Passagem da entrevista dada por Pedro Caldeira, corretor nos anos 80, ao Jornal de Negócios/Weekend:
- Jornal de Negócios (J de N) — No caso do BPP há uma relação com a crise. No BPN o problema iria surgir independentemente da crise. Quando frisa no livro que os problemas do banco eram comentados há muito tempo no mercado, aponta o envolvimento do Presidente da República (PR)...
Pedro Caldeira (PC) — Faço perguntas no livro por uma questão muito simples. Estamos a falar do PR, não de um qualquer cidadão. Primeiro defende Dias Loureiro até às ultimas consequências. Depois vem dizer que não tem nada a ver com o BPN. Mas afinal soube-se que ele tinha acções da SLN. Por que é que não disse logo na altura? Onde é que as comprou? Como é que deu a ordem? Como é que diz que comprou a um euro e vendeu a três euros? Quem é que as vendeu e quem fez o preço? Nesse dia ou nessa semana houve outras transacções fora de bolsa a esse valor? Tudo isto ficou em aberto.
J de N — Receia que o facto de haver um envolvimento da maior figura da nação possa condicionar uma decisão judicial desse caso?
PC — Não acho que os juízes sejam pressionados por esse género de coisas. O que me interessa - e é por isso que falo deste assunto no livro — é saber o que é que aconteceu na realidade com estas acções de Cavaco Silva.
J de N — Por que é que acha isso relevante? Parece que estamos a falar de um eventual caso de tráfico de influências...
PC — Não. Estranho é que ninguém tenha feito estas perguntas ao PR. Tem a ver com a tal subserviência de que falávamos. Com falta de exigência. Se o PR é exigente connosco, também temos que ser exigentes com ele.
J de N — O que é que o surpreendeu mais: o caso BPN ou o BPP?
PC — Nenhum deles. Os problemas dos mercados financeiros foram tão grandes que os dois foram pequenos pormenores.
J de N — Concordou com a decisão do Governo de salvar apenas o BPN?
PC — O grande erro nos EUA foi ter deixado cair o Lehman Brothers. Acho que o Governo fez muito bem em nacionalizar o BPN, pois poderia haver uma corrida aos bancos no dia seguinte. É um caso completamente diferente do BPP. As pessoas que tinham o dinheiro no BPP, pelos vistos, foram enganadas, pois pensavam que estavam a fazer um depósito e afinal não era bem assim. É um caso de tribunal.
11 comentários :
Pedro Caldeira, essa referência moral da democracia portuguesa...
Começam a ser abafadas histórias demais do Cavaco.
Ai se o Caldeira abre a boca ....
"Nesse dia ou nessa semana houve outras transacções fora de bolsa a esse valor? " Houve, Houve. Da filha e genro de CSilva. Por valores unitários da mesma ordem de grandeza. Tudo em família.
Impecheament escreve-se assim ?
Há citações, pela sua origem, tão tóxicas como os activos tóxicos de que tanto se falou...
O Caldeira para estar a falar assim sabe mais coisas.
Deixem o homem acabar o mandato com dignidade.
Precisamente por ser Pedro Caldeira a fazer estas perguntas todas (perguntas que, de resto, qualquer pessoa faz excluindo alguns jornalistas, nomeadamente os do Expresso que levantou a lebre para a deixar fugir ou cair ou apodrecer). Mas, dizia eu, é precisamente o "magnífico" currículo de Caldeira que lhe permite colocar as perguntas certinhas e pela ordem mais correcta. Fala quem sabe.
De mais sabe este e de menos, pelos vistos, sabemos todos menos o nosso "exigente" Presidente dos tabus.
Pedro Caldeira protagoniza nesta entrevista o caso dos hackers que são chamados a trabalhar nas empresas de anti-vírus.
Também me tenho interrogado a C.S. se ter calado sobre as acçoes do BPN...faz aquilo que eu digo, não faças aquilo que eu faço...é o lema do Cavaco.
Toda a gente se cala, não percebo porque
Zé Boné
As autoridades que estão a investigar o BPN, as múltiplas fraudes e negócios escuros, têm obrigação de averiguar a razão por que, no mesmo prazo em que a Bolsa perdeu 30%, o BPN pagou a alguns amigos mais chegados mais-valias de 107% . Deve haver uma razão para isso. Eu tenho um palpite!
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