O Dr. Pinho Cardão sofre de ignorância aguda ou está de má-fé. Veja-se:
1. De facto, Pinho Cardão bem que lê as Contas Gerais do Estado. Mas não as percebe. Custa a crer que, metendo-se por estes atalhos, não saiba que, em 2008, houve uma alteração do modelo de financiamento da rede rodoviária nacional a cargo da EP – Estradas de Portugal, S.A., que se traduziu na consignação a esta empresa, a partir de 2008, da contribuição de serviço rodoviário, quando, em 2007, a sua actividade era financiada por transferências do Orçamento do Estado.
E custa ainda mais a crer porque Pinho Cardão até refere o documento da Direcção Geral do Orçamento relativo a Dezembro de 2008, mas deve ter-lhe escapado a página 6, na qual se diz “Relativamente às despesas de capital, se, para efeitos de comparabilidade, se excluísse à despesa de 2007 o valor das transferências para a EP – Estradas de Portugal, S.A., o correspondente crescimento situar-se-ia em 5.5%.”
Pois é, não basta ser iludido pelos números, tem de se perceber qual a realidade que eles transmitem. Mas, números por números, aconselha-se ao Dr. Pinho Cardão o tal Boletim da DGO, agora o relativo ao primeiro quadrimestre de 2009. Lá está na página 17 que há um aumento de 7,4% face a igual período de 2008. Claro está que esta evolução tem uma causa bem precisa, mas isso não interfere no argumento de Pinho Cardão.
Não conhecer o perímetro de consolidação do Sector Público Administrativo é comparar o incomparável e tornar o pensamento imune a questões tão relevantes como são, por exemplo, a empresarialização dos hospitais (o Dr. Luís Filipe Pereira explica-lhe o que é) ou as verdadeiras parcerias público-privadas.
2. Voltemos agora à questão da boa-fé. Diz Pinho Cardão que “Independentemente de concordar ou discordar, fui ver e, embora já desconfiasse, consegui ficar espantado com o que vi”. Pois bem, pergunte-se aos portugueses quem faz cavalo de batalha em relação aos investimentos: é o Governo que diz que faz ou é a oposição a dizer que não deve fazer? Só por grande descaramento pode vir o PSD dizer que o investimento que diz que está a arruinar o país e a empenhar o futuro… afinal não existe.
Esta é uma contradição grave do PSD que encerra um profundo populismo: bradam aos sete ventos que o investimento público não resolve a crise, mas não têm a honestidade intelectual de dizer que os investimentos previstos têm carácter estrutural e que, em vários casos, só vão ter repercussão daqui a 3-4 anos.
2 comentários :
Dava-lhe antes uma colherada de Blédina com sabor a morango...
A propósito das verdades e mentiras que se dizem por aí, era bom que vissem o que vem escrito hoje no jornal Sol - http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=136325 (é certamente uma notícia com o rosto do Eng. Sócrates).
Mas como sempre, tal não interessa, nem este comentário será colocado no blog.
Ainda assim, fica o registo.
Abraços Miguel e bom trabalho, que, não há dúvidas, tem sido muito (pelo menos nos últimos tempos e a julgar pelo número de textos a atacar o Paulito Rangel).
José Silvério
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