- Quem viu Marcelo Rebelo de Sousa no domingo na TVI, não pôde deixar de apreciar a parte da sua missa em que lamentou e moralizou em torno dos números apresentados nesta notícia de sábado do Público, na qual se lê no primeiro parágrafo:
- “Em 50 anos, os portugueses mais do que duplicaram o seu tempo médio de permanência na escola, mas apesar deste salto Portugal continua a estar em penúltimo lugar entre os países da OCDE, mantendo assim a mesma posição relativa que ocupava em 1960, segundo confirmam dados da OCDE respeitantes a 2010 a que o PÚBLICO teve acesso.”
Mas que mistério, estes dados aparentemente secretos a que o Público “teve acesso”. Convém afirmar que de extraordinário não têm nada, tendo em conta que, à entrada para a década de 1970, o país procurava resolver um problema de dimensões catastróficas que a maioria dos países europeus já tinha resolvido há cerca de um século: o analfabetismo de cerca de 1/3 da população. Só a ignorância da história portuguesa do século XX, e do que o Estado Novo fez à educação, permite que se fique escandalizado com este números e com a importância ainda hoje assumida pela “transmissão intergeracional” das desigualdades educativas em Portugal.
Ignorância da história — mas também do presente. Porque, tivesse o Público consultado dados bem públicos, concluiria que o indicador da escolaridade média aplicado a toda a população é profundamente enganador. Como na anedota, a temperatura média de um indivíduo com a cabeça no forno e os pés no frigorífico pode ser de 37º, mas aquele estará morto.
Se o Público quer brincar às médias, poderia ter colocado o indicador várias vezes mobilizado pela OCDE da education expectancy, que indica a esperança média de vida no sistema educativo para uma criança aos 5 anos. Isso mesmo, esqueçam os bisavós analfabetos, por quem é responsável o Dr. Salazar, e atente-se na figura seguinte (retirada deste indicador, sendo a imagem reproduzida neste relatório - pág.41):
Portugal, embora ligeiramente abaixo da média do conjunto de países (17.4 para a OCDE; 17.6 para a UE-19), aparece no 15.º lugar em 32 países. Este valor significa que, à entrada do sistema de ensino, uma criança pode esperar lá passar 17,1 anos (o valor é calculado somando as taxas de escolarização para cada ano de idade, a partir dos 5 anos). Naturalmente, o desempenho dos alunos portugueses é de tal forma desigual (que este indicador não permite captar) que esta média esconde importantes assimetrias nacionais e sociais:
No entanto, é assinalável que Portugal apareça à frente de países como os EUA, a Suíça ou a França, e contraria a ideia de que o atraso português é algo de perene e inultrapassável (e atenção: os dados são de 2004, pelo que os mais recentes mostrariam seguramente uma valor mais elevado para Portugal).
Claro que estar à espera que o Prof. Marcelo consulte algumas estatísticas antes de emitir a sua opinião professoral é pedir de mais. Para a próxima, o melhor é que ele passe logo para o comentário à selecção. Ainda acaba a relatar os jogos de Portugal em directo.
4 comentários :
O Estado Novo que derrubou o Estado velho, que derrubou o Estado Novo e assim por diante.
Dá a ideia que só se perderam as que cairam no chão.
Andamos aqui às voltas tentando apanhar o próprio rabo!
O ministro Marcelo tinha reunido com a Brigada do reumático, este acabou de reunir com a brigada dos homosexuais, um caiu logo, logo...
Não conhecia este indicador que é extremamente interessante e que mostra a demagogia do Pastor Marcelo ao falar nos tais 50 anos.
Há muitas desigualdades no país e, claro, há muitas estatísticas e indicadores o que possibilita que qualquer demagogo pegue na estatística que lhe interessa e, geralmente, evitando compara-la com outros países, faça um escândalo com os números.
E swerá que metade das crianças de hoje com 5 anos irão chegar ao ensino superior?
Havia uma política do Estado Novo de facilitar a saida precoce da escola nas zonas cultiváveis.Havia produção.Agora vá lá mandar o pessoal com o 12º ano cavar batatas...
Enviar um comentário