sexta-feira, abril 03, 2009

Leituras

• Daniel Amaral, Desemprego e tratos de polé:
    “Nos últimos quatro anos terminados em 2008, por razões que nada têm a ver com a governação, o crescimento do PIB não foi além de 1% em média por ano, algo que deveria conseguir-se através das habituais melhorias de produtividade e sem emprego adicional. De facto, não foi assim. No decorrer deste período ainda foram criados 75 mil novos empregos, muito acima dos 21 mil que, em condições semelhantes, foram criados nos quatro anos anteriores.

    Sucede que esta não é uma crise normal. E os apelos que hoje fazemos aos agentes económicos deixaram de ser racionais. Ao Governo exigimos que salve as empresas, que baixe os impostos e que aumente os subsídios - mesmo que não haja dinheiro. E às empresas exigimos que ignorem a gestão, que recorram aos capitais e que mantenham o emprego - mesmo que não devam fazê-lo. Quando a poeira assentar, vamos concluir que o orçamento estoirou, que as empresas faliram e que o desemprego subiu.

    Antecipemos o óbvio. O PIB, que nunca estivera bem, caiu a pique a partir do quarto trimestre de 2007. As empresas, que só mais tarde se aperceberam disso, começaram a despedir no segundo trimestre de 2008. E o desemprego, em reacção por tabela, disparou em flecha logo a seguir. O resto é previsível: no final da legislatura, vamos ter menos emprego do que tínhamos no começo. Por culpa de Sócrates? Defender esta tese é não ter a noção do ridículo.

    Mas o ridículo às vezes compensa. E terá sido isso que pensaram os elementos da JSD. Sem saberem o que fazer aos tempos livres, e sequiosos de contribuir para a grandeza do partido, conceberam uma caraça com um narigão de todo o tamanho e um nome apelativo - Pinócrates. Mensagem subliminar: Sócrates é mentiroso, anda há quatro anos a enganar os portugueses. Eis um excelente contributo para a dignificação da política: o insulto pessoal. Estes meninos vão longe...

    Chamada a pronunciar-se sobre o teor desta mensagem, Manuela Ferreira Leite encolheu os ombros: aquilo eram irreverências da juventude, ponto final. Estavam validados, quiçá refinados, os tratos de polé. Mas a líder do PSD, que tão amargamente se queixa de que ninguém a ouve, faz questão de marcar as suas diferenças, apelando àquilo a que chama uma imagem de credibilidade. Fico perplexo. Se isto acontece com uma pessoa credível, que aconteceria se o não fosse?”
• Fernanda Câncio, Pressões impressivas:
    “Denunciar todo e qualquer protesto contra a violação sistemática do segredo de justiça no caso Freeport como uma tentativa de silenciar a comunicação social e de tentar "abafar" o caso é uma pressão muito eficaz. Como o é acusar de atentado à liberdade de expressão (veja-se a contradição) toda e qualquer pessoa que se insurja contra a violação sistemática das regras mais básicas do jornalismo, no que respeita a este caso, em vários media portugueses, com destaque para o folhetim brega que dá pelo nome de Jornal Nacional. Como o é identificar, entre os actores judiciais "envolvidos" no caso Freeport, os que terão "ligações" ou simpatias na área do PS, insinuando que essa condição, real ou imputada, suscita automático incidente de suspeição - elidindo a existência de outras simpatias político-partidárias nos actores do processo, como se umas contassem e outras não. Trata-se, afinal, de causar nas pessoas a impressão de que um partido - o que governa - é uma associação de malfeitores e que quem quer que contrarie essa visão só o fará pressionado pelo medo, pelo interesse ou pelas associações. E isso, sim, é uma pressão à séria. Abusiva, ilegítima, ameaçadora e antidemocrática.”
• Leonel Moura, “Marinho e Pinto tem sido o verdadeiro provedor de justiça em Portugal”:
    “Neste ponto, tão determinante num tempo de circo mediático, Marinho e Pinto tem alertado para a crescente promiscuidade entre jornalistas e polícias, raras vezes para efeitos de esclarecimento da investigação e quase sempre com vista à manipulação da opinião pública. As fugas de informação de um processo em investigação só podem partir de dois lados, ou da polícia que investiga ou do Ministério Público que conduz a investigação. E, no entanto, praticamente todos os dias aparecem cópias de documentos que estão em segredo de justiça sem que aparentemente ninguém se interrogue como é isso possível. Esta realidade, escandalosa e particularmente grave em qualquer sítio civilizado, tem sido vista por cá como uma espécie de tradição. Erro grosseiro, já que o facto de existirem na polícia e/ou no Ministério Público pessoas que sistematicamente cometem graves ilegalidades só para favorecer determinadas perspectivas da investigação, ou ainda pior, determinados interesses privados ou políticos, é a efectiva origem das balbúrdias constantes em que a justiça no nosso país mergulhou. Acabe-se com as fugas e tudo acalma.

    Elas não acabam contudo porque para além da motivação conjuntural ou mesquinha, existe um objectivo superior. Trata-se de transferir os julgamentos dos tribunais para a chamada praça pública. Incapazes de acusar com provas, certos polícias e certos magistrados colaboram activamente no linchamento mediático das pessoas. E uma vez desencadeado esse procedimento medieval ninguém escapa à condenação. São já demasiado os casos em que esses linchamentos resultaram nos tribunais em absolvição por declarada inocência ou falta de provas. Não é aceitável.

    Marinho e Pinto tem denunciado tudo isto, visando sobretudo e naturalmente aqueles que deviam ser os primeiros a não permitir tais comportamentos. Ao invés de o escutarem, polícias e magistrados parecem contudo empenhados em demonstrar que o bastonário dos advogados tem mesmo razão. Basta ver como agora precisamente o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público vem acrescentar mais alarido à vozearia geral com uma acusação de pressões. Não fosse o estado de delírio em que estamos e a declaração daria vontade de rir.”

1 comentário :

Anónimo disse...

Neste pantano que é a justiça em portugal hoje,

Marinho Pinto tem sido incansavel na denuncia dos seus vários "podres",

que parece a sociedade ja dá como adquiridos, normais e "seus"...

Impressionante o modo como MP veio desmontar as "pressões sobre" os srs. procuradores

quais virgens impolutas

que estarrecem de pudor por qualquer observaçãozinha corriqueira do nosso quotidiano...

Longa vida a MPinto e meus agradecimentos civicos a ele...