- PINGUE-PONGUE NA TV
‘Os debates televisivos não substituem as eleições, nem é certo que decidam o voto de muita gente. Permitem, em todo o caso, que cada um de nós faça a sua avaliação de desempenho dos líderes. Sócrates, aquele que, em princípio, tinha mais a perder, na verdade tem vindo a ganhar, sobretudo depois de, por uma vez, ter posto Louçã à defesa. Sendo o Bloco o adversário principal do PS, logo a seguir ao PSD, Sócrates marcou pontos importantes junto de um eleitorado especialmente atento e sensível àquele debate em concreto. Em contrapartida, e por muitos méritos que tenha como polemista, Louçã perdeu esta campanha de 'frente-a-frentes', ao falhar precisamente naquele que era o mais decisivo para ele, dado que o Bloco pode ser o destino de muitos eleitores descontentes com o PS.
Já Ferreira Leite se tem revelado bem mais frágil do que se esperava. Mesmo nas áreas que supostamente domina, faltam-lhe argumentos, ou a habilidade de os utilizar, comete gafes incompreensíveis e evidencia vulnerabilidades que nenhuma voz grossa, como a que por vezes ensaia, é susceptível de resolver. Foi cordata com Louçã e mais concordante do que alguém podia imaginar, foi áspera com o putativo aliado Portas e em ambos os casos perdeu.’
UM MÍNIMO DE COERÊNCIA!
‘Não há líder do PSD que não se espalhe na Madeira, que não venha de lá enxovalhado ou diminuído na sua imagem. Isto acontece porque nenhum teve jamais a coragem de enfrentar Alberto João Jardim e de criticar abertamente o seu 'modelo de democracia'. Como precisam dos votos dos madeirenses e assumem que Jardim é seu proprietário, sujeitam-se a essa experiência radical que é tê-lo como anfitrião, condescender com os seus tiques de tiranete e responder com o silêncio envergonhado à sua impenitente grosseria. Há até inteligentíssimas almas pias no mesmo PSD, entre as mais exigentes com a qualidade da democracia portuguesa, que, perante os desmandos de Jardim, preferem desvalorizá-los e atacar quem os critica.
Em Julho, Manuela Ferreira Leite livrou-se do arraial de Chão de Lagoa graças a uma gripe providencial. Esta semana lá cumpriu a romagem eleitoral. Como é da praxe, Jardim soltou o seu insulto, desta vez aos que condenavam o uso de um carro oficial numa operação de campanha, crítica que lhe deve ter soado realmente estranha, porque se há uma região do país onde partido e Estado não se distinguem, a Madeira é essa região. Toda a gente o sabe. Como sabe que a liberdade de informação e de expressão são fortemente condicionadas, inclusive no Parlamento, que a actividade económica está extremamente dependente do poder político regional, que na própria Justiça há queixas de pressões, que o representante da República e órgãos de soberania como os tribunais de Contas e Constitucional são sistematicamente desconsiderados e ofendidos. Toda a gente sabe isto e muito mais, mas Ferreira Leite não se limitou a fingir que ignorava. Confrontada com a inevitável pergunta sobre o regime madeirense e a 'asfixia democrática' que, a seu ver, existe no Continente, desfez-se em elogios à governação da Madeira, garantido que lá não existe 'asfixia' alguma. Porque não a sentiu e — pasme-se! — porque Jardim ganha sempre as eleições, argumento que serve para branquear e legitimar todo o tipo de abusos e tropelias.’
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