- ‘Do nosso ponto de vista, a proposta de redução salarial no sentido de melhorar a competitividade não tem qualquer fundamento técnico-económico sólido e revela que quem a sugere não fez um mínimo de cálculos sérios sobre o assunto.
Tentámos, por isso avaliar em que medida se justificaria uma redução salarial nominal para obtermos uma melhoria da competitividade. Para isso, como base na matriz de relações inter-industriais de 2005 (fluxos nacionais) calculámos o conteúdo em salários - conteúdo directo e indirecto (este último através das matérias-primas e outros fornecimentos que o sector exportador consome) - do sector exportador. E chegámos à conclusão que esse conteúdo é de cerca de 33%, ou seja, se os salários diminuírem (ou aumentarem) 10% os preços das exportações, tudo o resto se mantendo constante, caem (ou sobem) 3,3%. O que é que isto significa? Significa que a descida de salários é um instrumento particularmente ineficaz para melhorar a competitividade externa. Por exemplo, para se atingir uma melhoria de 20% na competitividade externa os salários teriam de descer 60%!
Porque é que isto sucede? Por um a razão evidente: é que o conteúdo directo e indirecto em importações das exportações portuguesas é muito elevado (cerca de 40%, de que uma parte importante tem a ver com o petróleo) pelo que só os restantes 60% do valor das exportações são repartidos entre salários e rendimentos do capital.
E, note-se, nem sequer argumentamos com outros efeitos da descida salarial claramente inaceitáveis, como seja o seu impacte na solvência das famílias que recebem rendimentos salariais, as quais veriam os seus rendimentos descer ao mesmo tempo que as dívidas que contraíram se manteriam no mesmo valor.’
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