terça-feira, maio 04, 2010

Leituras

• Mário Soares, O momento que vivemos:
    Para compreendermos o momento que se vive em Portugal - e o que aí vem - importa reflectirmos sobre algumas ideias simples e não confundirmos as coisas. Primeira questão: a crise que estamos a viver é fundamentalmente diferente de todas as outras que nos afligiram, depois do 25 de Abril de 1974, e foram algumas. Eu próprio, como primeiro-ministro, tive de fazer frente a duas: em 1976-78 e em 1983-85 e foram ambas de raiz nacional.

    A primeira, para a resolver, tivemos de recorrer ao chamado "grande empréstimo", conseguido com a ajuda, principalmente, da América, da Alemanha e também da Venezuela, logo depois de termos saído do desvario do PREC; a segunda, foi o Fundo Monetário Internacional (FMI) que nos valeu, com as exigências duríssimas que então eram de regra, mas que nos ajudaram a sair da crise, condição fundamental para podermos aderir à CEE, após o Tratado assinado em Belém, em 12 de Junho de 1985.

    A partir daí houve dinheiro bastante, muito do qual, como dizem os peritos, não foi gasto da melhor forma e foi parar a bolsos privados. Mas, enfim, permitiu um progresso sem paralelo na nossa história contemporânea. Portugal, com a adesão à CEE, modificou- -se, criou novas elites e renovou consideravelmente as suas infra-estruturas. A própria mentalidade dos portugueses mudou. Abriu-se à modernidade, à ciência e às novas tecnologias.

    A crise actual é completamente diferente. É uma crise global, iniciada nos Estados Unidos, que contaminou o mundo inteiro e, portanto, a União Europeia e, por essa via, Portugal. É uma crise importada. Os portugueses sofrem- -na mas não foram os seus causadores, a não ser em mínima parte.
• Pedro Adão e Silva, O bloqueio e Alegre:
    No estudo da Marktest, um PSD em crescendo conquista com facilidade eleitorado ao CDS; o mesmo não acontece no espectro esquerdo. A única maioria absoluta do PS foi à custa duma posição particularmente frágil do PSD e coexistiu com bons resultados eleitorais para PC e BE. Como se não bastasse, PSD e CDS têm condições programáticas para entendimentos pós-eleitorais, enquanto as divergências entre PS e os partidos à sua esquerda tornam qualquer forma de diálogo impossível. Numa espécie de profecia que se auto-realiza, o PS foi-se cada vez mais consolidando como partido charneira, encontrando na fixação centrista uma forma de responder ao anquilosamento político dos partidos à sua esquerda, que, convém recordar, não encontra paralelo no mundo ocidental.

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