quarta-feira, novembro 25, 2009

A ignorância da apologia [2]

Não sei sequer se li os dois artigos de Vital Moreira a que Pedro Lomba se refere. Quando digo que o artigo de Lomba é intelectualmente desonesto é porque o seu autor, com o pretexto de dar uma canelada a Vital Moreira, procura meter no mesmo saco Paulo Portas e Sócrates.

Acontece que não resulta das recentes violações do segredo de justiça — partindo do pressuposto de que não estamos em presença de mais um mero caso de envenenamento da opinião pública — uma apreciação diferente do casal Moniz/Guedes da que Sócrates já dera na entrevista à RTP: é “evidente que o casal não era do agrado do primeiro-ministro José Sócrates”. Tratando-se de uma conversa privada entre duas pessoas que eram amigas, é de admitir que o primeiro-ministro não se tenha referido à Sr.ª Guedes nestes exactos termos: — Ó Armando, confesso humildemente que não tenho pela Sr.ª D. Manuela uma elevada estima pessoal.

O assunto morre aqui. Porque se trata de uma conversa privada. E porque a lei não permite que, sem autorização do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, sejam escutados o presidente da República, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro.

Que tem isto tem a ver com o envolvimento de Paulo Portas no processo da Universidade Moderna? Para os mais desmemoriados, é bom recordar (por exemplo, aqui e aqui) como as peripécias do ex-ministro da Defesa foram convertidas, através de um artifício, num crime semipúblico, que, segundo o próprio magistrado do Ministério Público, que logo a seguir aparece como alto quadro dos CTT, "poderiam integrar, muito em abstracto, a prática do crime de infidelidade, previsto e punível pelo artigo 224 do Código Penal". Crime semipúblico que exigiria apresentação de queixa por parte dos sócios da Amostra, por acaso subalternos de Portas. Foi por isto que a coisa morreu, assim, ali (em termos jurídicos).

Não é preciso andar anos a fio a coçar-se pelos Passos Perdidos para perceber que o cu não tem nada a ver com as calças.

11 comentários :

Manuel Duarte disse...

"Não sei sequer se li os dois artigos de Vital Moreira a que Pedro Lomba se refere". Se calhar antes de fazer as afirmações que faz deveria ler o que então dizia Vital Moreira. Talvez então não fosse tão lesto a acusar de desonestidade intelectual quem se limita a fazer uma chamada de atenção para uma incongruência de argumentação da parte de Vital Moreira. Desonestidade intelectual é o que o senhor Miguel Abrantes acaba de produzir com este post. Em boa verdade, o assunto não "morre aqui". Há que saber separar a responsabilidade jurídica (e se quiserem encontrem os culpados das fugas de informação) e responsabilidade política (o que se disse, independentemente de se ter sabido através de uma fuga de informação). Dois, não dói? Mas o que quer, é a vida. Veja lá se consegue arranjar uns argumentos mais bem elaborados, porque esse até o meu filho de 8 meses consegue desmistificar.

Miguel Abrantes disse...

Manuel Duarte:

Não duvido das capacidades do seu filho de oito meses. Já das suas... Se não percebe que as peripécias de Portas não são comparáveis ao que poderá ter sido dito numa conversa privada, você é um perigo público. Cuide-se.

Anónimo disse...

Uns sujeitos estão a fazer obras na cozinha de uma moradia, numa zona abastada de Lisboa. A dona da casa interpela o mestre de obras para lhe dizer que não tolera que digam palavrões. Ele dirige-se aos seus homens e pergunta o que se passou. Um deles responde assim:
- O Manuel estava a soldar um cano e deixou cair um pingo de solda. Atingiu-me o olho direito, e eu virei-me para ele e disse-lhe: Manel, cuidado, acabas de me deixar cair um pingo de solda no olho. Foi mais ou menos assim, chefe!

Manuel Duarte disse...

Pior do que não perceber a ironia, é considerar que pelo facto de se defender uma separação entre responsabilidade jurídica e responsabilidade política (aliás, na linha do que é, ou foi, defendido por Vital Moreira) tal pessoa é um autêntico "perigo público". Salazar, meu caro, não diria melhor: fossem os velhos tempos e você se encarregaria de me enviar a PIDE . Mas enfim, as atitudes e as palavras ficam com quem as pratica e afirma. Já agora, aguardo a sua explicação para o facto de o Pedro Lomba ter sido dispensado do Diário Económico. Áinda tem dúvidas de que quem se mete com Sócrates leva?

Anónimo disse...

Para o Manuel Duarte:
Todo o comentário enferma de petição de principio.
E isto porque:
No caso Portas/sondagens da moderna, existiam factos públicos conhecidos e provados por documento, como sejam:
- O nomeação como gerente da empresa de sondagens, acto público com registo comercial.
- Cheques confessadamente subscritos pelo Dr. Portas, bem como outros documentos públicos da sociedade.
- O dr. Portas até andava com um Jaguar da dita empresa de sondagens. Lembra-se disto, Lomba!! Ou ainda era muito pequeno(novo)
Ora o DR. Portas veio afirmar que os cheques tinham sido assinados em branco, pelo que não sabia para que finalidades tinham sido utilizados posteriormente.
- O Dr. Vital Moreira, considerou, e bem, que quem se desculpa com cheques passados em branco, numa empresa da qual utilizava o carro ( Factos públicos e confessados pelo próprio) demonstravam uma atitude irresponsável e que essa atitude irresponsável como gerente de uma sociedade relevavam para a imagem do político...
No Caso das escutas, apenas existem suposições sobre o que terá sido dito numa conversa telefónica gravada ilegalmente e que resulta de uma intromissão na reserva de vida privada do PM.
Ainda acha que é a mesma coisa!!??? Então deixe de se intitular jurista!!...
Sousa Mendes

Manuel Duarte disse...

Aepnas uma nota relativamente ao comentário assinado por um Anónimo/Sousa Mendes (?). Não me intitulo jurista porque não sou jurista. Não acho que os factos jurídicos sejam os mesmos, daí a necessidade de, como aliás o faz, e bem, Vital Moreira, separar a responsabilidade jurídica (que não existe) da responsabilidade política (que existe, e bem).

Exactamente a mesma responsabilidade jurídica que deve ser assacada quando um governo não demite (ou, no mínimo suspende) um presidente de uma empresa pública e agora vê o tribunal a tomar, ele mesmo, essa iniciativa. Se do ponto de vista jurírico, a atitude da tutela é inatacável, o que me diz da responsabilidade política. Mais uma vez, assobiamos para o ar e fazemos de conta que não se passa nada?

Anónimo disse...

"Não é preciso andar anos a fio a coçar-se pelos Passos Perdidos para perceber que o cu não tem nada a ver com as calças."

pelos vistos é.

o que diz é um disparate que não tem ponta onde pegar.

chacal disse...

O Manuel Duarte é mais um dos juristas ao serviço do social-fascismo que está a resurgir no interior do mp.

Anónimo disse...

Nada pior do que magistrados justiceiros.

Anónimo disse...

Nada pior do que magistrados justiceiros.

Cristiano disse...

Engraçado como as fugas ao segredo de justiça servem para tirar ilações e até condenar peublicamente (neste caso já não se aplica a presunção de inocência)o Paulo Portas, mas quando chega ao Socrates, ai meu Deus que está-se a por em causa o segredo de justiça.
Pelo que se sabe da comunicação social, (o que se sabe do caso "Moderna" sobre o Paulo Portas também é só pela imprensa, porque ele nem invetigado chegou a ser) é o seguinte:
-Um juiz e um procurador de Aveiro viram indicios criminais imputados ao pm em escutas perfeita mente legais, visto que foram furtuitas e por isso não se aplica a autorização do STJ, o "escutado" era Armando Vara.
-José Socrates mentiu (concordo que isto já se sabia) á AR quando disse que desconhecia o "negócio" PT / TVI.
Realmente o cu não tem nada a ver com as calças, infelizmente as suspeitas e os factos conhecidos, que envolvem José Socrates são incomparavelmente mai graves!
E tudo isto foi feito EM EXERCICIO do cargo de primeiro ministro.
Ainda há dúvidas do que é mais grave????