Alemanha, a “disciplinada”?

Já cansa ouvir falar na “disciplinada” Alemanha vs. os “irresponsáveis” Estados do Sul da Europa. Se compararmos os défices públicos¹ ao longo desta década, as diferenças entre os “disciplinados” e os “irresponsáveis” não são extraordinárias (deixo de fora a Grécia por razões óbvias). Assim, a Alemanha ultrapassou o défice de 3% definido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento por quatro vezes (ver figura); a França, por cinco vezes; a Itália, por seis vezes; Portugal, por cinco; a Espanha e a Irlanda, por apenas duas (e isto nos fatídicos anos de 2008 e 2009).

A ideia de que o sector público nos PIIGS (há que tirar o G da Grécia, é verdade) gasta como se não houvesse amanhã não tem grande fundamento empírico. Se fizermos a média da década (sobretudo se retirarmos os anos de 2008 e/ou 2009, quando as economias europeias começam e sofrer um choque verdadeiramente fora do comum), as diferenças estão longe de ser espectaculares. A Irlanda e a Espanha têm mesmo desempenhos bem mais positivos do que a Alemanha, apesar de terem sido particularmente atingidas pela crise, em parte por causa do rebentamento da bolha imobiliária.

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¹ Todos os dados disponíveis aqui.