A crise financeira veio demonstrar que os ricos são quem tem mais a perder quando há um crash no mercado. Primeiro, foi o BPN, cujas extraordinárias aventuras em Cabo Verde e Porto Rico jamais seriam conhecidas, não fora dar-se o caso de os milhões do saque terem começado a fazer falta para satisfazer compromissos. Depois, foi o BPP, cujos pobres accionistas (nunca gente com aplicações inferiores a 500 mil euros, para falar dos mais remediados) começavam a ficar em privação devido ao jogo da bolsa, em especial, e à especulação financeira, em geral.
É claro que as convicções liberais da “classe alta” portuguesa são muito precárias. Melhor, as convicções dos liberais só vigoram em matéria de pagamento de impostos. Quando se trata de pedir garantias ou subsídios, ninguém hesita ou tem vergonha.
Foi por isso que Rendeiro se dirigiu pressurosamente ao Banco de Portugal para obter uma garantia para um empréstimo. Discriminatoriamente, o Banco de Portugal negou o pedido, com o pretexto de não ser um banco de depositantes. Resultado ridículo: grande nau, grande tormenta; quanto mais dinheiro têm os depositantes, mais precisam de ajuda.
Razão parece ter a Dr.ª Manuela quando defende que, se o rendimento é mínimo, não vale a pena aumentá-lo. Ou a Dr.ª Nogueira Pinto quando avisa que “dar aos idosos 80 euros é um ultraje e um insulto porque eles, diabéticos, vão beber cerveja e comer doces e serão roubados pelos filhos”. Além disso, felizmente os pobres são muito mais numerosos do que os ricos e aumentar em 23 euros o salário mínimo produz um efeito de escala mais perigoso do que destribuir os milhões pelos accionistas do BPP.
Os accionistas do BPP, pelo seu engenho, até merecem ser ajudados. Recusada a garantia pelo Banco de Portugal, logo descobriram o ovo de Colombo. Se não lhes podem garantir nada a eles, então arranjam-se outras instituições beneméritas para os salvar da ruína. A preservação das vivendas da Quinta da Marinha e dos campos de golfe assim o exige. E não se pense que é só um interesse egoísta. O turismo também beneficia, porque ninguém gosta de um país de pobretanas.
Para os obcecados com a legalidade, parecerá que isto cheira a fraude à lei. Mas a fraude à lei só existe em certas situações. Por exemplo, quando as trabalhadoras do Elefante Branco casam com ucranianos e cabo-verdianos, evitando o objectivo anunciado pela Dr.ª Manuela: o combate ao desemprego nos países de que são originários.
No caso do BPP, não houve fraude à lei. Houve, sim, a defesa dos “centros de decisão nacionais” e, vá lá, a expressão dos sentimentos de generosidade tradicionais do povo português. O Dr. Constâncio, que tão bem soube interpretar as necessidades de uns e a sensibilidade de todos nós, está de parabéns.
2 comentários :
O título de primeira página do DN é uma afirmação inconsistente, para não dizer outra coisa. Diz o DN: "Estado retém 672 milhões em bens do Banco Privado". A verdade é que os bens (?) do Banco Privado não valem isso e duvido que alguém os queira comprar, mesmo por 50 milhões. Creio que o Governo nada perderia em dar uma explicação cabal sobre este assunto.
«as convicções dos liberais só vigoram em matéria de pagamento de impostos»
e legislação laboral...
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