sábado, abril 04, 2009
Ler para crer
Hoje, o Expresso, na primeira página, diz que ouviu "mais de uma dezena" de juristas e que "a maioria" deles defende a utilização do DVD na investigação do Freeport. No entanto, lendo o texto do artigo, na pág. 10, essa alegada maioria parece muito relativa...
Se bem me lembro, é aritmeticamente pacífico que ouvir "mais de uma dezena" de juristas implicaria ouvir pelo menos 11 e que, em 11, uma "maioria" exigiria pelo menos seis (6).
Primeiro problema: a notícia só refere nove (9) juristas ouvidos (Bacelar Gouveia, Fernando Negrão, Pedro Mourão, Marinho Pinto, Rui Rangel, Saldanha Sanches, António Martins, Cândida Almeida e Arrobas da Silva), um dos quais (Arrobas da Silva) não se refere sequer ao assunto do DVD. Restam, portanto, apenas oito (8) juristas que se pronunciam realmente no Expresso sobre o DVD (e lá se vai a "mais de uma dezena" de juristas ouvidos pelo jornal...).
Desses oito (8), há três (3) que expressamente se manifestam contra a utilização do DVD: António Martins (juiz desembargador, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses), Cândida Almeida (magistrada, directora do DCIAP) e Saldanha Sanches (fiscalista, que diz que a lei precisaria de mudar para que "no futuro" este tipo de provas pudesse ser usado). Sobram, portanto, apenas cinco (5) juristas (e lá se vai a "maioria" de seis (6), sugerida na primeira página...).
Mas pior: desses restantes cinco (5), um (Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados) limita-se a dizer que o DVD não pode ser mais do que "um ponto de partida" para a investigação e outro (Rui Rangel, juiz desembargador) garante que "o conteúdo" do DVD não pode sequer ser invocado, sendo apenas uma mais-valia para decidir quem deve e quem não deve ser ouvido (chegando a opinar que a lei deveria ser mudada para permitir mais meios de prova).
Bem vistas as coisas, a "maioria" de juristas a que se refere o Expresso resume-se, de facto, a uma minoria de apenas três (3). Mas é justo dizer que estes três "especialistas" não estão em minoria apenas por força da aritmética. Basta ver quem são para perceber que eles pertencem à minoria inteiramente por direito próprio: Fernando Negrão (deputado do PSD), Bacelar Gouveia (mandatário de Santana Lopes à Câmara de Lisboa) e Pedro Mourão (director-geral do Ministério da Justiça no tempo do Governo PSD/CDS)...
De facto, é preciso ter lata!
Palavras para quê? É um jornal "de referência" português.
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7 comentários :
Excelente post. Em todo o caso há que dizer que Henrique Monteiro não é tão crápula como JMF.
Nem acho sequer que Henrique Monteiro seja crápula. Mas este artigo é tão mal feito que é caso para dizer que o feitiço se volta contra o feiticeiro.
O artigo é um disparate e não esclarece quem quer que seja. Serve para encher papel. O autor deve ser bom rapaz mas não compreendeu o texto nem o contexto do dvd. Por outro lado, a Dra Cândida Almeida deu ao dito uma enorme importância ao desvalorizá-lo em termos processuais. A verdade é que o dvd é irrelevante em si mesmo, não tendo, por isso, mesmo que fosse legalmente possível integrá-lo na investigação, qualquer valor. Fiz-me entender?
Esse artigo é como um cozido feito na ìndia, ou uma lasagna no Burkina. O que é referência em Portugal é uma casca de banana no chão...
Excelente. O post do Vasco Campilho que já mereceu os louvores da blogosfera do PSD també tem já uma pequenina resposta.
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/demissao-de-durao-barroso-segundo-vasco.html
O erro é de escrita por parte dos jornalistas e não dos juristas em si...
Neste país é tudo mau. É mau o Expresso, o Sol o Público e a TVI.
É má a oposição.
São maus os sindicatos.
É mau o Presidente da Républica.
Enfim, uma choldra.
Assim de repente, bom, mesmo bom, só o Governo, não é?
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