- “Recordemos apenas os casos mais recentes. Com o "escândalo" Casa Pia lançaram-se durante meses suspeitas e insinuações sobre inúmeras figuras com notoriedade, da política e do espectáculo, um juiz foi ao Parlamento prender um deputado e ex-ministro com as câmaras de televisão a transmitirem a cena em directo, demitiu-se o líder do maior partido da oposição, fez-se um circo mediático em torno do maior humorista português, fizeram-se milhares de escutas telefónicas que envolveram o próprio Presidente da República, as escutas apareceram transcritas na Imprensa, enfim, um chorrilho de devaneios que enlamearam meio mundo. Responsáveis por este desvario? Ninguém!
Esgotado o tema, o desaparecimento da pequena Maddie suportou o crescimento das audiências das televisões e dos jornais; diariamente foram surgindo revelações bombásticas, provas científicas, indícios seguros e, depois do tiro ao alvo em suspeitos de ocasião, a investigação policial encontrou os culpados: os Pais da menina desaparecida. O herói desta sublime investigação foi o Inspector da PJ cuja notoriedade subiu aos píncaros da glória, com direito a entrevistas de jornalistas de referência. Terminada a cena, o M.P. verificou que os pseudo indícios e as pseudo provas científicas não tinham qualquer valor; o processo foi arquivado! Responsáveis por este tremendo fiasco, demolidor para o sistema de justiça? O único sacrificado foi o director da PJ que num desassombrado gesto de honestidade reconheceu que foi prematura a constituição como arguidos dos pais de Maddie. O Inspector responsável pelo fiasco foi proposto por uma concelhia do PSD para liderar uma Câmara do País! Não é extraordinário?
Agora, com o mesmo afã justiceiro e com evidentes interesses não revelados, alguns media, com a cumplicidade de alguns elementos do sistema de justiça, apontam as suas baterias a um alvo mais alto, tentando abater o Primeiro-Ministro e com isso criarem uma crise política sem precedentes. É a "cereja no bolo" da irresponsabilidade em que navegam dois poderes não escrutinados e sem legitimidade democrática. Não pensem as oposições que isto é com o actual Governo. Será com quem se atreva a governar contra os privilégios e os interesses instalados, ora corporativos, ora de grupos que controlam os media. Convém não esquecer que já vimos este filme com o fundador do PSD e com outras figuras desse e de outros partidos que, embora inocentes, foram sacrificados no mesmo palco. Não cito os seus nomes para não reavivar o sofrimento por que passaram. Afinal, onde está o poder mais forte? No voto, ou nos poderes feudais que estão acima e à margem dos votos dos portugueses?”
- “O caso Dreyfus, como muitos outros antes e depois dele, mostra o ladro negro do poder do sistema judicial. Quando um sistema criado para certificar a procura e o triunfo da verdade despreza a verdade e funciona como se estivesse acima das leis por cujo cumprimento lhe cumpre zelar, instrumentalizando o extraordinário poder que lhe é conferido, não há Estado de Direito. Sem Estado de Direito, não há grande chance para a democracia, até porque não há para aí Zolas aos pontapés. O que há aos pontapés é gente que, quiçá imaginando-se da estirpe do autor de J'accuse, se compraz em funcionar como guarda avançada dessa instrumentalização da verdade. "O meu dever é falar, não quero ser cúmplice", escreveu Zola. É sempre boa altura para lhe honrar o repto.”
- “Sobre os factos não sei nada, só posso ser testemunha abonatória de José Sócrates: ele é o melhor primeiro-ministro que já tive. Mas isso é irrelevante. Por isso, já que a suspeita foi instalada, só posso afirmar a minha dúvida: não sei. Mas já sei, tenho até absoluta certeza, que há quem queira instrumentalizar essa minha dúvida. Enquanto esteve com a polícia e magistrados ingleses, a investigação foi o que devia ser, silenciosa. Desde que chegou a Portugal, há dez dias, foi um ver se te avias de informações às pinguinhas. Sou do meio, sei do que falo: investigação jornalística, o tanas. Milho atirado.”
6 comentários :
Em Portugal, a investigação criminal não tem competência técnica nem dimensão ética. O que se está a passar, diz bem da impunidade dessa gente. Foi pena que o Governo, que tanto prometeu nesta área, não tivesse ousado descontruir o sistema. Espero que tenha a coragem de o fazer na próxima legislatura.
Este país é um pombal sem um marquês ou um Zola à altura...
Ferreira Fernandes desmistificou - finalmente, alguém o faz! - o que falsamente se chama neste caso (e noutros) "investigação jornalística". Só não vê quem não quer.
Fernanda Câncio escreveu um texto notável. Faz bem em recordar o célebre processo de um judeu que, só porque o era, foi vítima de maus servidores do Estado. Uma infâmia.
Finalmente, ouvi Proença de Carvalho lembrar a conspiração (sim, conspiração provada em tribunal) de 2005 e que os media praticamente ignoraram. Será preciso dizer mais sobre critérios editoriais?
Ferreira Fernandes desmistificou - finalmente, alguém o faz! - o que falsamente se chama neste caso (e noutros) "investigação jornalística". Só não vê quem não quer.
Fernanda Câncio escreveu um texto notável. Faz bem em recordar o célebre processo de um judeu que, só porque o era, foi vítima de maus servidores do Estado. Uma infâmia.
Finalmente, ouvi Proença de Carvalho lembrar a conspiração (sim, conspiração provada em tribunal) de 2005 e que os media praticamente ignoraram. Será preciso dizer mais sobre critérios editoriais?
A Fernanda pode falar e escrever - que a mim não me leva: nem ela é Zola nem Sócrates um judeu com azar. Ao Ferreira Fernandes também não lhe fica bem dizer que não há jornalismo de investigação em Portugal. Ainda outro dia a Fernanda Câncio se arvorou em jornalista de investigação - mas, afinal, não investiga nada: é uma pombinha que come o milho que lhe dão.
Nunca votei no PS, mas nas proximas lá estará o meu voto e da familia, isto porque não concordo com a campanha negra em destruir uma pessoa, assim não, não vale tudo.
Espero que na proxima legislatura o PS ponha, o MP a PJ e os jornalistas na ordem, criando leis mais severas para o cumprimento dos seus deveres.
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