- “O TGV constitui a oportunidade de corrigir o erro centenário que consistiu na adopção de uma bitola ibérica diferente da europeia. Uma visão provinciana da vizinha Espanha e o receio da utilização militar do comboio como instrumento de uma possível invasão da Península condicionaram esta escolha. O incómodo de sucessivas gerações de passageiros do Sud Expresso que tinham de mudar de comboio em Handaia representa apenas uma fracção do custo suportado por Portugal e Espanha na ligação aos nossos principais parceiros comerciais. A emergência avassaladora do camião TIR e até do avião como instrumentos privilegiados do transporte de mercadorias são consequência directa de um modelo que penalizou excessivamente o comboio e limitou a sua eficiência.”
- “(…) se virmos o que se passa na nossa vizinha Espanha a situação é pior. No mesmo dia, Solbes, o ministro das Finanças, anunciava: "A pior recessão de sempre. A crise destruirá 600 mil postos de trabalho, o desemprego chegará aos 16% e o deficit rondará os 6%." E concluía: "Vamos viver momentos muito duros em 2009."
No mesmo dia, 17 de Janeiro, Le Monde anunciava que alguns países da Zona Euro estão a sofrer uma dura recessão. E dava como exemplos: Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal. Isto é: a crise é geral e vem de fora, como sabemos.
Por isso, parece-me francamente injusto que a dr.ª Maria Manuela Ferreira Leite, líder do PSD, tenha comentado o "Orçamento Suplementar" atribuindo todas as culpas à política do Governo Sócrates. Onde viverá, pergunto, com todo o respeito, a dr.ª Ferreira Leite, para ignorar tudo o que se passa no mundo e, especialmente, na União Europeia? Será que está tão obcecada por Sócrates que não vê o que se passa à nossa volta?...”
- “Inspirado na carta que John Maynard Keynes dirigiu a Franklin D. Roosevelt aquando da sua eleição, Paul Krugman escreveu uma carta aberta a Barack Obama. Os paralelismos são evidentes: enfrentamos uma crise que só tem paralelo com a "grande depressão" e as expectativas depositadas na nova administração norte-americana são comparáveis com o que se esperava de FDR. Mas será o caminho a percorrer idêntico ao de Roosevelt? Sim e não, é a resposta de Krugman.
(…)
Quando a economia se encontra em profunda depressão, há que colocar as preocupações com os défices orçamentais de lado. Roosevelt nunca conseguiu fazê-lo, adoptando uma política cautelosa. Com as empresas e os consumidores a cortarem drasticamente na despesa, a economia enfrenta uma diminuição brutal da procura, que só pode levar a uma queda violenta no emprego. Neste momento, só o Estado pode impedir esta trajectória. Como? Ocupando o vazio deixado pela retracção do sector privado, aumentando a despesa pública e apoiando o emprego. Krugman alerta que gastos desta dimensão, numa altura em que a receita fiscal só pode diminuir, irão produzir um desequilíbrio orçamental assustador. A alternativa é um aumento exponencial do desemprego, que acarretará níveis de perturbação política com consequências imprevisíveis e que empurrará grandes franjas da classe média para a pobreza.
(…)
Quando a Europa revela uma timidez assustadora perante a dimensão dos problemas que enfrentamos, mais uma vez resulta claro que devemos esperar da nova administração norte-americana o desbravar do caminho para superar a actual crise. Um caminho que, como sugere Krugman, não depende de uma sucessão de pequenos ajustamentos, mas sim da capacidade de repensar profundamente as instituições, políticas e regras que nos trouxeram até aqui. É por isso que precisamos de um novo Keynes e de um novo Roosevelt, mais do que regressar a Keynes e a Roosevelt.”
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