria Clara Ferreira Alves, é uma incógnita.' Oiçam-se as pessoas na rua(...)e compreender-se-á que estamos perante um ingrediente que tem demasiadas componentes prestes a explodir...' escreve Mário Soares. É que as maiorias absolutas deveriam servir para fazer reformas e não simulacros.
Emagrecer o Estado (aumentando a despesa do Governo), asfixiar a classe média, não diminuir o número de pobres, promover a precariedade, reduzir a rede de cuidados de saúde, atacar a escola pública (a crise dos professores é apenas a espuma...), não promover o combate à corrupção e uma justiça mais eficaz, menos classista dificilmente poderão ser consideradas políticas de esquerda. Para não falar dos tiques autoritários, da demagogia e na intolerável intimidação anti-democrática nas respostas à contestação socioprofissional...
A matriz neo-liberal está lá toda, quer se queira quer não, e não é por se pôr a salvar as instituições bancárias que o Estado se torna mais intervencionista. Na esperança que tudo volte 'à normalidade'... mas não, não volta e poderá descambar numa crise social de contornos violentos. Este 'PS' vai ficar associado a uma oportunidade que se perdeu: a de tornar mais justo o país mais desigual da Europa. Tomara que ganhem voz dentro do partido as vozes que acham que o vale tudo aparelhista, neste exercício do poder pelo poder, tem os dias contados. O lugar do PS é à esquerda e a sua implosão terá consequências imprevisíveis, nefastas para todos.