- “Em alguns momentos da entrevista que deu à SIC na segunda-feira José Sócrates podia ter-se levantado da cadeira e abandonado os estúdios que ninguém lhe levaria a mal. Ou melhor: haveria sempre quem o recriminasse nos jornais por mau feitio ou arrogância, mas o comum dos telespectadores compreenderia perfeitamente. Um primeiro-ministro, pelo facto de o ser, não perde o célebre direito à indignação que assiste a qualquer cidadão, como explicou Mário Soares em devido tempo, a propósito de questões igualmente sérias. E a verdade é que Sócrates, com a sua fama de 'animal feroz', deu provas, afinal, de uma grande contenção perante as repetidas exibições de agressividade, raiando por vezes a má educação, com que um dos entrevistadores entendeu brindá-lo e a todos os telespectadores.
Um jornalista não tem que ser venerador e obrigado quando entrevista o chefe do Governo, o Presidente da República ou outra figura cimeira do Estado. Nem deve, obviamente, coibir-se de fazer as perguntas que considere relevantes, por mais incómodas ou desagradáveis que possam ser. Mas tem a obrigação de saber qual é o seu papel em cada circunstância.
Uma entrevista televisiva pode revelar-se tão assassina para quem responde como para quem pergunta. Por isso, custa a perceber que um entrevistador experiente e bem informado, como é Ricardo Costa, tenha caído na tentação de fazer de cada diálogo uma zaragata e de acompanhar cada pergunta de uma opinião pessoal que os telespectadores não lhe pediram — e na qual talvez não estivessem minimamente interessados naquele contexto.
A noite pouco feliz de Ricardo Costa é um bom pretexto para se reflectir sobre as tentações do jornalismo justiceiro e a auto-regulação de que sempre falamos para contrapor aos excessos dos reguladores oficiais, que terão sempre tendência para o ataque censório. Se os próprios jornalistas não fizerem essa reflexão sobre o seu papel e o seu comportamento, alguém vai fazê-la por eles, mais tarde ou mais cedo e com consequências funestas, quer para a liberdade que tanto prezamos, quer para a prosperidade dos media. Afinal, hoje é cada vez mais fácil mudar de canal. E quando vemos a SIC, que nos habituou ao melhor jornalismo televisivo, fazer do ministro das Finanças um boneco animado, passando-o em imagens aceleradas e sem som — com a justificação de que ele não tinha dito nada de novo numa conferência de imprensa — é fácil perceber que estamos a ultrapassar, não já as elementares regras do jornalismo, mas os próprios limites da decência. Como se o inenarrável modelo Moura Guedes, da TVI, tivesse feito escola e contaminasse já toda a informação televisiva. Ou como se alguns editores de política se tivessem rendido às escolhas e aos métodos de trabalho dos 'Gato Fedorento'.”
7 comentários :
Toda a razão! Eu própria, que via habitualmente, a informação da SIC, ao ver as imagens do Ministro das Finanças e a postura inqualificável de Ricado Costa, decidi muda de canal e vejo agora a informação da RTP.
Como aqui escrevi, não gostei nada da entrevista, cheirou-me a peixarada de 15 dias - também equacionei o meu abandono da entrevista, mas isso era minha atitude, não a de 1º ministro - se Fosse SR. Cavaco, PR, nãop se +ponham naqueles termos e a interromper constantemente a entrevista
Tinha dado ponto final.
Ze Boné
Grande texto. Parabéns ao Fernando Madrinha.
Absolutamente de acordo.
Afinal não estou sozinha na opinião.
Bastou o Pacheco dizer que a TVI é quem tem a melhor informação para o RCosta fazer o numero.Pavloviano.
E atenção o cão é obviamente o Rcosta.
Alias isto mais a "queixinha" de Belem a Balsemão por causa do MCrespo, mostrra bem quem controla e manipula os media em Portugal....O Pina Moura.
Se é verdade que R.Costa vai para o Expresso ,não me parece que vá lá encontrar um ambiente muito favorável.E o Sócrates é que era arrogante?
Muito certeiro e verdadeiro como tudo aconteceu.
A atitude arrogante raiando o brejeiro, RC foi a figura (ão) da entevista.
Parabens a F.Madrinha pela coragem em escrever tal artigo, pois por essas bandas a censura está a progredir.
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