segunda-feira, março 01, 2010

A diferença entre ser espectador e actor

Francisco Seixas da Costa, pessoa viajada e culta, não se conforma com as exurradas informativas das nossas televisões. E contrapõe com um exemplo dos últimos dias, em França:

Este meu comentário vem a propósito do profissionalismo com que ontem vi tratada, ao longo do dia, na televisão francesa, a imensa tragédia provocada pela tempestade, que aqui causou largas dezenas de vítimas. Cada telejornal dos principais canais da televisão francesa, públicos e privados, não alterou o seu formato de meia-hora, tendo, no entanto, tratado o assunto com profundidade, em peças curtas, com notas humanas, diretos breves e concisos, opiniões de especialistas e - muito importante! - com escassíssimas e muito curtas declarações de entidades oficiais. Tudo isto sem deixar de referir outros temas da actualidade francesa e mundial. E, repito, apenas em 30 minutos.
No fundo, a diferença fundamental entre a nossa televisão e as televisões dos países "normais" é que, por cá, os media não resistem à tentação de serem actores, de serem eles próprios notícia - patética, a disputa de há dias, quando duas televisões reclamavam terem sido as primeiras a entrar nos parqueamentos subterrâneos do Funchal -, quando deveriam limitar-se a manter o saudável distanciamento do espectador.
Esta overdose televisiva é uma das principais culpadas pela esquizofrenia actual da vida pública portuguesa, na medida em que não deixa qualquer espaço de respiração - os acontecimentos têm que acontecer, mesmo que não haja nada a acontecer.

3 comentários :

josé neves disse...

Caro,
Já não é de hoje, vem de longe como a tal da fama. Logo depois do ataque às torres gémeas a Judite foi para o Paquistão, alugou um carro e deslocou-se para um local em frente às montanhas do Afeganistâo e pôs-se a discursar às montanhas: "ali atrás daquelas montanhas vivem os... blá, blá, blá vários minutos seguidos.
Depois no Iraque, bem acomedados e ptotegidos num hoter acordado como neutro, portanto protegido e não sujeito a ataques, os nossos jornalistas todos se menearam e reportaram como se fossem heróis em plena luta de guerra: uma piroseira como a da Judite.
No Haiti: uma pornografia de insultos ao povo haitiano com acusações de banditiasmo e falta de policiamento e ordem. Gostava de ver qual a conduta ordeira desses jornalistas, bem instalados, dormidos e comidos, na situação desesperada de fome e mortos familiares debaixo dos escombros das suas casas. Vão lá dois dias, com condições de total comodidade previamente encomendadas, e logo vão filmar a desgraça alheia e pior que isso, fazer críticas insultuosas a tudo que saia do seu moralismo pequeno-burguês bem pensante.
Agora na Madeira foram aos magotes, ao despique a ver quem dramatizava mais a desgraça das populações afectadas. E se não há facto há notícia na mesma, fazem como a Judite: o discurso à montanha.

Anónimo disse...

A França foi promovida a "país normal". É bom saber isso...

Anónimo disse...

Não caro anónimo das 10:03, está a ver o filme ao contrário. A CS portuguesa, é que foi apelidada e bem de anormal! Onde já se viu telejornais de hora e meia de duração?