segunda-feira, março 16, 2009

Defender a escola pública



Para alguns professores:
    • Permitir que todos os alunos do 1.º ciclo tenham acesso a actividades como o inglês, o desporto, ou a expressão artística, sem qualquer encargo para as famílias, quando no passado era preciso comprar no mercado estes serviços;
    • Modernizar um parque escolar degradado, apostando no encerramento de escolas que não serviam a ninguém, a requalificação de escolas em mau estado, e a construção de muitas outras, para além de toda a modernização da componente tecnológica no interior dos estabelecimentos;
    • Democratizar o acesso a novas tecnologias através da distribuição de computadores a todos os alunos e professores do país;
    • Dduplicar o número de crianças apoiadas através da acção social escolar;
    • Reduzir o abandono escolar e trazer milhares de alunos de novo para a escola, depois de já a terem abandonado;
    • Colocar os alunos a trabalhar mais na escola, que é a instituição que tem a obrigação de os ensinar, e não em casa ou no explicador, onde as desigualdades pesam de forma espectacular sobre a aprendizagem das crianças;
    • Reforçar o ensino da matemática e pôr os miúdos a ler mais;
    • Universalizar as provas de aferição no 4.º e no 6.º para obrigar os professores a ir acompanhando a evolução dos alunos e a reflectir sobre as suas estratégias pedagógicas;
    • Diversificar a oferta formativa no ensino secundário, permitindo aos alunos aprender uma profissão e saírem para o mercado de trabalho com uma qualificação reconhecida pelos empregadores, e que lhes mantém aberta a porta para continuar os estudos no futuro, se assim entenderem;
    • Envolver outros níveis de poder — em particular, as autarquias — bem como os pais, e outras instituições a sociedade civil num ‘contrato pela educação’, acabando com o 'feudo' dos professores, no qual as escolas deste país se haviam transformado;
    • Dar mais recursos humanos e financeiros a escolas que concentram alunos com mais dificuldades, em zonas socialmente mais problemáticas (escolas TEIP);
    • Dar mais autonomia às escolas, obrigando-as a pensar nos seus projectos educativos e a gerir melhor os seus recursos...
…é destruir a escola pública.

Nunca a diferença entre o que é o interesse corporativo, digo mesmo, egoísta dos professores e dos seus sindicatos, e o interesse dos alunos, dos pais e do país esteve tão à vista.

O problema não está nas reformas deste Governo. O problema está em elas terem chegado tão tarde. Talvez se evitasse que estes senhores tivessem passado tanto tempo a achar que a escola é deles, e tem que os servir.

Mas não é, e não tem que os servir. São eles que tem que servir o país. É para isso que são pagos, e são bem pagos. Aliás, no fim da carreira – onde todos queriam chegar sem prestar provas a ninguém – mesmo muito bem pagos, ao nível dos melhores do mundo, em termos absolutos. E isto que é dos mais pobres da OCDE. Repito: temos dos professores mais bem pagos do mundo num dos países mais pobres da OCDE. O país não sabe disto.

E tudo, claro, em nome da escola pública, claro – cuja defesa, para esta gente, imagino, também deve incluir:
    • Abandono e insucesso escolar a níveis recordes do mundo desenvolvido, ou, se quiserem, ao nível do terceiro mundo;
    • Escolas a cair de podre;
    • Actividades extra-curriculares, computadores e explicações (i.e., trabalho suplementar) só para as meninas e meninos das famílias ricas;
    • Escolas fechadas sobre si próprias, com professores que não prestam contas a ninguém a não ser aos colegas, com quem têm um contrato implícito para não, colegialmente, os chatear (também conhecido como ‘solidariedade docente’);
    • Professores que quanto mais ganham, menos lhes é pedido na escola — algo que ninguém no país, quando lhe contam isto, acredita ser possível;
    • Escolas dependentes do Ministério da Educação, ao mesmo tempo que os professores gritam hipocritamente por “autonomia!”, coisa que, quando lhes chega a altura para a assumirem, não a querem, porque ser autónomo dá trabalho e é uma chatice. Mais vale depender do paizinho (ou da mãezinha) da 5 de Outubro, para poderem continuar a queixar-se de tudo de mal que acontece na escola.
Isto sim, é, para esta gente, a “escola pública” que tínhamos (e em parte ainda temos, que não é possível limpar isto tudo em tão poucos anos), e merece ser defendida.

E ainda se queixam dos níveis recordes de reformas antecipadas dos professores mais experientes. Ora, reformem-se todos, que bem precisamos de professores novos e de cabeça limpa, sem os vícios e a hipocrisia reinante.

Contributo de Pedro G. (recebido por e-mail)

7 comentários :

Anónimo disse...

A comunicação social não sabe, nem quer saber, o que realmente se passa nas escolas deste país. Se a maior parte dos pais (dos que são realmente responsáveis) soubesse o comportamento irresponsável dos professores na educação das crianças, já há muito tempo, que a bagunça em que se tornou a escola pública, tinha acabado. Os professores, directa e indirectamente (através dos CEs), são os maiores responsáveis pela situação a que chegou a escola publica neste país.

ana disse...

Eles têm razão, coitados. Quem é que quer deixar o bem-bom? Horários feitos à medida (deles, é claro), cursos de formação escolhidos pela proximidade de casa, ordenado certinho e grandinho mesmo não tendo qualquer competência para a função, desconhecimento total do que é a selva cá fora...É bom que vão começando a perceber que o país é demasiado pequeno para portugueses de 1ª, 2ª e 3ª. Estavam habituados a mandar no Ministério e agora admiram-se porque o patrão quer mandar neles. E já vai tarde...

Anónimo disse...

Bom , directo e verdadeiro artigo. Completamente de acordo.

Anónimo disse...

ESPECTACULAR POST!!!

Dos mais esclarecedores e incisivos que já li sobre a matéria.
Os meus parabens!

Anónimo disse...

O problema é que este diagnóstico está altamente incorrecto, inquinado pela politiquice rasteira. Na realidade, o que se pretende é que os partidos consigam controlar ainda mais as escolas (basta ver o que se irá passar com as autarquias a contratar professores), tal como querem controlar tudo (justiça, saúde, ...). O objectivo é só esse, e não venham com essa história da sociedade civil. Os partidos portugueses dão-se mal com a democracia e com associações/instituições neutras ou apartidárias. Quem não está connosco está contra nós. Até internamente funcionam assim.

Anónimo disse...

Caro Miguel:

Vai bardamerda - um monte de mentiras, pretensamente recebidas via e-mail, não tornam mais verdadeira o caos que é o Ministério da Educação e a anarquia que impos às Escolas nesta legislatura.

Para cada ideia boa posta em prática (na maior parte dos casos feita por tentativa e erro, sucessivamente, com quatro e cinco remendos de legislação) há dez mel feitas e que deram cabo de coisas que funcionavam

Mas, não te preocupes, este ano avaliação - e os professores (tal como os militares, os Juízes, os médicos, os enfermeiros, os polícias, os guardas e muitos outros) terão imenso prazer em AVALIAR o "engenheiro" e a sua camarilha, mais os moços das sondagens que se enganam sempre para o mesmo lado.

Anónimo disse...

Sim eles que se reformem(o Teixeira que facilite isso) pois as novas oportunidades têm que ter uma saída...