- ‘Fernando Lima foi demitido. Tanto ano de trabalho comum e de leais serviços apontariam para outra solução: Lima pedia demissão, o Presidente lamentava mas aceitava a demissão. Essa seria a fórmula low-profile adequada à maneira pública e de fazer política a que os dois nos habituaram, Lima e Cavaco. Mas não. Lima foi demitido. É que a tal fórmula, a de pedido de demissão, deixaria pairar uma suspeita: Lima estava a proteger Cavaco... Ora, o essencial era defender Cavaco Silva. Então, o bode expiatório aceitou a degola. Com esta consequência: demitido, confirmou que tinha havido, mesmo, uma cabala para culpar o Governo de escutas em Belém. E confirmou já. Quer dizer, a cabala acabaria por ser verificada daqui a poucas semanas, com a inexistência de provas de escutas e, por outro lado, com a existência das manobras de intoxicação vindas de Belém. Mas essa versão, a acontecer só daqui a semanas, arrastava Cavaco para a cumplicidade na cabala. Daí, a urgência de demitir Lima, já e na fórmula que só o culpa a ele. O que tinha um senão: demitir Lima antes de domingo penalizava o PSD. Ponderado tudo, que fez Cavaco Silva? Demitiu já. Isto é, obrigou o PSD a procurar um candidato leal para as próximas presidenciais.’
- ‘Ora, este caso das escutas atinge esta imagem de Cavaco no seu cerne. Porque razão o Presidente avisa num dia que irá pedir "mais informações sobre questões de segurança" logo a seguir às eleições, para depois no outro demitir Fernando Lima, seu assessor desde 1985?
(…)
Todos os Presidentes usaram os seus poderes formais e informais para influenciar e moldar a formação dos governos, o poder do executivo e a legislação aprovada. Mesmo assim, da política partidária à conspiração existe alguma distância.’
- ‘Calendários impossíveis. Não é aceitável, não é compreensível, que tenha passado mais de um mês sobre a manchete do jornal "Público" acerca dos receios de Belém andar a ser escutado por S.Bento, sem que de Belém tivesse saído alguma declaração que fizesse luz sobre tão negra hipótese. Depois da primeira página do "DN", com a divulgação do procedimento que aparentemente terá dado azo à publicação desta matéria, eis que o Presidente vem a terreno apenas para dizer que vai tratar do assunto a partir de 28 de Setembro! Como se questões de segurança fossem compagináveis com arranjos de calendário.
Comunicação ao país. No ano passado, tivemos a expectativa de uma comunicação ao país por parte do Presidente da República que depois se revelou ser sobre as suas preocupações quanto ao Estatuto dos Açores. Não tirando carga relevante à matéria, a verdade é que se se faz uma declaração ao país no ‘prime time' televisivo sobre uma matéria destas, mal se compreende que impere o silêncio sobre o caso das escutas que está a ensombrar o regular funcionamento das instituições, que matou uma campanha eleitoral e que colocou a confiança dos portugueses nos políticos no grau zero da escala.’
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