Change

O Diário Económico fez uma peça na sexta-feira sobre as propostas de Pedro Passos Coelho que é possível retirar do seu livro. O autor chegou a umas percentagens estranhas (na imagem supra) que, à primeira vista, podiam fazer o leitor pensar que se tratava da redução que as propostas implicariam nos gastos públicos em relação ao PIB — ou qualquer coisa revolucionária do género. Infelizmente, tratava-se apenas do peso relativo das propostas inscritas na grande obra escrita pelo líder do PSD.

As propostas são de uma pobreza franciscana. Relativamente a pormenores sobre o "corte" que Passos Coelho propõe nas famosas "gorduras" do Estado, nem vê-los. Gastar melhor, regular melhor, fiscalizar melhor, parece ser este o grande mantra de Passos Coelho para as contas e negócios públicos. Há por aí alguém que discorde?

Quanto à saúde e à educação, para além da defesa de coisas que já existem (universalidade de acesso e central de compras na saúde) e banalidades várias, há pelo menos a coragem de dizer o que se pensa: mais liberdade de escolha na saúde e educação, pondo todos os contribuintes a financiar serviços que — como qualquer pessoa conhecedora da organização e dinâmica de sistemas de serviço público — uma minoria usaria.

Pedro Passos Coelho nunca escondeu que acha que Portugal andou demasiado tempo preocupado em redistribuir riqueza (em dinheiro ou serviços, imagina-se). Agora percebe-se onde quer ir: a sua ideia de redistribuição é aquela que privilegia os mais ricos. Talvez por isso tenha escolhido para o seu núcleo duro Diogo Leite Campos, fiscalista que há uns meses afirmou à SIC que uma família que ganha menos de “2000 euros é muito pobre”, que alguém que aufira 1000 euros não é “classe média”, mas vive na “miséria”, e que um rendimento familiar de “5800 euros por mês em qualquer pais europeu é classe média baixa”.

É caso para perguntar se esta gente conhece — ainda que vagamente — o país em que vive.