terça-feira, fevereiro 09, 2010

Leituras

• Constança Cunha e Sá, A histeria:
    Parece que o dr. Paulo Rangel vai denunciar no Parlamento Europeu a falta de liberdade de expressão que, segundo ele, existe em Portugal. Confesso que me custa a perceber qual é o alcance desta nobre iniciativa: promover uma comissão internacional para averiguar a saúde da nossa democracia? Não faço ideia. Mas este simples facto revela, por si só, a histeria que tomou conta do País, nos últimos dias.

    O célebre artigo de Mário Crespo sobre uma conversa ouvida, num restaurante, entre o primeiro-ministro e um "executivo de televisão" já tinha dado um sinal disso mesmo. A indignação generalizada que acompanhou esta nova vítima da "asfixia democrática" só se compreende se deixarmos de compreender tudo o resto: a história é fidedigna? Mário Crespo, com base num mail que lhe foi enviado por alguém que estava numa mesa ao lado, afiança que sim; Nuno Santos, o tal "executivo de televisão" que serviu de interlocutor ao primeiro-ministro, garante que a conversa não decorreu da forma como foi descrita. Supondo que sim – o que é supor muito, diga-se de passagem – é difícil compreender como é que uma conversa privada sobre Mário Crespo se transforma num artigo público do mesmo Mário Crespo.

    (…)

    É evidente, como dizem alguns, que sem Sócrates não havia Mários Crespos – basta ver, aliás, a quantidade de Mários Crespos que pululam, por aí, à conta de um primeiro-ministro que nunca soube lidar com a Comunicação Social. Mas se a liberdade de expressão está, de facto, em causa, não se percebe porque é que a Oposição, nomeadamente, o PSD do dr. Rangel, não tira daí as devidas consequências e apresenta uma moção de censura na Assembleia da República. Ou, melhor, percebe-se: porque a Oposição sabe que, por pior que seja o eng. Sócrates, não existe qualquer alternativa ao seu famigerado Governo. Daí que apelar ao Presidente da República para que demita o primeiro-ministro, na situação em que o País se encontra, seja um exercício fútil que dificilmente pode ser levado a sério. Ou seja mais um sinal da histeria que por aí abunda.
• Ferreira Fernandes, Lá fora o debate não vai melhor:
    Rangel disse ainda que um "jornalista muito conhecido, Mário Crespo, (...) viu censurada uma crónica sua, também por sugestão, ou aparente sugestão, do primeiro-ministro." Esta versão ainda não a tinha ouvido. Nem na versão dura, Sócrates para o director do JN: "Sugiro que o censure." Nem, do mesmo para o mesmo, na mole: "O Crespo ainda escreve aí? Ainda?..."

• Mário Soares, A Europa e a crise:
    É por isso que se compreende mal a aliança objectiva dos partidos da oposição - mais ainda os da esquerda do que os da direita - contra o Governo, por se recusar a alimentar o despesismo tradicional da Madeira. É inaceitável a atitude da esquerda radical. A opinião pública portuguesa não pode compreender uma tal posição a não ser recorrendo à teoria perigosíssima do "quanto pior, melhor". Parece que tudo lhes serve para fazer cair o Governo, posição tanto mais irresponsável quanto não se dispõem a oferecer ao País qualquer alternativa. Ora fazer cair Portugal numa situação de ingovernabilidade, pura e simples, seria o pior que nos poderia acontecer, no momento de crise que atravessamos. Os repetidos apelos do Presidente da República a um consenso ou mesmo a acordos pontuais - invocando a situação difícil do País - não servirão de nada? Quer-se o caos pelo caos...?

    (…)

    Basta ler os jornais, ouvir as rádios e ver e ouvir as televisões. O Governo - e em particular o primeiro-ministro - é todos os dias, a todas as horas, atacado, injuriado e ofendido na imprensa escrita e falada. Nunca se foi tão longe nos ataques. E nada se passa. Não há liberdade de imprensa? Será que pensam que o povo português não tem inteligência ou se deixa enganar? Ou que já se esqueceu do que foi a censura e a repressão do antigamente?
• Pedro Adão e Silva, Linha de fronteira:
    Há linhas de fronteira que, uma vez ultrapassadas, nos deixam num ponto sem retorno. A gestão meticulosa de escutas de processos judiciais faz parte duma crescente instrumentalização política da justiça portuguesa.

    A questão não é nem o conteúdo das escutas, nem os protagonistas, é o facto de tolerarmos a sua divulgação, sejam elas de Pinto da Costa, de António Preto ou de Armando Vara. Quando se aceita comentar uma vez que seja, por força de uma avaliação subjectiva da relevância do seu conteúdo, escutas que não deveriam ser conhecidas, está-se a atravessar uma linha de fronteira. Com isso, contribui-se para o sucesso duma estratégia de judicialização da política que não resolverá nenhum dos problemas da nossa democracia, limitar-se-á a agravar todos eles.

1 comentário :

Anónimo disse...

Este senhor Anacoreta Correia não será o mesmo que detinha várias situações de prestação de serviços, de assessoria, em algumas empresas publicas de transporte em Lisboa?