- ‘Quando um partido que está há quatro anos e meio na oposição adia sistematicamente a apresentação do seu projecto para o país não só prejudica a qualidade da democracia, como se sujeita a que interpretemos as declarações dos seus protagonistas e que, à sua luz, retiremos as conclusões. É, pois, legítimo que concluamos que a estratégia do PSD para os próximos anos assente no enfraquecimento do papel do Estado na saúde, na educação, na protecção social. Podemos fazê-lo, não só porque abundam as declarações neste sentido, mas porque essa foi a prática do PSD nas recentes passagens pelo governo.
O mais próximo de um programa do lado do PSD que se conhece é o que consta dos documentos produzidos pelo Instituto Sá Carneiro. Lá podemos encontrar o reforço da "liberdade de escolha" na saúde e na educação, a comparticipação dos cuidados de saúde dos utentes em função do seu rendimento, o direccionar do papel do Estado eminentemente para as funções de regulação e fiscalização, a visão redutora do papel do sistema fiscal na redução das desigualdades.
Em 1997, o Partido Trabalhista espalhou por todo o país, na véspera das eleições no Reino Unido, um ‘outdoor' que interpelava os eleitores: "24 horas para salvar o SNS".’
- ‘(…) não só há quem não consiga definir o que é rico, como, pasme-se, defende que o sistema fiscal não deve servir para corrigir disparidades de rendimentos. Manuela Ferreira Leite, com a sensibilidade social que a caracteriza, tem a peculiaridade de fazer a quadratura do círculo: hesita na definição do que é ser rico e acha que o sistema fiscal nada tem a ver com o assunto. Tudo isto tem uma vantagem, torna as escolhas mais claras. Até porque não há linha de demarcação tão nítida entre esquerda e direita como a defesa da progressividade do sistema fiscal. Isto é, colocar o sistema fiscal também ao serviço da justiça social, logo da promoção da equidade entre ricos e pobres.’
• Vital Moreira, O que está em causa [Público]:
- ‘Provavelmente, ao contrário da opinião dominante, nunca foi tão marcada a diferença entre as duas propostas políticas entre as quais se decidem normalmente as eleições parlamentares entre nós, a saber entre o PS e o PSD. De um lado, a visão liberal-conservadora que o PSD de Ferreira Leite perfilha de modo exemplar, culminando a viragem "laranja" para a direita. Do outro lado, a visão social-progressista, que o PS de Sócrates pratica de maneira consistente, consolidando a modernização da esquerda democrática em Portugal.
A diferença é evidente em todos os planos. Desde logo, na esfera económica, como se mostra na questão do papel dos investimentos públicos na dinamização da economia. Depois, na esfera social, porventura onde o fosso mais se tem aprofundado, em virtude da deriva neoliberal do PSD e da aposta do PS na sustentabilidade dos três pilares clássicos do Estado social, designadamente o sistema de segurança social pública, o serviço nacional de saúde e a escola pública. Por fim, na concepção da liberdade e a autodeterminação individual, onde a diferença também se tem reforçado, mercê da posição retintamente reaccionária da actual líder do PSD em matéria de família e do sólido compromisso do PS com os novos valores acerca da emancipação individual.’
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