- ‘O Presidente da República iniciou o seu discurso comemorativo do 25 de Abril apontando a crescente desigualdade como o problema número um do país. Minutos depois, concluiu que o país deve apostar no mar.
Poucos observadores notaram a evidente contradição, sem dúvida porque entre nós não se exige coerência entre o diagnóstico e o propósito, nem se espera que ele se traduza em acção consistente. É por isso que qualquer emaranhado de lugares comuns e intenções piedosas é aceite como um diagnóstico válido. Excita mais a retórica, mesmo que nulamente fundamentada, ou seja, mesmo que permaneça misterioso o modo como as intenções anunciadas contribuirão para a resolução dos problemas de que padecemos.
Alguém que pouco depois subiu ao governo explicou-me um dia que essa minha insistência em pedir que objectivos e estratégias sejam deduzidos de uma análise aprofundada da situação releva de um vício positivista.’
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